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Comportamento

Histórias da vida real que a gente encontra nos grupos de Neuróticos Anônimos

Mariana Lopes | 23/02/2013 14:25
O taxista sofre de sindrome do pânico e frequenta a irmandade há 16 anos (Fotos: Simão Nogueira)
O taxista sofre de sindrome do pânico e frequenta a irmandade há 16 anos (Fotos: Simão Nogueira)

Nervoso, egoísta, usurpador, raivoso, orgulhoso, teimoso, inseguro, ciumento, onipotente. Sintomas em potência elevada e que arrastam a pessoa a atitudes extremas. Assim é identificado quem sofre de neurose.

E como você imagina ser o encontro de um grupo de Neuróticos Anônimos? Quem são as pessoas que procuram ajuda no escuro, sem querer se identificar? Pode ser um evento curioso, mas se engana muito quem associa a neurose à loucura. Os neuróticos são pessoas normais, que vão a lugares comuns e também têm rotinas.

Neste sábado, o Lado B participou do 20º Encontro Estadual de Neuróticos Anônimos, que acontece hoje e amanhã, em Campo Grande. Conhecemos algumas pessoas que sofrem de neurose e que resolveram procurar ajuda na irmandade.

Ela é pecuarista, tem 58 anos e participa do grupo de Neuróticos Anônimos há 20. Loira, alta, simpática, inteligente, bonita. Quem não a conhece profundamente com certeza não aposta que ela já passou 5 meses trancada em um quarto e quase morreu por causa da depressão.

“Eu me viciei em ser depressiva, perdi a capacidade de me fazer feliz e joguei essa responsabilidade para os outros”, lembra a pecuarista. Hoje, ela afirma que conseguiu a felicidade autêntica, mas que ainda participa do grupo para se manter firme. “É o meu alimento espiritual”, justifica.

Confiante e bem resolvida, ela não se importa em dizer que participa dos Neuróticos Anônimos, mas a preservação da identidade de todos que frequentam a irmandade é uma das regras do grupo.

A pecuarista conta que passou 5 meses trancada em um quarto e hoje, com 20 anos de NA, ela consegue ter uma vida normal
A pecuarista conta que passou 5 meses trancada em um quarto e hoje, com 20 anos de NA, ela consegue ter uma vida normal

No grupo há 16 anos, o taxista de 63 anos saiu e voltou três vezes. Ele sofre de síndrome do pânico desde a juventude. “Fui criado na fazenda, fazia de tudo, mas de repente, quando eu tinha uns 20 anos, comecei a ter medo das coisas”, conta.

As mãos inquietas não negam o nervosismo constante. Parece que os sintomas voltam à tona só de relatar como se sente, por exemplo, em lugares com muita gente. “Me dá uma angústia, parece que uma coisa vai explodir dentro de mim, já cheguei a ficar uns 10 dias sem trabalhar porque não conseguia sair de casa”, recorda.

Ele fez terapia, viveu à base de calmantes e já esteve em vários médicos, mas no grupo de Neuróticos Anônimos que ele encontrou a paz, e hoje até comemora ter se livrado dos remédios.

Histórias da vida real. De pessoas que chegaram ao fundo do poço e um dia encontraram uma luz no fim do túnel. Com o representante comercial de 48 anos foi bem assim.

Ele morava em Londrina, era empresário, tinha imóveis, carros e uma situação financeira boa. Perdeu tudo por causa da depressão. “Eu não sabia amar, queria as coisas do meu jeito, que as pessoas fizessem a minha vontade, não aceitava qualquer adversidade”, conta.

O representante comercial perdeu tudo, mas encontrou o NA que lhe devolveu a vida e o ensinou a amar
O representante comercial perdeu tudo, mas encontrou o NA que lhe devolveu a vida e o ensinou a amar

Ele se lembra que a gota d’água foi quando sentiu vontade de matar o cobrador do ônibus simplesmente porque ele não tinha troco para retornar. “O cara estava no direito dele, tinha um cartaz dizendo o valor máximo do troco, mas eu não queria nem saber”, pontua.

Sem emprego, sem família, sem casa, ele pegou o carro que ainda tinha, colocou o colchão e um botijão que lhe restaram, e veio embora para Campo grande com apenas R$ 300 que havia emprestado de um amigo.

Depois de 6 meses procurou o Neuróticos Anônimos. Desde então, há 4 anos, sua vida aos poucos volta ao normal. Arrumou um emprego, voltou a falar com os filhos, tem uma casa própria e, o mais importante: “Estou aprendendo a amar”, comemora.

E que atire a primeira pedra aquele que não tem guardada lá no fundo de si uma neurose, alguma pendenga emocional ou até mesmo uma dose de loucura. Como traz o ditado popular: “de médico e louco todo mundo tem um pouco”.

Serviço - O evento acontece no Instituto Missionário São José, neste sábado (23) e domingo (24). É aberto à população em geral e é gratuito.

Na Capital existem quatro grupos: Grupo Amor em Ação (rua 14 de Julho, 1.944 - Galeria São José - sala 210), Grupo Padre Heitor Castoldi (salão paroquial da Igreja São Francisco), Grupo Viver e Deixar Viver (salão paroquial do Colégio Paulo VI) e o Grupo Renovação (salão paroquial da Igreja Cristo Luz dos Povos).

Para ser membro basta se considerar uma pessoa com perturbações emocionais e ter sincero desejo de sarar.

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