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Lado B

As árvores que são a cara da Afonso Pena, chegaram de trem à avenida e à fazenda

Paula Maciulevicius | 23/08/2013 06:49
Na mesma altura, vigor e tom de verde. A Figueira da fazenda Palmeiras está num canteiro.
Na mesma altura, vigor e tom de verde. A Figueira da fazenda Palmeiras está num canteiro.
Como as que brindam os campo-grandenses na principal avenida da cidade. (Fotos: Marcos Ermínio)
Como as que brindam os campo-grandenses na principal avenida da cidade. (Fotos: Marcos Ermínio)

A uma distância de 20 quilômetros entre o rural e o urbano, o mato e a cidade, elas são as mesmas. Separadas quando ainda não passavam de mudas, despertaram cada uma em um canteiro. O verde é o mesmo, a altura e exuberância também. As árvores que dão cara à avenida Afonso Pena vieram da Índia pelos trilhos do trem, junto com o que durante muito tempo foi e ainda é a vivência da economia do Estado, a pecuária.

Fazendeiros da época foram até a Ásia trazer cabeças de gado Zebu. Junto vieram mudas de Mangueiras e Figueiras que desembarcaram em Campo Grande no início do século XX. O que dá cor à avenida principal faz sombra na fazenda Palmeiras, saída para Terenos. Da mesma ‘safra’, lá por 1940, foi pelas mãos do prefeito de Campo Grande à época, Eduardo Olímpio Machado e do juiz Arlindo de Andrade que as Figueiras que hoje tomam conta do cenário da cidade foram plantadas na via e na fazenda.

Das dezenas que se concentram nos canteiros da Afonso Pena, seis trazem a cidade para dentro da propriedade dos herdeiros de Eduardo Olímpio Machado, hoje, família Metello. “Toda fazenda antiga tem mangueira”, comenta o bisneto Eduardo Machado Metello Junior, de 57 anos. E a privilegiada em questão, é a Palmeiras, por ter no quintal de casa os mesmos galhos da Afonso Pena.

A história que ouviu da avó, de quando o bisavô plantou as árvores cá e lá é a mesma que hoje conta as gerações que estão por vir.
A história que ouviu da avó, de quando o bisavô plantou as árvores cá e lá é a mesma que hoje conta as gerações que estão por vir.

Chegar ao campo e ter a sensação de estar na cidade, mas sem o trânsito, as buzinas, comércios e prédios. De fora a sensação é está, de dentro, o sentimento é o oposto. “Para a gente, na verdade, é um pedaço da fazenda na cidade”, comenta Eduardo Metello.

Na mesma posição, as árvores parecem brincar entre si sem ao menos nunca se vislumbrarem. No campo estão à frente da sede da fazenda. Na cidade, entre construções erguias e semáforos. No canteiro da avenida elas preenchem a pista numa sequência de incontáveis árvores. No mato, se resumem a seis.

Ao contrário da fazenda, desconheço na cidade quem já tenha subido nelas, brincado às suas sombras e contemplado de perto a transformação da lagarta em borboleta. “Brincava sim, subi muito nessas árvores. Elas têm todo ecossistema natural, vários animais vem fazer ninho aqui. Tem de lagarto à borboleta”, lembra Metello.

Na fazenda elas fazem sombra à sede. Única construção erguida na propriedade.
Na fazenda elas fazem sombra à sede. Única construção erguida na propriedade.
Na Afonso Pena, elas estão entre comércios, prédios e em meio ao trânsito.
Na Afonso Pena, elas estão entre comércios, prédios e em meio ao trânsito.

A sombra que aqui elas proporcionam aos pedestres, lá se fecha à casa dos donos. Privilégio e honra de ter a cidade no quintal de casa e as folhas só para si. “A diferença é que aqui elas não foram tão podadas, lá foram bem mais”, nota Eduardo.

Na fazenda a manutenção e conservação praticamente não dão trabalho algum. Mas isso hoje. Diferente de Campo Grande, em Palmeiras elas podem crescer livremente e de fato, segundo o dono, nunca pararam de fazer. Cumprem à risca a lição de casa.

No entanto, em 1986, um fato do passado da fazenda é o mesmo vivido na última década na avenida, que já trouxe transtornos. A raiz da Figueira é tão forte quanto a exuberância do verde e tanto pode, como fez. Abalou a estrutura da sede da fazenda que teve de ser demolida e reconstruída.

Hoje a calçada que separa o tronco da casa é reforçada com aço, além de muito concreto. Se não, nas palavras de Metello, as raízes já teriam levado tudo de novo.

Talvez mais livres, a notável diferença entre as Figueiras está no que sente a família. “Aqui ela parece que gostou e fica sempre mais fresco embaixo. Uma brisa correndo”.

A poda, feita na fazenda a cada cinco anos, só quando os galhos já trazem mais do que a sombra desejada à casa, é realizada com o maior cuidado. “O ideal é não mexer nela. Onde corta a gente passa remédio, como se fosse um curativo para não apodrecer e não dar doença na árvore”, descreve Metello.

As Figueiras tanto das Palmeiras como da Afonso Pena passaram os anos e hoje estão com mais têm sete décadas e pra cima dos 20 metros de altura. O que elas têm para o alto, também têm para baixo. E a sustância de fato, vem das raízes aéreas. É que é preciso muito reforço para se manter de pé.

No campo volta e meia a família Metello precisa chamar uma assistência técnica. Não para a árvore em si, mas para os encanamentos por onde as raízes conseguem se enfiar. O trabalho ali é desentupir os canos, vítimas da força da Figueira.

O problema é pequeno perante ao significado das árvores. Retirá-las dali, nem pensar. “Tanto que nós já precisamos tirar a casa e preferimos fazer do que derrubar elas”.

Vinda da Índia, raízes, tronco, galhos e folhas brindam Campo Grande em mais um aniversário. E que venham 30 anos, para que as Figueiras cheguem ao centenário num próximo agosto.

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