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Em Pauta

Não era um pássaro, nem um avião. Mas onde foi parar?

Mário Sérgio Lorenzetto | 15/01/2015 07:45
Não era um pássaro, nem um avião. Mas onde foi parar?

Onde foi parar o drone que protegeria nossas fronteiras?

Não era um pássaro, nem um avião, muito menos um super-herói. Era para ser os olhos e ouvidos dos agentes de segurança (poucos) que são encarregados de fiscalizar nossas fronteiras para conter o tráfico de drogas e de armas principalmente. Nos primeiros meses de 2011 o governo federal lançou uma extensa propaganda afirmando que dois drones (eram denominados Vant), que haviam sido adquiridos de Israel, aumentariam a segurança de nossas fronteiras.

Passados anos surge uma nova propaganda - a Avibras (companhia brasileira que projeta, desenvolve e fabrica produtos de defesa) produziria um drone denominado Falcão, que era descrito como um avião não tripulado com autonomia de voo de 16 horas e com capacidade de carregar até 160 quilos. Uma maravilha de nossa capacidade tecnológica. Só resta um problema: onde foram parar os drones israelenses? E o Falcão? Gato deu uma patada e abocanhou?

Não era um pássaro, nem um avião. Mas onde foi parar?
Não era um pássaro, nem um avião. Mas onde foi parar?

O sistema de planejamento e finanças da Secretaria de Fazenda é um dos mais modernos do país

A transparência na aplicação dos recursos públicos é obrigação dos governos e direito do cidadão. Pela sua dimensão e complexidade, essa é uma tarefa hercúlea e muito difícil de ser executada. A modernidade das ferramentas para conseguir esses resultados acaba de ser instalada na Secretaria de Fazenda.

No primeiro dia de 2015 o Sistema de Planejamento e Financeiro (SPF) entrou em funcionamento. Foram mais de seis anos de trabalho para que esse instrumento público pudesse funcionar. Apenas os governos do Pernambuco e do vizinho Mato Grosso dispunham de sistemas computacionais eficientes. A primeira ideia foi a de suas cópias serem adquiridas. Eram caros e o governo do estado se tornaria refém dos proprietários. A opção foi pelo desenvolvimento feito técnicos da própria secretaria.

A quase totalidade dos estados e municípios brasileiros adotam o Siafem, um banco de dados que não é um sistema propriamente dito por não ter inteligência alguma. O Siafem nasceu no governo de FHC após a criação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). É o avô da computação dos dados de planejamento e financeiros nos órgãos públicos. O SPF começa a remeter o governo do estado do Mato Grosso do Sul ao mundo contemporâneo e sai da época dos antigos bancos de dados.

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As remotas origens das bombas dos extremistas mulçumanos

O ancestral mais remoto das desavenças entre europeus e povos do Oriente Médio está na disputa travada entre gregos e persas. Uma das primeiras matérias da escrita grega foi a guerra contra a Pérsia que levou à diferenciação entre os valores praticados entre a Europa e o Oriente Médio. As consequências são profundas para a história política e intelectual a partir de então.

Essas duas partes do mundo nunca mais se uniram ou se somaram.
Para os gregos, os persas eram "bárbaros" (quem assistiu o filme "Os 300 de Esparta" pode ter uma breve noção) caracterizados pelo uso da tirania em vez da democracia. Este é apenas um julgamento etnocêntrico, eivado por intolerância de todos os lados, alimentado pela guerra entre gregos e persas. Por exemplo, o suposto declínio do Império Persa no reino de Xerxes, por volta de 485 antes de Cristo, decorre apenas de uma construção de ideias gregas. Essa interpretação não surgiu de documentos originários de Persépolis (capital persa), nem da Babilônia (outro centro político-cultural relevante da época) e muito menos do Egito e mais, está muito distante de qualquer evidência arqueológica.

Na verdade, os persas eram tão "civilizados" quanto os gregos. E foram eles que construíram os caminhos pelos quais o conhecimento, vindo das sociedades literárias do Oriente Médio antigo, foi transmitido aos gregos. No curto espaço de tempo em que os gregos se tornaram o "centro" dos conhecimentos, uma grande carga saiu do Vale do Rio Vermelho da China, outra parte saiu da cultura harappan no norte da Índia, na Mesopotâmia, no Egito e no Leste da Europa. Ocorreu um enorme desenvolvimento paralelo por toda parte nessa vasta região e houve comunicação com os gregos. Esse é um pedaço da Revolução Urbana que precisa ser melhor compreendido para que cessem os ódios e se persistirem - que cessem as bombas. Os gregos não foram uma civilização superior e nem os persas foram inferiores, apenas cada um, em seu devido tempo, soube concentrar os conhecimentos de muitos povos. Os europeus não são superiores e nem os povos orientais são inferiores ou extremistas.

