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Artes

Parecia assunto velho, mas últimos dias provam: é bom falar da Ditadura Militar

Aline Araújo | 12/03/2015 09:05
Festival Cinema para a Verdade debate a ditadura militar. (Foto: Alcides neto)
Festival Cinema para a Verdade debate a ditadura militar. (Foto: Alcides neto)

Segundo o relats, os gritos que eram ouvidos no dia 6 de agosto de 1971, em um apartamento no Centro de Salvador, Bahia, eram “por favor, não atire”, depois que Iara Iavelberg correu para para apartamento vizinho e se encolheu entre a pia e a parede, onde foi morta. No outro dia, as manchetes do jornais publicaram que Iara havia cometido suicídio.

Parece até assunto velho, mas as imagens dos últimos meses no Brasil, com gente vestindo uniforme militar para defender intervenção, provam o quanto a história é importante e precisa ser lembrada, para garantir o que a gente sofreu tanto para conquistar, a democracia. 

Militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), contra a ditadura, a história de Iara é contada no filme “Em Busca de Iara”, exibido no 1º dia do Festival Cinema para a Verdade, realizado na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). O programa do Ministério da Justiça, em parceria com o Ministério da Cultura, quer trazer para o debate os "anos de chumbo".

Renan lamenta a falta de interesse na história do País. (Foto: Alcides neto)
Renan lamenta a falta de interesse na história do País. (Foto: Alcides neto)

Iara é só uma das personagens, que poderia ser uma lembrança de período histórico do País, mas hoje tem outro peso diante das discussões sobre impeachment e golpes.

O festival está na 4ª edição e nunca teve um papel tão importante na atual conjuntura politica. No dia 15 de março. um movimento pretende pedir o afastamento da presidente Dilma Rousseff e os discursos de que defende uma intervenção militar sempre surgem durante as manifestações.

“Após a ditadura houve uma tentativa de se apagar a história. Nos livros didáticos, o assunto é tratado de maneira superficial. E é necessário entender melhor o que foi esse momento e como carregamos resquícios disso até hoje em nossas leis. Nós ainda somos uma sociedade militarizada, andamos em ruas com nomes de ditadores e achamos a homenagem normal”, comenta o acadêmico de Economia, Renan Araújo, de 21 anos.

Guilherme é o responsável pelo projeto no Mato Grosso do Sul. (Foto: Alcides Neto)
Guilherme é o responsável pelo projeto no Mato Grosso do Sul. (Foto: Alcides Neto)

Interessado no debate, Renan sempre se surpreende em ver o tema intervenção militar sair da história e se tornar uma possibilidade na opinião de algumas pessoas. “Me assusta quando eu vejo jovens afirmando que a Brasil cresceu no período militar sem prestar atenção a que custo esse desenvolvimento foi possível. A gente vive uma crise na democracia, porque as pessoas não acreditam mais nas nossas instituições politicas. Se o problema é a corrupção, é sobre isso que a gente tem que discutir. Mas a ditadura tem que ser tratada com a repugnância que ela merece”, pontua o estudante, indignado.

Entre os estudantes que se identificam com o tema, todos acham que é necessário trazer para as pessoas a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o que foi a ditadura. O acadêmico de jornalismo, Guilherme Pimentel, de 21 anos, é o agente mobilizador do festival em Mato Grosso do Sul, ele acredita que é fundamental por o assunto em debate.

“Uma das lutas da Comissão da Verdade é conseguir colocar um pouco mais da história da ditadura nos livros didáticos. É importante frisar que foi uma ditadura Civil-militar, porque não só os militares, mas grandes Empresas apoiaram e ajudaram a sustentar a ditadura. O que a gente pode fazer é um paralelo com o que está acontecendo hoje. São pessoas querendo deslegitimar um processo democrático do País. Um grupo com empresários e pessoas que acreditam que vão se beneficiar com o golpe e apoiam essa revolta burguesa” , afirma.

Eva se assusta quando escuta pessoas elogiando a ditadura. (Foto: Alcides Neto)
Eva se assusta quando escuta pessoas elogiando a ditadura. (Foto: Alcides Neto)

E ele não está sozinho, mais de 90 pessoas resolveram prestigiar o evento e conhecer um pouco mais sobre a história da ditadura. Eva Curz, de 22 anos, diz que já encontrou pessoas que discordam dela e acreditam que a ditadura foi “algo bom”. “Já discuti muito com as pessoas por conta disso. Acho assustador a falta de conhecimento sobre a nossa história e ver pessoas elogiando a ditadura, sem lembrar das torturas e de quanto sangue foi derramado”.

O festival. O próximo filme, “Democracia em preto e branco” será exibido no dia 16 de março, no anfiteatro 1, Mutimídia, da Universidade Federal. Após a sessão, sempre acontece um debate com uma mesa de convidados para discutir sobre o tema.

O projeto é promovido pelo ICEM (Instituto Cultura em Movimento), com patrocínio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e apoio da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça.A entrada é franca.

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