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Em Pauta

Nunca desenvolva uma ação durante a raiva. Relaxe, respire, controle-se

Mário Sérgio Lorenzetto | 11/07/2015 07:04
Nunca desenvolva uma ação durante a raiva. Relaxe, respire, controle-se

A raiva pode ser devastadora. Nunca na raiva.

Um motorista irado saca de sua pistola e mata uma criança. Um assaltante esfaqueia o rapaz que não tinha dinheiro. São casos comuns de raiva devastadora. Também existem os acessos de raiva de cunho político - os atos terroristas estão recobertos de raiva. E para desconsolo de muitos, xingar governantes por seus erros e mal feitos entram no mesmo cotejamento. O fato é que, em variados níveis, a raiva pode ser devastadora. Isso nos leva a considerar a importância de conseguir alguma regulação de seus picos mais sombrios. Em última instância, controlar a raiva constituiu necessidade vital para a sobrevivência do humano (imagine o apertar de botões que disparam as bombas atômicas).

Como é possível regular as próprias emoções é uma questão que há muito tempo vem provocando dor de cabeça nos estudiosos. O conceito de recalque, o de que sentimentos muito dolorosos ficam exilados em nosso inconsciente foi introduzido por Freud. Mas a energia própria das nossas raivas precisa de escape - como numa panela de pressão - e acaba se manifestando na forma de sintomas que aparecem como perturbações mentais e físicas. Essas ideias dominam o Ocidente, apesar de não serem aceitas por muitos por um motivo muito simples - quando os cientistas a levaram à experimentação, elas não se sustentaram, caíram por terra.

Ao que tudo indica há um forte componente social no controle da raiva. Monges que praticam a meditação são um bom exemplo dessa capacidade de controle. E tem mais novidade na área - outras culturas recentemente estudadas estão demonstrando que o controle da raiva pode ser aprendido em sociedade. Entre um grupo de inuits (esquimós) chamados de "utkus", os conflitos são uma raridade. A manifestação de emoções negativas, como irritação e raiva, é extremamente malvista. Até mesmo os bebês eram ignorados pelos utkus quando começavam a berrar. Adultos que, furiosos, levantassem a voz eram tidos ou por idiotas ou um perigo para a comunidade. As pesquisas mais recentes estão corroborando essa hipótese de que os valores e as concepções culturais contribuem para moldar o controle da raiva.

Comparem, por exemplo, as posturas dos brasileiros e japoneses com as emoções. Os padrões asiáticos determinam ao indivíduo um controle emocional mais rígido do que os brasileiros assumem. Os brasileiros são como os demais ocidentais, avaliam negativamente o controle dos próprios sentimentos. Enxergam esse controle como um engodo, uma dissimulação. Muitos ainda acreditam na antiga hipótese de que esse controle causa doenças físicas. Os japoneses, por sua vez, são de opinião diferente. Para eles, um estado de espírito equilibrado é sinal tanto de saúde física e mental como de contentamento. Entenda o controle da raiva como for, mas basta um pequeno exercício para se acalmar: respire profundamente, repita calmamente a palavra "relaxe", visualize um lugar relaxante na natureza, tome um copo de água, amarre os sapatos, conte até dez, lave o rosto com água fria, fale baixo, evite palavras como "nunca mais". Só há um nunca que é aceitável - o "nunca na raiva". Nunca desenvolva uma ação durante a raiva. É fácil.

Nunca desenvolva uma ação durante a raiva. Relaxe, respire, controle-se
Nunca desenvolva uma ação durante a raiva. Relaxe, respire, controle-se

A divisão do trabalho já era realizada pelos egípcios.

Platão, o filósofo grego, elogiava os egípcios, aos quais parece dever muitos de seus conhecimentos. Eles praticavam a divisão do trabalho e previram sua importância, um dos pilares, aliás, da nossa economia moderna. Os egípcios, para Platão, são dignos de louvor por terem confiado o mesmo trabalho a um mesmo trabalhador, o que o tornaria mais hábil: "As coisas caminhariam melhor se apenas um homem fizesse o ofício de muitos, ou ao contrário, se cada um limitasse a fazer o seu próprio? Certamente se cada um se limitasse ao seu próprio". Pode parecer surpreendente, mas a superioridade do trabalho dividido em parcelas surgiu há milênios e não com a Revolução Industrial ou com o fordismo como querem fazer parecer alguns. O que egípcios e gregos não poderiam prever é que a divisão do trabalho alcançaria depois, nos tempos modernos, uma complexidade tão grande, ao ponto de fragmentar até mesmo a personalidade do próprio homem - aliená-lo.

