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Finanças & Investimentos

Se você só olha para o que não tem, nunca terá o suficiente

Por Emanuel Gutierrez Steffen (*) | 28/10/2016 08:30

Ontem, enquanto navegava na página principal do Facebook, me deparei com uma postagem que fazia menção a uma frase dita por Oprah Winfrey: “Se você olha para o que você tem na vida, você sempre terá mais. Se você olha para o que você não tem na vida, você nunca terá o suficiente”. Fiquei refletindo nisso por alguns minutos, e viajei pelos meus pensamentos. Busquei minhas mais remotas lembranças, e consegui ver alguns flashes de momentos marcantes de quando eu tinha uns 4 ou 5 anos. Então, de lá para cá, fui tentando montar uma linha do tempo com as experiências vividas. Encontrei muitos momentos alegres da infância, quando brincava livre pelas ruas do bairro com meus amigos. Apesar de já ter morado por cerca de 20 anos em grandes cidades, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro, hoje vivo na mesma cidade onde passei minha infância, a pequena Itajubá, no Sul de MG, com seus 90 mil habitantes.

Entenda meu conceito de riqueza: eu era saudável física e mentalmente, tinha uma família estável, tinha amigos muito divertidos, morávamos numa casa que era suficiente para nos abrigar com conforto e alguma segurança, e tínhamos um Corcel (daqueles beges) que era espetacular! O tempo foi passando e inocência infantil foi dando lugar a um adolescente chato. Comecei a dar mais atenção às propagandas da TV, e a me comparar com os outros colegas. Eu gostava de meninas que por sua vez gostavam dos garotos que tinham mais posses do que eu. Rapidamente comecei a dar mais valor ao “ter” do que ao “ser”, e então passei a aborrecer meus pais com meus desejos fúteis. Tinha uma boa bicicleta, mas queria uma melhor. Vestia boas roupas, mas queria aquelas de marcas famosas. Tinha uma mochila confortável, mas queria uma mais “descolada”. E para piorar a situação, minha mãe, que me protegia demasiadamente, várias vezes se esforçou ao extremo para suprir minhas vontades descabidas, e sem deixar meu pai perceber. Afinal, ele era bem mais sensato neste quesito.

De lá até a fase adulta tudo aconteceu rápido. Eu continuei contaminado com a doença do “ter” para poder “ser”. Levei comigo uma boa dose de responsabilidade e integridade, que foram ensinadas “a fórceps” pelo meu pai. Gostava ainda de me comunicar, ajudar e estar entre as pessoas. Estas foram as heranças de minha mãe. Com todas as minhas crenças formadas, e com aquele apetite pelo sucesso, corri na vida, usando os estudos, que também ganhei de meus pais. Comecei a gerar minha renda. A carreira de engenheiro foi evoluindo, mas aqueles valores distorcidos da adolescência continuavam presentes. O carro era bom, mas mal terminava de pagá-lo e já queria trocar por outro melhor. Meu primeiro apartamento era espetacular! Com seus 60 metros quadrados e 2,5 quartos (um era tão pequeno que valia por meio), era mais do que suficiente para um casal morar. Mas enquanto eu dava meus pulos para acelerar o pagamento das parcelas do financiamento, já costumava visitar os stands de lançamento de outros empreendimentos. Já estava em busca daquela que seria a minha próxima moradia.

Muitas vezes atribuía uma expressão de desprezo em relação aos bens que possuía: “aquela porcaria de apartamento pega o sol da tarde e vira uma estufa… Aquela tranqueira de carro tem um porta-malas que não vale nada…”. E sempre de olho na “grama do vizinho de cima”, afinal, as comparações que fazemos (na maioria das vezes) ocorre com aqueles que têm mais do que nós. Naquela altura da vida eu era um adulto pobre. Entenda meu conceito de pobreza: eu tinha um apartamento quitado, um carro novo na garagem, uma boa renda mensal, ficava distante da família, tinha um casamento na “corda bamba”, era um marido azedo, tinha uns poucos amigos, e pouquíssimo tempo para desfrutar a vida.

