Resgate da dignidade que vale prêmio: MST vence projeto por construir casas
A cada tijolo colocado se iniciava a contagem regressiva para famílias assentadas trocarem barracos por casas de concreto. A vontade de construir um lar a base de cimento foi o que premiou o MST de Mato Grosso do Sul na categoria Centro-Oeste da Fundação Banco do Brasil, no final do mês passado.
Dos mais de mil projetos inscritos, as casas de concreto de 70m² feitas com pouco mais de R$ 15 mil e erguidas pelos próprios integrantes do Movimento, foi o projeto finalista premiado com R$ 80 mil.
O incentivo vem do programa Crédito Habitacional do Incra e a disposição do Movimento mesmo. Dos braços dos trabalhadores o modelo de casa com três quartos, uma sala, varanda, cozinha e banheiro saiu do papel.
O preço da casa saiu por menos de 1/3 do normal, calculando a média de R$ 800 para cada metro quadrado. Mas não foi nem o baixo custo que levou o Movimento de Mato Grosso do Sul ao topo. Segundo a coordenadora do MST, Fátima Vieira, entre os critérios está a iniciativa de envolver a comunidade, capacidade de reaplicação e mobilização social.
Das 3,7 mil famílias assentadas, 65% delas já foram beneficiadas pela construção de lares. “É a tecnologia aplicada na organização do trabalho da construção”, comenta.
Os materiais saem a partir de uma tomada de preço, a empresa que fizer mais barato, leva e só. Os gastos param aí, já que a mão-de-obra vem de mutirões.
“A aplicação da tecnologia é simples. O segredo é deixar a família construir sua casa, seus sonhos”, completa Fátima.
A participação, de início, não levava a crer que o MST do Estado levaria o primeiro lugar. “Nos inscrevemos sem muitas expectativas”, acrescentou a coordenadora.
O dinheiro do prêmio ainda não chegou às mãos do Movimento. Primeiro será feito um planejamento para onde será empregado. Segundo Fátima pode ser no fortalecimento do projeto e capacitação de pessoas.
Na tarde desta quinta-feira, a superintendência do Incra ficou lotada para ver os parceiros do projeto serem premiados de forma simbólica. Entre eles representantes do Banco do Brasil, Caixa Econômica e Aesca (Associação Estadual de Cooperação Agrícola).
A premiação trouxe saudade. Em certo momento, o irmão de um dos militantes mais ativos do órgão, Egídio Brunetto, teve a palavra. As cenas que se seguiram foi de choro de quem sempre teve ele como exemplo e agora dedica o prêmio ao trabalho do militante, morto no último dia 28, em decorrência de um acidente.
Nas cadeiras assentados que são o exemplo da força do projeto. Há dois anos com casa de cimento e água, Ronildo Lopes contou em poucas palavras um pouco de sua história.
Integrante do MST há seis anos, ele é do assentamento de Nova Alvorada do Sul e não nega a felicidade de ter trocado lona e folhas de coqueiro por uma casa de tijolo.
“É a realização de um sonho, não tem nada que tire isso, uma conquista da dignidade”, resume.