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Comportamento

Depois que a mulher de 73 anos pegou o buquê, seu Debrail, de 83, resolveu casar

Paula Maciulevicius | 11/10/2014 07:28
Casados os dois não eram. Mas viviam como se fosse. Aliança, o documento e o "título" de esposa não era o que atestava o matrimônio, e sim, a convivência de 20 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Casados os dois não eram. Mas viviam como se fosse. Aliança, o documento e o "título" de esposa não era o que atestava o matrimônio, e sim, a convivência de 20 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Da espera pela morte à espera do sim. Há um tempo atrás, quem perguntasse ao seu Debrail Teodoro, de 83 anos, como ele estava se sentindo, ouviria a resposta: "estou aqui, esperando a morte". O aposentado passou por doenças graves, teve depressão e chegou a preparar a família para uma despedida. Mas por providência divina, ou porque tinha de ser mesmo, o buquê de um casamento realizado no dia 11 de outubro do ano passado veio parar nas mãos de dona Ilma, companheira dele há duas décadas.

Casados, casados, os dois não eram. Mas viviam como se fosse. Aliança, o documento e o "título" de esposa não era o que atestava o matrimônio, e sim, a convivência de 20 anos. "É isso mesmo, eu com 83 e a noiva tem 85. Ô coragem a minha não é?" brinca seu Debrail.

Ele é de Campo Grande, mas há sete anos escolheu uma chácara às margens do Rio Aquidauana, em Rochedo para viver. O casamento vai ser lá, neste sábado, às 11h da manhã. "É muita expectativa que está tendo isso. Eu vou explicar o porque 5 minutos antes de casar. Aí que o pessoal vai saber o que é esse casamento", explica.

Seu Debrail de agora parece outro. Está novo, ou melhor "noivo". (Foto: Arquivo Pessoal)
Seu Debrail de agora parece outro. Está novo, ou melhor "noivo". (Foto: Arquivo Pessoal)

Brincalhão, o seu Debrail de agora parece outro. Está novo, ou melhor "noivo". A ansiedade toma conta a ponto de atropelar as palavras. Ora ele pede para que a gente vá no casamento, ora fala que precisa comprar mel. "A noiva não tem mais mel, tenho que comprar 1 litro, senão, não vai adiantar fazer lua-de-mel", brinca.

Ele prossegue a conversa dizendo que o mundo está virado mesmo, que volta e meia aparece de tudo, inclusive esse casamento. "Eu fui num casamento de 25 anos, ela pegou o buquê, nós não era casado e daquele dia para cá, ela virou noiva. Vai fazer um ano isso. Agora deixei para casar no mesmo dia, 11 de outubro, às 11h em ponto ela vai virar mulher. É tipo uma previsão que eu tive, sabe?", descreve.

O pedido ao certo a gente não sabe como e nem quando ocorreu. Coisa que ele prefere revelar só na hora do discurso, diante dos 300 convidados entre familiares, amigos e moradores de Rochedo. Por aquelas bandas todo mundo foi chamado para o "evento" do seu Debrail. Não tem convite de papel, nem letras bonitas num envelope, a boa nova foi chegando de boca a boca, informando a hora e o lugar.

"Das 6h às 8h30 vai ter o café da manhã, depois o casamento e churrasco. É casamento de velho mesmo, então tudo tem que ser devagar. Coisa de velho é assim, devagar", detalha.

A noiva, Ilma Pereira dos Santos, está fazendo mistério sobre o vestido. (Foto: Arquivo Pessoal)
A noiva, Ilma Pereira dos Santos, está fazendo mistério sobre o vestido. (Foto: Arquivo Pessoal)

A noiva, Ilma Pereira dos Santos, está fazendo mistério. Não conta nem como vai ser a cor do vestido. Ninguém sabe se será branco, com véu e grinalda, longo ou curto. "Ela não deixou eu ver o vestido ainda. Só sei que fez em Campo Grande e que eu não pude ver. O interessante era eu ver o vestido, ver ela sem roupa eu já vi várias vezes", brinca.

O segredo não está sendo guardado só do noivo não. A família também não sabe de nada. Sobrinha de Debrail, a professora Nilda Teodora Tosta, foi quem procurou o Lado B. Ela enxergou na trama do tio uma história que poderia virar manchete. Viúvo, seu Debrail conheceu dona Ilma em um baile. Os dois adoram dançar. Ele, segundo conta a sobrinha, é muito conversador, gosta de contar histórias, receber as pessoas em casa...

"Desde que foram morar juntos, eles se tornaram casados, mas nunca tinham casado oficialmente, legalmente. Nunca fez falta, só que a coisa de fazer festa, é a realização de um sonho. Ele nunca fez um casamento, nem no primeiro", resume Nilda.

Da vontade de dizer "sim", seu Debrail conseguiu forças, deixou de lado aquele diálogo de quem espera a morte chegar para correr atrás da vida, agora, como marido e mulher. "Ele pegou um sonho para realizar, dar vida, sentir que vai realizar alguma coisa", comenta a sobrinha.

O anúncio do casamento foi feito em março deste ano, na comemoração de 83 anos do aposentado. Todo mundo pegou para si um pouquinho da festa, um está dando o bolo, o outro a vaca para o churrasco. Só não puderam interferir na vontade do casal. "Inclusive queriam que fosse num clube, mas não, ele queria na casa dele, receber familiares e amigos em casa". E assim será. Seu Debrail dirá "sim" à dona Ilma e vice-e-versa, na cerimônia na chácara do casal, à frente do cartório da cidade de Rochedo.

No final da entrevista, seu Debrail me faz o convite, diz que eu tenho de estar lá. Nunca nos vimos antes, nem trocamos outras palavras que não fosse sobre o casamento. Mas ele me pergunta se sou casada ou não. "Vem menina, vai ter homem bonito aqui. De repente você pega o buquê. Eu vou jogar para você. Às vezes, um cara fica de olho na sua butique". Claro que aceito o convite aos risos.

"Só uma correção, eu estou mentindo. A Ilma tem 73, não tem 85 não, tá? Temos 10 anos de diferença, mas ela está em bom estado viu? Não está de jogar fora. Eu te agradeço viu? Se você viesse, eu ia te dar outra explicação. Vai ter homem bonito", insiste.

O anúncio do casamento foi feito em março deste ano, na comemoração de 83 anos do aposentado. (Foto: Arquivo Pessoal)
O anúncio do casamento foi feito em março deste ano, na comemoração de 83 anos do aposentado. (Foto: Arquivo Pessoal)
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