ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  26    CAMPO GRANDE 31º

Comportamento

Depois de acidente, foram 44 anos até sentir o vento no rosto de novo

Paula Maciulevicius | 19/01/2016 06:44
Passo a passo é ensinado pela professora de bicicleta. (Foto: Gerson Walber)
Passo a passo é ensinado pela professora de bicicleta. (Foto: Gerson Walber)

Como resolução de Ano Novo, Ausdy admitiu para si mesma e em público que não sabia andar de bicicleta, mas queria aprender. Depois de um acidente quando criança, aos 7 anos, ela nunca mais pedalou até a tarde dessa segunda-feira, quando a Praça do Papa viu a alegria de menina voltar ao rosto dela.

As aulas são ensinadas pela professora Elijane Coelho, da Bicicletice escola de bicicleta. As duas já trabalhavam juntas há algum tempo e vinham conversando sobre a proposta já tinha mais de ano. Antes que Ausdy subisse à bicicleta, fomos entender primeiro o modelo trazido até ela: uma dobrável que comporta gente de 1,5m até 1,95m de altura, por ser toda regulável e que pelas rodas menores, dá a impressão de que se o tombo chegar, também será numa pequena proporção.

"Parei de andar com 7 anos. Eu caí, cortei o queixo, levei ponto e fiquei traumatizada", resume todo um medo de 44 anos. Ausdy Castro Santos, tem hoje 51, é professora e funcionária pública. Quando a aula começa, o Lado B só acompanha na expectativa de que ela consiga dar as primeiras pedaladas sem medo.

Primeiro se caminha com os pés no chão. (Foto: Gerson Walber)
Primeiro se caminha com os pés no chão. (Foto: Gerson Walber)
Para depois "remar" e manter o equilíbrio. (Foto: Gerson Walber)
Para depois "remar" e manter o equilíbrio. (Foto: Gerson Walber)

"Precisa alcançar todo o pé no chão. A primeira coisa é o equilíbrio, as pessoas acham que andar de bicicleta é só pedalar, mas não, é se equilibrar", ensina Elijane. Para a gente, ela fala que naquela posição da altura dos pés, qualquer coisa é só ela encostá-los ao chão. "Não tem rodinha e eu não seguro. Você se impulsiona quando pega confiança e depois de ter equilíbrio", explica a professora.

São várias etapas até ver confiança na aluna. Primeiro, Ausdy caminha pela praça montada na bicicleta, depois "rema" com os pés e já os solta do chão, para então repetir a mesma série só que agora sendo empurrada. "Olha para frente, não olha para o chão", frisa Elijane.

Em seguida é a vez de já colocar os pés no pedal, primeiro eles são amarrados e ela só se equilibra, para então começar a pedalar. "Freia e apoia no chão", diz a professora. "Eu esqueço de frear", as palavras já soam de longe, porque Ausdy, sem ainda se dar conta, está pedalando.

Ausdy não andava de bicicleta desde os 7 anos de idade e descobriu na aula que nunca esqueceu como era pedalar. (Foto: Gerson Walber)
Ausdy não andava de bicicleta desde os 7 anos de idade e descobriu na aula que nunca esqueceu como era pedalar. (Foto: Gerson Walber)

Quando percebe, comemora. "Aos 51 anos, as minhas primeiras pedaladas. É uma sensação muito gostosa", dizia para si mesma. Já confiante, ao voltar, pergunta com que pé deve começar, ouve que é o direito, e pedala de novo. Ainda viriam vários outros detalhes como trocar de marcha. Mas o desafio já estava por vencido.

"Eu tinha tentado sozinha e não tinha conseguido. Agora eu pertenço a um clube de moto e vejo as mulheres pilotando, fiquei com vontade, mas para tirar carteira, tem que ter o equilíbrio da bicicleta", conta. Ausdy precisava vencer o medo que ficou na infância para chegar ao sonho de agora, adulta.

Como diz ter levado um tempo para ganhar coragem, resolveu incluir "andar de bicicleta" nos planos de Ano Novo. "Para entrar 2016 de cara nova, vou andar de bicicleta e fazer um monte de coisa que eu não fazia antes", conta. A bicicleta parece ser o impulso para a jovem senhora conquistar muitos outros sonhos.

Até se soltar e seguir para as pedaladas.  (Foto: Gerson Walber)
Até se soltar e seguir para as pedaladas. (Foto: Gerson Walber)
Empurrada pela professora, ela vai pegando confiança. (Foto: Gerson Walber)
Empurrada pela professora, ela vai pegando confiança. (Foto: Gerson Walber)

Mãe de quatro filhos e já avó, ela sempre presenteou e viu as crianças aprenderem a andar, mas de longe. Por que?

"É difícil a gente falar que não sabe, mas depois que fica mais velha, aí sim perde um pouco da vergonha", brinca. A professora confirma que ela se saiu muito bem, porque em 20 minutos estava pedalando. Será que a gente nunca esquece como é andar de bicicleta?

Elijane explica que em nossa memória motora ficam armazenados tipos de movimentos que quando chamados de novo, são programados e depois de sentidos esses comandos, pronto, é como andar de bicicleta.

Para a aluna, o medo estava em se desequilibrar e por consequência, cair. "A gente tem as limitações de idade, posição, peso e eu também tenho dificuldade de coordenação entre mão e pé", descreve.

Depois de perdida a vergonha em não saber andar de bicicleta, que Ausdy descobriu que se pode ir muito além. "Quando se deixa aprender, vamos muito mais além. Para mim é um desafio, por exigir força de vontade e mudança de pensamento, mas se eu vencer, vou conseguir seguir com todas as minhas propostas", resume.

Questionada se chegou a pedir por rodinhas, ela brinca que já sabia que a possibilidade não existia.

Ao andar pela praça, Ausdy se recordou do sonho e descobriu que estava ali, realizando. "Eu sonhei várias e várias vezes que eu estava tomando um vento no rosto e eu senti a mesma sensação agora. Parecia solta, brincando com o vento e em cima de alguma coisa, era a bicicleta", se dá por satisfeita.

Curta o Lado B no Facebook.

Ao pedalar, Ausdy lembrou dos repetidos sonhos, de que brincava com o vento dormindo. (Foto: Gerson Walber)
Ao pedalar, Ausdy lembrou dos repetidos sonhos, de que brincava com o vento dormindo. (Foto: Gerson Walber)
Nos siga no Google Notícias