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Comportamento

Gente que não “larga o osso”, mesmo quando a maioria já desistiu

Ângela Kempfer | 22/03/2013 08:00
Walter Fernandes Reis (de regata á direita) e a paixão pelo Comercial.
Walter Fernandes Reis (de regata á direita) e a paixão pelo Comercial.

O maior orgulho de Walter Fernandes Reis é ter dois filhos comercialinos. “Não torcem para esses tipos tipo Palmeiras, Corinthians, são do Comercial e pronto”, comenta.

Não há jogo do Colorado, sem Valter na arquibancada. “Na verdade só não fui em um, este ano, em Três Lagoas, porque o jogo era para ser no sábado e adiaram na última hora justamente para o dia de um evento da torcida, que já estava com os ingressos vendidos aqui em Campo Grande”, explica.

Para viajar por aí, sempre tenta patrocínio, sem sucesso. “Ano passado tinha um deputado que ajudava, agora, não temos nada”. O jeito é encampar promoções da torcida e ratear custos entre os colegas colorados.

Ele não larga o osso, apesar das desilusões com o futebol sul-mato-grossense. “Desanimar, a gente até desanima, mas o amor pelo Comercial é mais forte”, justifica. Desde 73 é assim, quando chegou por aqui.

Há 38 anos Valter comemora qualquer vitória, independente do glamour. É líder da torcida organizada Falange Vermelha. Mesmo com nome imponente, são só 50 membros e aumentar o número é complicado, reclama.

“Teve o jogo contra o Cene (em janeiro) e o estádio ficou lotado, mas o Comercial perdeu. O jogo foi fraco, o time não correspondeu. Daí as pessoas desistem de seguir, né”, reclama.

“Não largo o osso porque a gente sempre pensa que vai melhora, que alguém vai investir. Também sou torcedor que gosta de ir ao estádio. Não vou torcer para um time de fora, que não dá para ver os jogos”, explica.

Zé Geral, já mudou 14 vezes de endereço com o sarau mais famoso da cidade. (Foto: arquivo pessoal)
Zé Geral, já mudou 14 vezes de endereço com o sarau mais famoso da cidade. (Foto: arquivo pessoal)

Vivo disso - Pensar em alguém insistente é lembrar do músico Zé Geral. Desde que resolveu criar o “Sarau do Zé Geral”, há 18 anos, já mudou 14 vezes de endereço. “É minha vida! Se eu largar este osso, morro! Me rotularam há anos de resistência cultural. Não sei bem o significado, mas aceito.”

Ele começou a reunir os amigos músicos para tocar em uma casa, na rua 13 de Maio. Também esteve por duas vezes na 26 de Agosto, depois foi vizinho do Camelódromo, do Circulo Militar...Tantos endereços remetem a Renato Russo: “Já morei em tanta casa, que nem me lembro mais”, cantarola Zé Geral.

Também são inúmeros os artistas que deram uma canja para o público de Zé Geral. Lembro da vez em que a banda que tocava com Cássia Eller apareceu por lá, depois de um show na cidade. Mas Zé tem muitas outras na lembrança. “Paulinho Moska, Bira, Yamandu Costa, que tocou com a gente por duas horas e meia, além de Casagrande, Mauro Naves... Na verdade, houve um momento boom em que tudo que vinha à cidade ia parar no Sarau”.

Mesmo assim, nunca sobrou dinheiro para comprar um imóvel e fixar de vez o bar em um endereço. Mas para ele, o que vale é contribuição todas as quarta-feiras. “No começo, quando a gente convidava, as pessoas diziam: Sarau? O que é isso? Hoje tem mais de 20 por aí. Naquela época, a noite musical de Campo Grande era só sexta e sábado”.

Hoje, na Rua Pasteur, número 937, na Vila Piratininga, o funcionamento é de segunda a sábado, a partir das 17h30, mas com hora para acabar: 22h. Para quem quer saber se ela ganha dinheiro com isso, a resposta é boa: “Não sei se ganho dinheiro, mas vivo disso!”

Amélia Pecci de Oliveira não deixa por nada a antiga rodoviária.
Amélia Pecci de Oliveira não deixa por nada a antiga rodoviária.

Meu lugar - A rodoviária também mudou de endereço e quem ficou no antigo prédio viu a decadência do lugar. Apesar da paradeira, dona Amélia Pecci de Oliveira não deixa por nada o Salão Real, inaugurado há 27 anos.

A senhora de 82 anos, uma das personagens de Campo Grande, é dona da sala comprada pelo marido assim que o casal desembarcou na cidade. Deixar o local, para ela, é abandonar a história. “Por enquanto, não está dando prejuízo”, lembra.

O salão começou com 10 cabeleireiros, agora só uma pessoas corta os cabelos dos clientes. “Eu já ganhei dinheiro aqui, não tenha dúvidas. Hoje dá para sobreviver. Fechar é deixar a rodoviária ainda mais desativada”, justifica.

Ser “proprietário” de um salão no prédio que já foi importante para a cidade tem um peso para Rosane Nelly Lima, 45 anos, dona de uma lanchonete na velha rodoviária. “Eu comprei. Ninguém me deu a minha sala. Eu pago meus impostos. Não largo por nada”, diz, depois de 18 anos no mesmo lugar. “Não é assim, faz o novo e elimina o velho. Aqui, cada porta aberta produz de 1 a 2 empregos”, argumenta.

O síndico Antônio de Oliveira Souza, 59 anos, acha que a questão não é "largar o osso" e sim  sobrevivência. “O pessoal é antigo e sempre acreditou em promessas. Estão na esperança de um projeto que reviva a região e traga de volta o que foi levado”.

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