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Artes

Nem a poesia de Manoel de Barros salva as pichações da ira dos donos de muros

Naiane Mesquita | 19/09/2015 07:23
Trecho de poema de Mario Quintana propõe reflexão na Praça Portugal em frente ao Estoril (Gerson Walber)
Trecho de poema de Mario Quintana propõe reflexão na Praça Portugal em frente ao Estoril (Gerson Walber)

“Borboletas são cores que voam” - Manoel de Barros
“Eles passarão, eu passarinho” - Mario Quintana

Em pontos diferentes de Campo Grande, os trechos dos poemas de dois grandes escritores brasileiros se destacam. As pichações cheias de literatura costumam embelezar a estrada de quem cruza a cidade por vezes com pressa ou a cabeça cheia. Mas, para quem defende a propriedade, nem com toda a boa intenção, a tinta é válida.

Em um estabelecimento comercial a frase de Manoel de Barros
Em um estabelecimento comercial a frase de Manoel de Barros
Apesar da beleza do poema, a pichação não foi aprovada pelos funcionários
Apesar da beleza do poema, a pichação não foi aprovada pelos funcionários

A gerente da Copiadora D'casa, Marisa Sauer, 48 anos, afirma que apesar de ser uma frase bonita, a pichação fere o direito à propriedade. “Ela foi feita no feriado, o dono que está viajando ainda nem viu. Eu acredito que mesmo com a intenção é um bem particular e foi feita sem autorização”, afirma.

O estabelecimento fica na esquina da Pedro Celestino com a 7 de setembro. O muro que foi pintado de verde, agora tem uma frase de Manoel de Barros como parte da decoração. “Não é um ambiente público. Não acredito que seja certo”, diz Marisa.

A defesa da gerente que de o ambiente privado deve ser preservado também é compartilhado pelas moradoras Lenir e Letícia Ramos, mãe e filha, que caminhavam na ponte da avenida da avenida Antônio Maria Coelho com a Calógeras. Mas, nesse caso, as duas defenderam que nem mesmo o espaço público deve ser alvo das pichações. “Quando é um grafite eu acho legal, mas tem que ter a autorização”, acredita Letícia.

Mensagem faz parte do grafite na Antônio Maria Coelho...
Mensagem faz parte do grafite na Antônio Maria Coelho...
Nesse caso, o proprietário do estabelecimento, Gilmar Alves aprovou o trabalho
Nesse caso, o proprietário do estabelecimento, Gilmar Alves aprovou o trabalho

Embaixo da passarela de pedestres, onde já foi o caminho do trem, uma frase se destaca: quanto vale a sua liberdade?. “Por mais que seja de reflexão eu acho fica feio. Acho que não tem nada a ver”, acredita Lenir.

Enquanto uns criticam a arte das ruas, alguns estabelecimentos procuram outros caminhos para driblar as pichações sem autorização. Na mesma rua, Antônio Maria Coelho, o proprietário de um Martelinho de Ouro viu nos grafiteiros a única saída para evitar as pichações não autorizadas. “Eu sempre pintava o muro e alguns dias depois estava tudo pichado. Um dia, um grafiteiro passou aqui e ofereceu o serviço, disse que se eu deixasse nunca mais ninguém picharia por cima. Deu certo”, comemora Gilmar Alves.

Na ponte da avenida Antônio Maria Coelho, as pichações já fazem parte da paisagem
Na ponte da avenida Antônio Maria Coelho, as pichações já fazem parte da paisagem
A frase provoca a reflexão de quem passa em uma região histórica de Campo Grande
A frase provoca a reflexão de quem passa em uma região histórica de Campo Grande

“A carne só é fraca quando a conduta não é forte”. A frase que compõe o grafite do estabelecimento do seu Gilmar é marcante e ele aprova. “Acho que faz as pessoas refletirem”, acredita Gilmar.

Do outro lado, ainda no estabelecimento de Gilmar, mas na Rui Barbosa, outro grafite e outra frase. “Tudo posso naquele que me fortalece”. “Essa fui eu que pedi. O grafite de cima é da arte dele, embaixo foi um desenho que eu pedi que ele fizesse. Ficou bem legal esse trabalho. Eu gostei do resultado”, ressalta.

Por fim, durante as andanças do Lado B em busca de mais poesias, em frente ao Clube Estoril repousa o verso de Mario Quintana. “Eles passarão, eu passarinho”. A Praça Portugal é bem cuidada e com bancos que convidam a reflexão. Apesar das outras pichações, o verso inevitavelmente parece combinar com toda a calmaria do lugar. Resta saber se a população também acha isso, pelo jeito, não.

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