Nunca desenvolva uma ação durante a raiva. Relaxe, respire, controle-se
Nunca desenvolva uma ação durante a raiva. Relaxe, respire, controle-se

Chuveiro de rodinhas e outros instrumentos perturbadores para a higiene.

Se há algo que o brasileiro se vangloria é o de sermos um povo que toma muito banho quando nos comparamos com os europeus. É um antigo debate. É aconselhável nos banharmos duas ou três vezes ao dia? Os europeus são sujos por tomarem banho duas ou três vezes por semana? A verdade é que cada povo tem suas necessidades específicas surgidas em função do clima e dos costumes.

O chuveiro moderno foi inventado por William Feetham, em 1767. Curiosamente, algumas versões tinham rodinhas, ou seja, o usuário tinha de ter cuidado para não sair andando sobre o que era um "skate molhado".
Cem anos depois, surgiu outro aparelho bizarro - o velodouche. Era um chuveiro que só expelia água se a pessoa pedalasse uma bicicleta semelhante às atuais ergométricas. Mas, os banhos remontam à Idade do Bronze. Um povo do atual Paquistão - os harappanos - criaram uma longa e complexa infraestrutura de saneamento público. Por incrível que possa parecer, essa infraestrutura se manteve insuperável até o século XIX. Embora os romanos sejam cantados em prosa e verso como um povo com infraestrutura de banhos eficientes, os harappanos enviavam água corrente para quase todas suas casas 2.500 anos antes de surgir a "civilizada Roma".

Todavia, a higiene não é constituída somente por banhos. O vaso com descarga só foi projetado em 1590 por um parente da rainha da Inglaterra. Sir John Harrington estava preocupado com suas poesias e não comercializou a sua invenção. Foi apenas com a chegada do vaso com descarga de Josias George Jennings na Exposição de 1851 que as pessoas começaram a abandonar o penico para aderir ao encanamento. Enquanto isso, no Brasil, continuavam usando musgos e folhas para realizar a higiene. A esposa de D.Pedro I, Maria Leopoldina da Áustria, ao chegar ao nosso país, escreveu escandalizada sobre o costume do povo, e dos nobres, de fazer suas necessidades atrás das árvores e usando folhas para a limpeza. Mais perturbador ainda era em Roma, os sanitários eram equipados com uma esponja, fixada na extremidade de um bastão, que era usada por sucessivos visitantes. Mas quem inventou o papel higiênico foram os chineses no século IX. Foram 1.000 anos para o papel higiênicos aparecer no Ocidente.

Nunca desenvolva uma ação durante a raiva. Relaxe, respire, controle-se
Nunca desenvolva uma ação durante a raiva. Relaxe, respire, controle-se

As "távolas caldas", as mesas quentes e compartilhadas. Juntando a fome com a vontade de conversar.

A moda ainda não atingiu todo o Brasil, chegou apenas em São Paulo, mas na Itália e Estados Unidos, pouco a pouco, tornou-se um tsunami. Está tomando conta de todos os restaurantes, do mais proletário ao mais luxuoso. São democráticos restaurantes com mesa compartilhada, nos quais o cliente paga para comer e conversar com desconhecidos. Surgiram como efeito colateral da recessão que passou a exigir a maior ocupação de espaços possível, onde havia uma mesa pequena para 4 pessoas, colocaram uma mesa grande para 8 pessoas. Também apareceram devido à solidão; há uma abundância de norte-americanos e italianos solteiros e sozinhos.

É uma experiência para a se pensar. Nos auto glorificamos com a aura de um povo simpático e afável. Não é bem assim. Temos o costume de nos sentarmos com familiares, amigos ou sozinhos. Talvez uma ou duas mesas democráticas, comunitárias, em nossos restaurantes sirva para começarmos a compartilhar amigavelmente nossas refeições e vida.

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