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Comportamento

No compasso da respiração, Cristina subiu vulcão ativo no Atacama a 5 mil metros

Paula Maciulevicius | 16/01/2017 06:20
Cristina na borda da cratera do Lascar. (Fotos: Arquivo Pessoal)
Cristina na borda da cratera do Lascar. (Fotos: Arquivo Pessoal)

De carro, de São Paulo até o vulcão Lascar, no Deserto do Atacama, no Chile. A viagem de Cristina começou a ser planejada em maio para acontecer do dia 24 de dezembro a 9 de janeiro. Dentista, ela seguiu com a família em dois carros e um total de 10 pessoas, mas só ela e dois primos que chegaram ao topo do vulcão, a 5,5 mil metros de altitude.

As "férias inspiradoras" têm trazido relatos de quem entre o final de 2016 e começo deste ano, seguiu um roteiro de fazer suspirar. O que Cristina alcançou foi uma paisagem surreal que não cabe em fotografia, mas que ela tenta nos descrever para que algum leitor crie coragem e faça o mesmo. 

"Aprendi que não cabe em uma foto", começa a dizer. Cristina Tabata não parece de jeito nenhum, mas tem 51 anos e viu nos últimos dias, uma paisagem a cada 10 minutos no Deserto do Atacama, o que classificou como "um show à parte". 

O ponto de partida foi São Paulo, um pernoite em Londrina, Foz do Iguaçu, Resistência, já na Província do Chaco, na Argentina, Salta, San Antonio de los Cobres e depois a travessia da fronteira com o Chile, para San Pedro de Atacama, que era o destino. Num mesmo dia, por exemplo, eles foram de 1.190 até 4.350 de altitude, o tempo todo mascando bala de coca. 

"Pelas Cordilheiras que pegamos 4 mil metros. Dá uma sonolência, um desconforto, uma pressão na cabeça", descreve. Mas nada que o visual não compense. 

O total da viagem - incluindo ida e volta - foram mais de 7 mil quilômetros. Parte deles com combustível no carro, porque o deserto é inóspito de tudo.

"Conhecer o Atacama e a experiência única: subida do vulcão Lascar", é assim que Cristina descreve a aventura. Ela e os primos de São Paulo, de 35 e 31 anos, encararam a subida. A dentista acompanha as trilhas do Sopa de Pedra há um ano e encontrou nos quilômetros percorridos no Estado, a segurança de que fisicamente, daria conta. "Foi o que deu bagagem para falar 'vamos embora'", explica.

No caminho da subida, antes mesmo de amanhecer.
No caminho da subida, antes mesmo de amanhecer.
Laguna Lejia a 4300 m. Atrás está o vulcão Lascar, objetivo da viagem.
Laguna Lejia a 4300 m. Atrás está o vulcão Lascar, objetivo da viagem.

A família optou por contratar um guia exclusivo, que andasse no ritmo do trio. De alerta, o guia disse que eles poderiam até desistir na subida e voltar ao carro, desde que ainda estivesse sob a os olhos dele. Em determinado trecho, isso já seria impossível. Mas ninguém precisou disso, deu muito certo.

"O vulcão fica a 70 quilômetros de San Pedro. Fomos de carro, o que dá 20 quilômetros de asfalto e mais 50 de 'costelinha de vaca', sabe? Quando vai trepidando o tempo todo? Não tem como desenvolver bem.

Nós saímos às 5h da manhã do dia 3 de janeiro, eles aconselham que esse seja o último passeio por causa da altitude. Aí nosso corpo já está aclimatado. Foi amanhecendo 6h30 da manhã e tomamos café no caminho, perto de um lago maravilhoso. Estava -2 graus de temperatura, mas não tinha vento, o que deixava agradável. 

Começamos a subir 7h30 e a cor do céu foi mudando. O Lascar é um vulcão ativo, que tem cheiro de enxofre e fumarola dentro dele. Tinha um monte de gente subindo aquele dia e demos sorte, porque a previsão era que viria uma frente fria e chuva. 

De carro, subimos 1,4mil m de altitude. Paramos mais ou menos em 4,7 mil metros e já estacionamos para baixo. Tem de deixar o carro assim, senão ele não pega. Nosso objetivo era a cratera do vulcão, a 5,5 mil metros, então foram aí uns 800m de subida. Tem que ter muito psicológico e vai do organismo da pessoa, eu posso me adaptar na altitude, você não. É fisiológico mesmo.

Na subida, o guia espanhol, os primos e Cristina.
Na subida, o guia espanhol, os primos e Cristina.

Tínhamos três objetivos: a primeira, segunda e terceira etapa. Quando chegamos na primeira, comemoramos. Chega a 5 mil metros, o ar vai ficando pesado, comprimido, a respiração fica mais difícil, parece que falta ar.

O guia sugeriu de fazermos um passo de cada vez. Ia passo a passo e cada passada era uma respiração para puxar oxigênio. O grau de dificuldade não é grande, não exige técnica, é a altitude e o organismo que se adapta à ela.

No meio do caminho, a gente via gente que ia caindo de lado, acho que dava tontura, mas levantavam e subiam devagar. Também vi gente desistindo e quem queria ir embora. 

No trecho final, o mais lento ia na frente, porque ele quem dita o ritmo do grupo e o mais rápido, atrás. Eu vinha no meio. Lá é arenoso, tem pedregulho, é um areião fofo que às vezes afunda a bota toda. 

O que eu pensava na subida? A respiração é tão difícil que não dava nem para tirar foto. Você vai no compasso da respiração e tem que se concentrar mesmo. É um passo de cada vez para chegar lá em cima.

O tempo médio são 3h de subida e mais 1h de descida, mas a gente deve ter feito 3h30 de subida e 1h30 para descer. E é surreal. É uma altitude que você nunca pensa em chegar. Não senti dor nenhuma, embora o cansaço fosse extremo. 

Quase quase lá.
Quase quase lá.
Um dos pontos de parada no vulcão.
Um dos pontos de parada no vulcão.

E quando chegou? A paisagem lá é surreal. Se compensa? Compensa e tem mais o desafio. Mas só pudemos ficar 15 minutos, porque não é bom respirar o enxofre. A minha sensação ali, de terminar, foi de alívio por ter chegado no objetivo, mas depois se mistura porque vem a cratera e é uma imagem que eu nunca vi. Fui apresentada à cratera de um vulcão que é ativo. 

A descida para mim não foi fácil. Eu estava lenta, mas não parei nem para fazer um descanso. Só puxava o fôlego, o oxigênio e ia indo. Chegamos 4h30 da tarde, foi um passeio de quase 12h, porque tem o trajeto de ida, subida, descida e o de volta. Não sei se a altitude dá sono, se foi o enxofre, mas eu dormi o caminho de volta todo.

O Atacama é um lugar de extremos. É o deserto mais seco do mundo, com uma altitude de 4 ou 5 mil metros. Existe um desconforto e para ir, você tem que gostar um pouco de aventura. Se eu faria de novo? Não teria problema em fazer, mas agora eu já conheci e quero me arriscar em outras partes. 

Se me perguntarem Paris ou Atacama? Eu vou sempre escolher a natureza".

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 Salar Águas Calientes, no Chile.
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Entre Paris e a natureza, Cristina sempre vai ficar na segunda opção.
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