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Comportamento

Guardado a 7 chaves, cartão trouxe a Kárita o que ela mais queria: o nome do pai

Paula Maciulevicius | 26/01/2016 06:47
Foram 21 anos até o encontro. Na foto, estão Kárita, o filho, ao lado do pai, da avó e da tia. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foram 21 anos até o encontro. Na foto, estão Kárita, o filho, ao lado do pai, da avó e da tia. (Foto: Arquivo Pessoal)

Foram 21 anos de perguntas, dúvidas e de uma procura que nem o lado de cá, nem o de lá, sabiam por onde começar. Kárita nasceu em Rondonópolis, no estado vizinho e veio para Campo Grande ainda bebê, com pouco mais de 1 ano, sem nunca saber quem era o seu pai.

A história contada à ela ficou restrita em dizer que o pai tinha, à época, entre 21 e 22 anos e que o exame de DNA solicitado por ele não foi feito, porque a família se negou a realizar. Com a mudança de bairro dos familiares da menina, o pai, que era leiteiro na região perdeu todo contato.

Por anos, Kárita perguntava quem era o pai, um nome e como encontrá-lo. "Como ele chama? Quem é? O que ele faz? E sempre diziam: não sei, não lembro o nome", repete a estudante Kárita Anábia Rolin Pires, de 21 anos. Decidida em saber suas origens, a jovem pensou em contratar um detetive na cidade onde nasceu. "Chega numa idade que não adianta mais tentar esconder, quando eu viesse para Rondonópolis, eu ia atrás da pessoa".

O cartão do pai, guardado a 7 chaves, que trazia nome, endereço e as referências.
O cartão do pai, guardado a 7 chaves, que trazia nome, endereço e as referências.

Ao deixar isso bem claro para a avó, um nome e um sobrenome surgiram do baú: era um cartão guardado por duas décadas, que Ludmar Lima usava para se apresentar como leiteiro. Com nome em mãos, a filha buscou primeiro na internet, mas não aparecia mais que aprovações em concurso.

Até que a filha resolveu entrar num grupo de vendas do Facebook, da cidade de Rondonópolis e tentou a sorte em meio a mais de 70 mil membros. "Publiquei lá as coisas que eu sabia, dizendo que procurava um senhor de 40 a 50 anos de idade, que vendia leite no bairro Jardim Atlântico, e que na época tinha cabelos compridos". A publicação foi feita às 11h da noite e às 7h da manhã do dia seguinte, um inbox da meia-irmã trazia o caminho. "Você está procurando o meu pai, eu sei porque. Você é filha dele", veio a resposta.

Por anos, Ludmar tentou buscar a menina, mas não tinha nem sequer um nome. Dos familiares de lá, chegou a pedir qualquer informação que também lhe foi claramente negado. Antes de se casar e novamente depois de ter os três filhos, o leiteiro que virou professor de Biologia, abriu a história para a família, de que havia uma filha, em algum lugar e que ela um dia poderia voltar.

Por coincidência, na mesma data em que a meia-irmã respondeu, o pai das duas estava a caminho de Campo Grande, para visitar familiares no Estado. Em contato com o pai, a filha de Rondonópolis contou o achado e repassou à filha de Campo Grande um horário e um local de encontro. Às 3h da tarde do dia 5 de janeiro, na praça de alimentação do Shopping Bosque dos Ipês. "Esteja lá que ele vai estar lá", leu Kárita.

Pai, filha e neto. E as semelhanças nos traços que nem a distância de 21 anos foi capaz de apagar.
Pai, filha e neto. E as semelhanças nos traços que nem a distância de 21 anos foi capaz de apagar.

"Eu cheguei na praça, olhei e não achei. Pensei, ele não veio ou foi embora. De repente, ele vinha saindo de dentro de uma das lojinhas e veio vindo na minha direção. Quando a gente se olhou, ele se emocionou primeiro, eu fiquei olhando para ver o que ele ia falar.

Me chamou: - Kárita? Não teve jeito, foi espontânea a emoção. O choro e ele me agradeceu por eu ter achado ele".

Do pai ela ouviu toda versão de quantas vezes a procurou e dela, Ludmar escutou que a vontade de encontrá-lo se tornou ainda maior depois que ela foi mãe. "O meu filho tem pai, eu tinha o direito de ter também e chegou a hora", diz.

Olhando pela fotografia, as semelhanças são tantas que não se imagina que os traços demoraram 21 anos para se encaixar. "Quando eu a vi, do outro lado, longe, empurrando um carrinho de bebê... Olhei e confirmei, era minha filha e meu neto. Não sei te explicar, é uma emoção muito forte. Eu mal conseguia respirar", conta o professor de Biologia, Ludmar Lima e Silva, de 43 anos.

O relógio passou voando. Eram 21 anos de vida para se por em dia. Kárita foi para Rondonópolis, fez o exame de DNA e voltou a Campo Grande. Na manhã seguinte à sua chegada, o pai a chamou de novo. O resultado só confirmava o que os dois já tinham sentido no primeiro abraço: eram pai e filha.

A entrevista é feita por telefone, porque os dois estão se conhecendo em Rondonópolis. "21 anos não são 21 dias, então a gente está tentando aproveitar ao máximo", explica a filha.

Kárita agora tem o nome do pai na certidão e também o sobrenome "Lima", acrescentado. A história é narrada com felicidade que se percebe pela voz e também com muita emoção, principalmente na hora de falar: pai.

"Foram 21 anos para sair essa palavra da boca, quando você fala, vem a vontade de chorar. Mas eu sei que agora em diante eu realmente tenho um pai, no sangue, no coração, na mente e nas memórias de tudo o que está acontecendo agora".

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