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Comportamento

Cadeirantes topam ensaio fotográfico pela visibilidade que faz falta

Thailla Torres | 03/01/2017 11:15
Lanier venceu a timidez e arrasou no primeiro ensaio fotográfico. (Foto: Giovani Neves)
Lanier venceu a timidez e arrasou no primeiro ensaio fotográfico. (Foto: Giovani Neves)

Com alegria estampada no rosto, Paula, Mirella e Lanier toparam pela primeira vez um desafio em frente às câmeras. As três amigas são cadeirantes e nunca tinham participado de um ensaio fotográfico. Depois de um convite para projeto na antiga rotunda da Estação Ferroviária, elas tiveram uma tarde de modelo e levaram a experiência como uma oportunidade para valorizar as diferenças.

A ideia foi do fotógrafo Luciano Muta, em parceria com alguns profissionais da cidade. Acostumado a retratar a beleza feminina com todas suas particularidades, a ideia se manteve em exibir pessoas desconhecidas.

“Pensei: porque não fazer? Fiz uma pesquisa em alguns perfis de Instagram e vi que são poucos cadeirantes que encaravam um ensaio. Isso me motivou a fazer o convite. Para mim, qualquer pessoa tem potencial para as fotos, mesmo que não siga os padrões de modelo e sempre fiz foto de pessoas comuns”, diz Luciano.

Mirella diz que ficou super satisfeita com o primeiro ensaio. (Foto: Giovani Neves)
Mirella diz que ficou super satisfeita com o primeiro ensaio. (Foto: Giovani Neves)

A funcionária pública Paula Zanata, de 37 anos, foi uma das modelos que descobriu a segurança na própria aceitação. “É mais difícil para mulher com deficiência ter uma segurança em se expor, porque ao se exibir é muito reparada pela sociedade", explica. 

Ela conseguiu vencer o medo de se mostrar e o resultado ficou muito bacana. "Foi a primeira vez que fiz um ensaio. Mas gostei e fiquei surpresa. A gente meio que sai da cultura do esconderijo e tem mais confiança na aceitação", diz.

Paula nunca andou. Ganhou as rodas ainda pequena, desde o diagnóstico de  amiotrofia medular espinhal, uma doença neurológica que causa a perda da força muscular. "Apesar da doença, eu tenho uma vida normal, Sempre corri atrás das minhas coisas, trabalhei, sou casada e determinada nas minhas ações. Mas acho que o ensaio de alguma maneira traz uma autoestima e revela um outro lado da mulher. Acho que para cada uma de nós, conseguiu passar uma imagem diferente de nós. Que cada uma tem sua beleza, independente da limitação", acredita.

Foi assim que Lanier Débora de Almeida, de 39 anos, superou a timidez. "Achei fantástico, quebrei a barreira da timidez, mesmo com a limitação, segui as dicas do profissional", conta.

Durante 3 horas de ensaio, ela contou com a ajuda da irmã para se dedicar às poses que mais queria. "Creio que a gente conseguiu quebrar paradigmas, mostrar para pessoas que ainda olham a gente como se não tivéssemos capacidade, que a gente pode também fazer fotografias lindas. Eu olhei para uma janela e disse que queria fazer uma foto ali, minha irmã foi quem me ajudou, já que tem toda prática de me levantar e deu super certo", comemora. 

Aos 53 anos, Mirella Ballatore é presidente da AMDEF (Associação de Mulheres com Deficiência de Campo Grande). O momento, para ela é a visibilidade que faz falta. "Eu estava meio tímida, mas foi tão divertido que a gente foi se soltando. É bacana ter essa visibilidade e ver o quanto o profissional consegue captar o que a gente tem de mais bonito. É inspirador para todas as mulheres", explica. 

Também serve como momento de reflexão a quem já sofreu com o preconceito por conta da deficiência. "Todo mundo está acostumado com um padrão e somos consideradas fora do padrão, então com isso a gente também pode mostrar que todo mundo tem seu lugar e jogar por terra toda aquela pré-concepção do que realmente é belo. Porque todo mundo tem a sua beleza".

Paula Zanata, também aproveitou o primeiro ensaio. (Foto: Luciano Muta)
Paula Zanata, também aproveitou o primeiro ensaio. (Foto: Luciano Muta)
Sem medo de ser feliz. (Foto: Giovani Neves)
Sem medo de ser feliz. (Foto: Giovani Neves)
Elas mostraram que todo mundo tem o seu lugar. (Foto: Luciano Muta)
Elas mostraram que todo mundo tem o seu lugar. (Foto: Luciano Muta)
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