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Comportamento

Blog mostra “points de pegação” para quem ainda insiste em locais públicos

Elverson Cardozo | 09/04/2014 06:29
Mato perto da Base Aérea, outro point de pegação. (Foto: Cleber Gellio)
Mato perto da Base Aérea, outro point de pegação. (Foto: Cleber Gellio)

O nome bonitinho, politicamente correto, é dogging, que significa a prática de sexo em locais públicos, geralmente, com desconhecidos. É mais antigo que andar para trás e, por incrível que pareça, tem muitos adeptos, inclusive em Campo Grande, onde existem vários “points de pegação”.

Não adianta falar em risco e perigo, a “brincadeira” ocorre em praças, estacionamentos, terrenos baldios, dentro do carro, em ruas de pouco movimento e por aí vai. Prova disso são os depoimentos e, vira e mexe, os boletins de ocorrências que, não rara vezes, viram matérias em jornais.

Quem pratica, justifica o ato por falta de dinheiro, por exemplo, para um motel, mas o dogging é, na verdade, uma espécie de fetiche, como explica um jovem de 25 anos, homossexual, que não quer ser identificado. Para ele, a liberdade e a adrenalina de viver momentos como esses valem mais que pagar um local ou compartilhar a intimidade dentro de casa. A maioria, geralmente os gays, se arrisca primeiro pela aventura e, depois, pelo sexo fácil, relatou.

“Alguns tem até tara de serem assaltados por marginais em locais assim. Muitos têm a fantasia de serem pegos por policias e fazer sexo com eles. Coisas de enredos de filmes pornôs”, disse.

E tem mais: Ele teoriza que, se os frequentadores quisessem privacidade, iriam para um motel. “Não é pela grana, mas pela liberdade, o que chamamos de encontros dooging. O lance é chegar sutilmente e participar das pegações, sem muito papo. Os caras são receptíveis e gostam quando chega mais gente”.

O interesse é tanto que o rapaz resolveu listar os "points" de Campo Grande no blog que administra, o The Boys MS. Desde a publicação do material, recebeu vários comentários, a maioria de anônimos.

Points - O local mais conhecido, segundo ele, é o Parque dos Poderes, em vários pontos escuros, como o estacionamento do Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo e até em frente à Governadoria.

Parque dos Poderes é uma das regiões mais frequentadas. (Foto: Marcos Ermínio)
Parque dos Poderes é uma das regiões mais frequentadas. (Foto: Marcos Ermínio)

É o ponto de encontro, conta, dos “mauricinhos”, que aparecem de carro, dos “héteros”, que tem namorada, e até dos casados, que passam para “dar uma aliviada”.

A movimentação começa logo cedo, por volta das 19h e vai até a hora que tiver gente disponível. Mesma coisa ocorre no estacionamento do Morenão, na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), onde uma “tiazinha”, de tão acostumada com isso, chega a vender balas e refrigerantes para o povo que está na parte mais importante da “festa”.

A região da Base Aérea, ao lado de um posto de combustíveis, em um terreno coberto pelo mato, é outro point, assim como a Praça das Águas, em frente ao Shopping Campo Grande, o Parque das Nações Indígenas (no banheiro), e na rua atrás do antigo Atacadão da Avenida Costa e Silva. A prática se estende aos banheiros públicos, como dos shoppings e praças.

Alguns apoiam, curte o dogging e falam até de novos locais. “Aí pessoal! Já peguei 7 universitários naquele Horto em frente ao shopping. Tem mato e dá para entrar lá dentro...”.

Outros, embora sejam leitores do blog, criticam: “Trabalho no centro e vejo, a todo instante, diversos homens descendo a escada para utilizar o banheiro da praça. Lamentável porque, na maioria dos casos, são homens casados que adoram brincar com gays”, diz, ao sugerir o fechamento do espaço que considera um ponto para os “escravos do sexo”.

“Depois não querem que falemos mal dos gays...”, dispara um terceiro. “Veja bem: Não é exclusividade dos gays fazer sexo em banheiros públicos ou em outros locais...”, responde mais um.

Nas áreas abertas, basta parar alguns minutos para ver de perto o entra e sai de carros e as sombras no meio do mato. A Polícia às vezes bate em cima, mas, acostumados, a maioria corre antes, por isso a recomendação entre eles é não ir de calças jeans.

No terreno baldio da Duque de Caxias, preservativo denuncia a "pegação". (Foto: Cleber Gellio)
No terreno baldio da Duque de Caxias, preservativo denuncia a "pegação". (Foto: Cleber Gellio)

“Melhor calção ou bermuda para facilitar na hora de tirar e se vestir”, ensina. Outra dica é ir com um amigo e nunca entrar no mato com celular, para não correr o risco de ser roubado. Embora indique as regiões e ensine os macetes, o blogueiro diz que não incentiva ninguém a frequentá-los por conta do risco de assalto.

Ele mesmo já foi vítima, mas, apesar do susto, não consegue parar porque viciou, argumenta. Diz que entrou “para ganhar dinheiro dos gays mais velhos”, que pagam para ter sexo, e não conseguiu mais sair.

Vai, pelo menos, três vezes por semana. Conseguiu até arranjar namorado nesses points. Apesar das “vantagens”, ele acredita que a prática do dogging é, de certa forma, uma doença. “Tem vezes que, antes de sair, eu peço a Deus para me proteger”, revelou, ao comentar sobre os perigos.

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