ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, SEXTA  29    CAMPO GRANDE 23º

Cidades

Pesquisadores criam capacete que previne bebês de paralisia cerebral

João Humberto | 20/10/2014 09:00
Professores Marco Naka e Durval Palhares comandam pesquisa do capacete térmico (Fotos: João Garrigó)
Professores Marco Naka e Durval Palhares comandam pesquisa do capacete térmico (Fotos: João Garrigó)

Casos de paralisia cerebral em recém-nascidos poderão diminuir após a comercialização do capacete térmico (cool cap) que está sendo desenvolvido por pesquisadores do mestrado em Biotecnologia da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco). A tecnologia é portátil, pode ser colocada tranquilamente numa ambulância e deve ser utilizada nos bebês com baixa oxigenação no cérebro até seis horas após o parto, colaborando para a redução da atividade cerebral e diminuindo as sequelas no caso de falta de oxigenação.

A pesquisa é coordenada pelo professor Marco Hiroshi Naka, doutor em Biomecânica pela Universidade de Kyoto, e tem orientação clínica do médico e pós-doutor Durval Palhares, professor titular de Pediatria da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Ela vem sendo desenvolvida há quatro anos por alunos do mestrado em Biotecnologia e dos cursos de Engenharia Mecânica, Engenharia Mecatrônica e Engenharia da Computação da UCDB.

Durval relata que nos países de primeiro mundo, como os Estados Unidos, os capacetes térmicos são bastante grandes e não cabem em ambulâncias. Ele apresentou a ideia ao professor Naka e sugeriu uma tecnologia mais compacta, para facilitar o manuseio nos centros cirúrgicos, UTI neonatal e o transporte, além de um preço muito mais baixo que o convencional, vendido na faixa de US$ 85 mil dólares.

Naka conta que no primeiro ano de pesquisa propôs aos pesquisadores envolvidos um estudo aprimorado referente à termodinâmica para depois aplicar uma técnica inovadora. “Foi feita toda uma modelagem teórica e depois disso é que começamos realmente pensar num projeto físico. Como não existem muitos autores que abordam a termodinâmica craniana, a primeira parte foi bastante difícil, tivemos que nos esforçar muito. Agora o capacete já está praticamente pronto e estamos finalizando a escrita do projeto para submetê-lo ao depósito de patente”.

Para garantir ao capacete um resfriamento de 12 a 14 graus e fácil portabilidade, os pesquisadores se propuseram a trabalhar com o efeito Peltier, que ocorre em determinados materiais específicos. Marco Naka ressalta que as placas de Peltier cabem em notebooks e quando se aplica uma corrente sobre elas acaba sendo gerado resfriamento de um lado e aquecimento do outro.

Alunos manuseiam a tecnologia que é mais compacta que a desenvolvida nos Estados Unidos
Alunos manuseiam a tecnologia que é mais compacta que a desenvolvida nos Estados Unidos

Diferentemente do capacete desenvolvido por pesquisadores da UCDB, os capacetes convencionais usados nos Estados Unidos possuem um sistema de resfriamento líquido e precisam de bombeamento. Além disso, necessitam de um reservatório de água e uma mangueira acoplada ao capacete e que acaba envolvendo a cabeça do bebê. “O sistema de bombeamento garante o resfriamento da água”, detalha Naka.

Consumo metabólico – De acordo com Durval, o objetivo principal do capacete é diminuir o consumo metabólico do bebê. Ele explica que quando um recém-nascido apresenta falta de oxigenação no cérebro, certamente pode desenvolver sequelas como a paralisia cerebral. “Esse estado, logo ao nascimento, pode ser prognosticado por meio da Escala de Apgar, teste que revela o nível de asfixia. Abaixo de seis, por exemplo, já ocorrem alterações na vasculatura do sistema nervoso central. O bebê então pode apresentar contração dos vasos sanguíneos inicialmente e posteriormente a dilatação desses vasos, consumindo toda energia do cérebro e dando início às lesões permanentes”.

No entanto, antes que isso aconteça, há um período de intervenção que pode diminuir o metabolismo do bebê. “Esse capacete vai garantir justamente isso, mas só tem que ser colocado nesse recém-nascido num período bem precoce, antes das seis horas após seu nascimento. Às vezes a criança nasce com batimentos cardíacos abaixo de 100 e por isso apresenta baixa oxigenação por conta do consumo do estoque de energia do cérebro. Dependendo do tempo que ela estiver com asfixia, o prognóstico será pior, mas se houver intervenção com o capacete térmico, a situação pode ser outra”, frisa Durval.

Para diminuir o metabolismo através da hipotermia (quando a temperatura corporal do organismo cai abaixo do normal), é necessário um consumo baixo de energia. Só que para diminuir esse consumo e consequentemente as sequelas na prevenção da encefalopatia hipóxico-isquêmica (síndrome neurológica usualmente relacionada à asfixia perinatal, responsável por desencadear diversas alterações que culminam na lesão do sistema nervoso central), o capacete deve ser usado em até seis horas, depois disso não adianta mais.

Capacete térmico desenvolvido por pesquisadores da UCDB também será mais barato que o convencional
Capacete térmico desenvolvido por pesquisadores da UCDB também será mais barato que o convencional
Orientador clínico da pesquisa conta que o capacete deve ser colocado no bebê até 6 horas após nascimento.
Orientador clínico da pesquisa conta que o capacete deve ser colocado no bebê até 6 horas após nascimento.

O médico cita que o capacete deve ser usado em média, até três dias pela criança, tempo suficiente da fase crítica em que pode apresentar alteração vascular e de fluxo sanguíneo cerebral. “Os capacetes podem ser disponibilizados em hospitais, ambulâncias e em lugares estratégicos para garantir a hipotermia. Com certeza é uma pesquisa muito benéfica”, conclui Durval, relatando que agora o capacete precisa ser aprovado por um comitê de ética da UCDB ou da UFMS, que deve emitir parecer informando que a tecnologia não é agressiva aos bebês com melhor prognóstico e na prevenção da encefalopatia hipóxico-isquêmica.

O projeto conta com apoio financeiro da UCDB desde o início e também já recebeu recursos da Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul). Quinze alunos entre graduandos e mestrandos já trabalharam nele, inclusive recebendo bolsas.

Nos siga no Google Notícias