Não era um pássaro, nem um avião. Mas onde foi parar?
Não era um pássaro, nem um avião. Mas onde foi parar?

O que está no centro da nova crise entre Ocidente e Oriente é a intolerância

Um dos principais fatores da nova crise deflagrada na França é o etnocentrismo. É o típico comportamento de um grupo de pessoas que tem os mesmos hábitos e julgam-se superiores por causa de sua condição social, sua riqueza, por diferentes hábitos ou manias e até por uma forma de se vestir. Pode-se resumir em uma só palavra - preconceito.

Todas as sociedades humanas exibem um certo etnocentrismo. Foi uma característica de gregos e romanos e se perpetuou. O etnocentrismo, do qual o eurocentrismo (a Europa no centro de tudo) e o Orientalismo (o Oriente como centro do mundo) são variantes, está por toda parte. Os navajos, norte americanos, que se autodenominam "o povo", possuem também tendência etnocêntrica. O mesmo é permitido pensar dos nossos afamados e idolatrados guaicurus, assim como dos judeus, dos árabes ou dos chineses. Até há pouco tempo esse comportamento era típico dos argentinos.

Sim, há variações de intensidade, mas o etnocentrismo é um fenômeno muito mais geral. Os gregos antigos odiavam os povos do Oriente Médio, em particular os persas. Os romanos discriminavam os judeus. As razões variam. Os judeus baseiam-se em argumentos religiosos, os romanos priorizavam a proximidade com sua capital e civilização. A Europa atual é uma das regiões onde o etnocentrismo é mais forte e justifica-se pelo seu sucesso no século XIX.

O etnocentrismo europeu é tamanho que criaram a ideia de que foram eles quem criaram a democracia, a liberdade, o capitalismo de mercado e, pasmem, o amor. E isso não é bem assim, não é tão fácil de entender. Mas também se pode afirmar que não foram os europeus a inventarem o etnocentrismo.
Pelo final do século XVIII, com a Revolução Industrial, a Europa alcançou o domínio econômico mundial. No contexto da dominação, o etnocentrismo assume um aspecto mais agressivo. "Outra raça" passa a ser automaticamente sinônimo de "raça inferior" e o ensino por lá desenvolvido sedimentou essas ideias, criou justificativas para a "superioridade dos europeus". A superioridade dos europeus era determinada por Deus, o Deus cristão assim determinara. Muitos ainda acreditam nisso.

O que ocorreu foi o desenvolvimento de muitas sociedades no planeta. Foi construído um quadro mais amplo de muitas interações e principalmente de uma enorme evolução em todos os continentes, inclusive dos povos do Oriente Médio. A Europa não só tem negligenciado ou representado mal a história do restante do mundo, mas também têm imposto seus conceitos comprometendo nossa compreensão da Ásia, da África e até de nós mesmos. Mas essas questões têm de ser esgrimidas com as canetas e jamais com as armas. A violência e a covardia não podem se esconder sob as calças ou saias de qualquer religião ou cultura. Qualquer embate no campo das ideias pode abrir novos horizontes e propiciar melhorias para a humanidade; é falsa a concepção de que somente com assassinatos o mundo despertará para o reconhecimento do etnocentrismo, pelo contrário, tenderá ainda mais para essa vertente.

Não era um pássaro, nem um avião. Mas onde foi parar?
Não era um pássaro, nem um avião. Mas onde foi parar?

Inglaterra ameaça proibir o WhatsApp por causa dos ataques na França

O ataque à redação francesa do Charlie Hebdo foi o mote para o Primeiro-Ministro britânico ameaçar a existência do WhatsApp naquele país. Ele justifica que a vigilância de cartas e conversas telefônicas fazem parte das técnicas de segurança mais comuns. O problema apresentado por ele é que, enquanto um mandado judicial pode dar acesso a essas formas de comunicação, as mensagens do conhecido aplicativo são inacessíveis (encriptadas). "Vamos permitir um meio de comunicação que é simplesmente impossível de ler? Questionou David Cameron, o Primeiro-Ministro. " A minha resposta a essa pergunta é: não, não devemos" concluiu.

Talvez seja apenas um momento de emoção e preocupação extremadas, mas se o mundo ocidental cobra dos extremistas mulçumanos a existência da liberdade de expressão (que era a maior defesa do Charlie Hebdo), será que não devemos ter o direito à liberdade de comunicação? Claro que assassinatos com qualquer roupagem devem ser cerceados, mas erigir tecnologia como culpada ou cúmplice é uma atitude estranha para um país defensor das causas libertárias.

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