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Comportamento

Em terapia contra problema familiar, voluntários sentem até dores do paciente

Elverson Cardozo | 18/07/2014 06:56
Foto da internet mostra exemplo de uma constelação.
Foto da internet mostra exemplo de uma constelação.

Quem busca resolver conflitos familiares, entre outras situações, encontra em Campo Grande uma terapia que poucos conhecem: a Constelação Familiar. Já ouviu falar? Toda quarta à noite é dia de sessão em uma das salas da rua Maracaju, entre a Rui Barbosa e a Pedro Celestino, no Centro.

O método, desenvolvido pelo psicoterapeuta alemão, filósofo e teólogo Bert Hellinger, chama atenção pelo aspecto fenomenológico, pela troca de energia. Não é uma terapia comum, onde o paciente chega e relata o que sente ao terapeuta. É um trabalho em grupo e quase teatral.

Mas não é só isso. O cliente que procura um tratamento como esse recria com a ajuda de voluntários, também pacientes, a própria árvore genealógica, escolhendo, na “plateia”, representantes dos membros de sua família, como pai, mãe, filhos e ele mesmo. Coloca-os no centro da sala, nas posições que escolher, e, sentando, afastado do chamado “campo energético”, assiste à dinâmica do trabalho na tentativa de entender a causa do problema.

O detalhe é que, durante esse processo, marcado por perguntas e intervenções dos terapeutas, as pessoas escolhidas para serem representantes encaram os personagens a elas atribuídos de forma tão séria que expressam as mais diversas reações, inclusive, dores pelo corpo.

É comum ver gente com o semblante carregado, chorando, sentindo “peso nas costas”, nos braços, e falando como se fosse outra pessoa. Com base nessa movimentação espontânea, que leva em conta as sensações de cada representante, o psicologo, em contato contínuo com o cliente, chega a alguns conclusões e, no final, aponta uma provável solução. É o fim da constelação.

Aos olhos de quem nunca viu algo parecido, parece loucura, brincadeira de criança, tentativa de adivinhação ou “coisa de igreja”, mas quem trabalha com isso fala com seriedade sobre o assunto. Quem aparece em uma sessão de Constelação Familiar é porque, geralmente, ouviu falar do método, soube por um amigo, parente, conhecido, ficou curioso e quer ver como funciona.

O método - Nesta semana, o Lado B participou de uma sessão. Primeiro é necessário se apresentar, informar o nome, sem sobrenome, para registro no livro de presença. Depois, pedem, é preciso retirar os calçados, ficar descalço para entrar na sala que, nesta quarta-feira, estava lotada.

Quem já se conhece, fez amizades, conversa normalmente, interage, até que os responsáveis, Dilson Vicente de Lima e Olga Simone Almeida de Paulo Lima, os terapeutas da noite, iniciem a sessão.

A explicação do método para os novatos demora menos de meia hora e, na ocasião, foi iniciada logo após um prefácio onde o “bem aventurado os que não viram e creram”, dito por Dilson, soou, aos ouvidos de um cético, de forma pouco convincente.

Método também é aplicado com bonecos. (Foto: Reprodução/Internet)
Método também é aplicado com bonecos. (Foto: Reprodução/Internet)

Mas a explicação de Olga, na sequência, revela a cientificidade da proposta, a mesma disponível, de forma resumida, no site do instituto: “Bert Hellinger demonstrou, por meio do método, que acontecimentos trágicos na história de uma família pode ter efeito nas gerações posteriores, de tal forma que um membro familiar imita, inconscientemente, o destino difícil de uma antepassado ou expia por ele”.

A abordagem do psicoterapeuta alemão é fundamentada em três princípios que, segundo os estudiosos, regem os relacionamentos: a necessidade de pertencer, do equilíbrio entre dar e receber, da ordem e hierarquia dentro do sistema. Para Bert Hellinger, diz o texto, o amor que conhece e respeita essas necessidade traz efeitos benéficos e curativos.

Dito isto, inicia-se o processo de explicação com os representantes e, depois, com os pacientes que foram até o local para “constelar”. O primeiro foi um homem que queria resolver uma situação conflituosa que envolvia a mãe e o pai. Olga e Dilson o orientaram a escolher e a posicionar, no centro da sala, seus respectivos representantes que, depois do "start" dado pelos terapeutas se moveram seguindo a própria intuição.

Essa movimentação serve como “pista” para descobrir o que de errado anda acontecendo ou ocorreu na vida do cliente. Logo as perguntas começam a ser feitas por Olga: “Conheceu seu pai?”; “Teve algum trauma na família?”; “Essa cena faz sentido para você?” e por aí vai.

Os dois terapeutas fazem a mesma coisa com os representantes: “O que sente?”, perguntam. “Sinto uma dor muito grande do lado esquerdo”, responde uma senhora que, neste caso, fazia o papel da mãe do rapaz. O choro surge não só com o cliente, mas com voluntários envolvidos na cena, que, mesmo sem conhecer o protagonista dessa história, demonstram sofrimento como da verdadeira mãe, avó e avô do rapaz.

A impressão é que as respostas são óbvias, mas foi preciso a dinâmica "desenhar", materializar a ordem e a posição que cada um ocupa na vida do outro, para a pessoa entender onde está o desequilíbrio.

Já passava das 20h30 quando uma mulher, a segunda paciente da noite, entrou em cena. Queria resolver um problema com o filho que anda muito distraído e com problemas na escola. Na constelação foram representados ela, o pai, o garoto (que apresenta o quadro relatado), um segundo filho e outro personagem, sem papel definido, mas que, para ela, fez sentido.

Depois de olhares atentos, questionamentos, constatações e mudanças de posição, o trabalho chegou ao fim com todos se abraçando em círculo. Foi o fim desta constelação. O Lado B deixou a sala no intervalo, quando ainda faltava um cliente para “constelar”. “Voltem quando quiser”, despediu-se Olga, sem saber da reportagem.

O Campo Grande News procurou Olga e Dilson no dia seguinte, mas nenhum estava disponível para entrevista porque tinham um compromisso em Cuiabá. O psicoterapeuta disse, por telefone, que tem "algumas experiências negativas com a imprensa".

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