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Comportamento

Morador ganha bolo de vizinhos em festa para comemorar um ano longe das drogas

Paula Maciulevicius | 03/08/2015 06:12
Morador da rua desde que nasceu, são 47 anos de idade e 1 de vida.
Morador da rua desde que nasceu, são 47 anos de idade e 1 de vida.

Um ano atrás João Roberto Santana de Oliveira, conhecido como "Joãozinho", deu descarga nas drogas que tinha em casa e prometeu que nunca mais usaria. A cada mês, ele avisava aos vizinhos da Rua Eduardo Santos Pereira, no bairro São Francisco, em Campo Grande: "hoje faz um... Faz dois... Três..." Os meses foram passando até chegar em 1 ano, comemorado neste domingo, no salão de festas de um dos prédios, com direito a bolo e velinhas. 

Morador da rua desde que nasceu, são 47 anos de idade e 1 de vida. Uma nova vida. Joãozinho nasceu numa das casas do bairro, vivia nas ruas e se tornou conhecido dos prédios por cuidar os carros das visitas ou então dos clientes que iam até o antigo endereço do Acepipe. 

Foram 13 anos de vício no crack que deixaram para trás o sonho de ser jogador de futebol. Nesta década, ele também perdeu a casa e morou de favor num imóvel abandonado daquele trecho... Cumprimentava todo mundo na rua e juntava o dinheiro que conseguia para gastar num único propósito: de sustentar o vício. Sem nunca mexer em nada de ninguém. "Eu só prejudicava a mim mesmo, mas nunca troquei nada de ninguém por droga", lembra.

Morador ganha bolo de vizinhos em festa para comemorar um ano longe das drogas

O jeitão comunicativo com que ele recebe a gente era o mesmo para com toda a vizinhança. Os moradores do prédio ao lado da casa criaram um elo de amizade. Os comerciantes da região, idem. Além de socorrê-lo nas vezes em que caía nas ruas, eles chegaram a internar o vizinho numa clínica de desintoxicação. O tratamento proposto era de 6 meses, mas Joãozinho largou em 60 dias.

O comerciante que lhe estendeu a mão para o tratamento, prefere não ser identificado. Quer deixar o mérito e os holofotes apenas para João. "Ele sempre foi um cara bondoso, mas estava perdido nas drogas. A gente sentia muita dó dele. Quando ele não quis ficar na clínica, eu disse: 'só tem uma pessoa que pode te restaurar, é Deus'. Hoje ele é outro João..." conta o empresário.

Um dos moradores que propôs a festinha, também se restringe a dizer que todo mundo ali gosta dele. "Nós nos reunimos e vamos fazer uma festinha para ele comemorar, se fortalecer e mostrar o quanto ele já fez bonito até aqui".

"Hoje faz um ano que eu estou liberto. Eu não estava vivendo, estava vegetando... Obrigado senhor", dizia.
"Hoje faz um ano que eu estou liberto. Eu não estava vivendo, estava vegetando... Obrigado senhor", dizia.

Quando os olhos enxergaram o bolo e os cartazes na parede, que faziam as vezes de decoração, Joãozinho viu os 12 meses passarem diante de si. Caiu no choro e ergueu os braços em gratidão. Ele se tornou evangélico neste último ano e rende todas as glórias lá para cima. As lágrimas acompanhavam também o rosto de cada um dos moradores.

"Hoje faz um ano que eu estou liberto. Eu não estava vivendo, estava vegetando... Obrigado senhor", repetia. No dia 2 de agosto de 2014, depois de acordar, ele conta que se olhou no espelho e decidiu. "Eu catei tudo e dei descarga, lembro disso até hoje. E falei que a partir daquele dia, eu entregava minha vida a Deus. E hoje eu consegui, com as pessoas que me acompanharam, a ser um novo João".

Joãozinho agora é pintor. Sai de casa de manhã cedo e só volta à noite para dormir. A vizinhança toda comemorou em palmas quando ele soprou as velinhas. Um gesto enorme para com o próximo. "Parabéns João, quem te viu, quem te vê... Essa é uma cartinha que escrevi para você ler depois", dizia a vizinha Teresinha Menezes, de 68 anos.

Uma das moradoras do edifício, ela só soube do envolvimento dele nas drogas há 2 anos. "Ele sempre foi muito comunicativo, guardava nossos carros... Falavam sim, mas eu nunca percebi. Um dia ele se abriu e disse que era verdade. Eu fiquei feliz de ele ter chegado até aqui. Todo mês eu ouvia 'hoje faz 1, 2, 3... "

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A vizinhança toda comemorou em palmas quando ele soprou as velinhas. Um gesto enorme para com o próximo.
A vizinhança toda comemorou em palmas quando ele soprou as velinhas. Um gesto enorme para com o próximo.
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