Não foi uma tarefa fácil “quebrar” os velhos conceitos que atrapalhavam vários aspectos da minha vida, inclusive as finanças. Eu era um bom poupador, mas um péssimo investidor. Não adquiria o que era bom para mim, mas sim o que era bom aos olhos da sociedade. Eu me esforçava para comprar status, embora em minha essência, fosse uma pessoa simples. Eu traia a quem eu mais amava: eu mesmo. Precisei levar muitas pancadas da vida para amolecer a minha cabeça dura. Duas delas foram fortes: sepultar minha mãe e também um casamento (junto com metade de tudo o que tinha construído de patrimônio). Quando o sujeito é juvenil na área emocional, não há dinheiro que o sirva. Foram 12 meses de “luto”, para eu tentar entender o que estava errado. Depois desse tempo desisti de querer entender, e resolvi tocar a vida de novo.

Tinha ouvido que as pessoas não fracassam, elas desistem. Então melhor recomeçar logo para não perder tempo. Dessa vez ia ser diferente. Chega de me preocupar com o que os outros pensavam de mim. Comecei a focar o uso dos recursos que possuía para melhorar a minha qualidade de vida. É para isso que o dinheiro serve. É um instrumento para deixar nossa vida mais confortável e prazerosa, nesse mundo louco. Aluguei um pequeno apartamento próximo de onde trabalhava, comprei um carro usado que era suficiente para suprir minhas necessidades de deslocamento, e comecei a estudar mais sobre finanças pessoais e empreendedorismo. Conheci uma mulher bonita e divertida, numa situação não planejada, que se interessou pelo o que eu era (e não pelo o que eu tinha), pois a última coisa com a qual eu me parecia naquela ocasião era com o que alguns chamam de “um bom partido”. Casamos, tivemos um filho, e estamos aqui, vivendo uma vida agradável no interior, e buscando utilizar nossos recursos financeiros para aquelas coisas que fazem mais sentido para nós, sem nos preocuparmos com o que os outros pensam.

Às vezes erramos, noutras acertamos, pois continuamos sendo seres emocionais, e sendo assim, sujeitos a distorcermos a razão quando o assunto envolve dinheiro. Mas quando isso acontece, buscamos corrigir logo a rota para evitar a repetição de velhos equívocos. Errar uma vez tudo bem, mas repetir já é tolice. Esse capítulo da minha história acaba por aqui, mas gostaria de deixar ainda algumas reflexões:

● O dinheiro tem um impacto profundo em nossas vidas. Não conseguimos fazer praticamente nada sem ele. Portanto, é sábio aprendermos a lidar com ele o quanto antes.
● Se você não aprender a domar o seu dinheiro, ele fatalmente irá domar você, e como sabemos, ele é um ótimo servo, mas um péssimo senhor.
● O dinheiro é um instrumento para você comprar qualidade de vida, e esta última é subjetiva. Portanto não traia os seus valores. Use o dinheiro para comprar aquilo que faz sentido para você, e não para os outros.
● Educação financeira não é sinônimo de aprender a ficar rico (embora sirva para isso também). É você usar o seu dinheiro de forma equilibrada, gastando menos do que você ganha, poupando e investindo para alcançar os seus objetivos específicos de vida.
● Dinheiro compra sim felicidade, pois proporciona experiências marcantes e prazerosas ao longo da vida; mas isso só fará sentido se você incluir nestas experiências aquelas pessoas que você ama de verdade.
● Por fim, volto ao pensamento do início deste texto, como dica final e com outras palavras: aprenda a ser uma pessoa agradecida por tudo o que você já recebeu ou conquistou com seu trabalho. Você pode não ter tudo o que deseja, mas é bem provável que já tenha muito mais do que precisa.

Desejo de coração que tudo vá bem para você! Precisamos resgatar mais a essência da vida e seus prazeres simples. Um grande abraço e até a próxima!

Fonte: Giovanni Coutinho/Dinheirama.com
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(*) Emanuel Gutierrez Steffen é criador do portal www.mayel.com.br

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