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Arquitetura

Na 15 de Novembro, casa construída há 50 anos guarda história de amor

Aline Araújo | 10/08/2015 06:12
A casa foi pintada há dois meses mar mantém arquitetura original. (Foto: Marcos Ermínio)
A casa foi pintada há dois meses mar mantém arquitetura original. (Foto: Marcos Ermínio)

A casa foi recém pintada, há pouco mais de dois meses, mas conserva a cor e toda a arquitetura originais de 50 anos atrás. O dia exato da conclusão da obra, Marcelina Cardoso do Espirito Santo, de 88 anos, não recorda. Mas o tempo e as histórias ali vividas não deixam dúvidas de que nada paga uma mudança de endereço. Mesmo que o imóvel fique hoje em área valorizada, Marcelina quer morrer ali na casa simples, mas construída pelo marido.

“Na época não tinha nem poste de luz, aqui era tudo mato. Eu lembro que a boiada passava ai na frente e a gente saia para olhar. Tinha vez que a vaca sentava no portão. Mas a minha memória já não é mais a mesma hoje”, comenta, e solta um sorriso. Hoje a casa tem grades, mas mesmo assim se destaca na paisagem central. 

Julina aos 88 anos relembra história do lugar. (Foto: Marcos Ermínio)
Julina aos 88 anos relembra história do lugar. (Foto: Marcos Ermínio)

Ninguém conhece Marcelina pelo nome, ela carrega o apelido de Julina desde a infância. Aos dez anos, conta que escutou uma voz quando brincava de terra em um parquinho. "Nesse dia fui presenteada pelo dom da reza e virei benzedeira", lembra.

A casa foi construída pelas mãos de Armando Espirito Santo, esposo de dona Julina, que faleceu há um ano e meio, aos 90 anos. A história da casa, que já embalou a brincadeira de dez netos e as histórias de infância e adolescência de oito filhos, começa quando o casal se conheceu, e com um toque de ousadia.

Tudo começou em Ponta Porã na década de 40. Armando mudou-se para a cidade no interior do Estado para servir ao Exército Brasileiro, e em uma de suas passeadas seus olhares cruzaram com os de Julina, que na época era noiva de um tenente do exército. A troca de olhares entre os dois foi só começo.

O irmão de Julina era tenente do Exército e foi transferido para Campo Grande. Decidiu chamar a família para ficar por perto. Quando todos mudaram para cá adivinhe quem era o vizinho na nova morada? Isso! Arnaldo.

Julina e Armando. (Foto: Marcos Ermínio)
Julina e Armando. (Foto: Marcos Ermínio)

Depois de muita conversa, o noivado com o tal tenente de Ponta Porã virou lenda e o casamento dos dois não demorou para ser assinado no papel.

O casal teve os três primeiros filhos em uma casa alugada, até Armando comprar o terreno onde hoje é a 15 de Novembro. Ele mesmo construiu cada detalhe da casa, do jeito que ele queria, e foi melhorando com o passar dos anos.

“Meu pai construiu tudo com muito esforço e suor. Fez com as próprias mãos. Cuidou de tudo aqui, se ele tivesse aqui hoje, poderia te contar muitas histórias”, comenta outro Armando, um dos filhos de dona Julina, que herdou o nome do pai.

A casa nunca está vazia, ela sempre está cheia de filhos e netos. Alguns, inclusive, moram ali com ela, e os que não moram sempre estão por ali para dar e receber o carinho da avó.

Muitos detalhes foram preservados, como os lustres, comprados assim que a casa passou a ter luz. (Foto: Marcos Ermínio)
Muitos detalhes foram preservados, como os lustres, comprados assim que a casa passou a ter luz. (Foto: Marcos Ermínio)
A sala tem fotos na parede. (Foto: Marcos Ermínio)
A sala tem fotos na parede. (Foto: Marcos Ermínio)
Uma foto com os netos. (Foto: Arquivo pessoal)
Uma foto com os netos. (Foto: Arquivo pessoal)

Hoje o que ela faz mais é conversar. Carrega uma amizade de 57 anos com Sônia Moares, de 69 anos de idade.

“Conheci a Julina quando eu tinha 12 anos, a gente morava perto e nossa amizade continua até hoje”, diz a amiga.

Julina sempre gostou muito de crochê, mas de uns tempos para cá falta firmeza nas mãos para os pontos e ela conta de demora um pouco mais.

A casa é muito bem cuidada. Fora o piso que já foi trocado, tudo mais é original, escolhido por Armando e Julina. Na varanda e na sala, as lâmpadas ficam dentro de luminárias bem antigas.

Na parede, fotos de quando o casal ainda era bem jovem, enfeitam a casa. São três quartos para abrigar todo mundo que passa por ali.

A porta de madeira é outro item que se destaca. Por onde a gente lança um olhar pela casa, sempre haverá um detalhe para chamar atenção.

Julina lembra que o Lado B não é o primeiro a ter curiosidade sobre a casa. “Não sei porque, mas sempre vejo a pessoa parada do outro lado da rua tirando foto. Deve ser porque a casa é antiga né?”, concordo com ela, e me despeço com um abraço e agradeço a oportunidade de conhecer um pouco mais da sua história.

Na 15 de Novembro, casa construída há 50 anos guarda história de amor
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