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Comportamento

No desafio de organizar um casamento homoafetivo, cerimônia terá até dois buquês

Paula Maciulevicius | 25/11/2013 06:25
Julian e Gustavo protagonizam o casamento homoafetivo com direitos que vão além do papel: de uma festa como os casamentos convencionais. (Fotos: Marcos Ermínio)
Julian e Gustavo protagonizam o casamento homoafetivo com direitos que vão além do papel: de uma festa como os casamentos convencionais. (Fotos: Marcos Ermínio)

Na quarta-feira desta semana eles sobem ao altar para dizer o ‘sim’ um ao outro. Vestidos de branco e marinho, o casal cruza ocorredor na cerimônia juntos, carregando nas mãos um terço e nos olhos, a emoção de ver o dia chegar.

O produtor de moda Julian Medina e o maquiador profissional Gustavo Make protagonizam o casamento homoafetivo com direitos que vão além do papel. O que a Justiça lhes garantiu em maio deste ano, eles celebram com discrição, mas toda pompa e circunstância de um casamento convencional. A cerimônia inclui uma manifestação laica, com jantar, bem-casados e até a jogada de dois buquês para os solteiros. Tanto elas, como eles.

Foram quatro meses de planejamento e contagem regressiva para o grande dia. A decisão de se casarem foi para oficializar a união por questões de direito. “No plano de saúde já perguntaram o vínculo e como não temos o mesmo sobrenome, havia certa resistência. Mas a partir do momento em que foi estabelecido o casamento, não tivemos dificuldade, vamos oficializar pela questão jurídica e por ser bastante importante para nós”, explica Julian.

Apesar de estarem juntos há alguns anos, o casal mantém uma postura contida por questões até profissionais. Aceitar a falar do casamento não foi visto como exposição e sim como serviço à população que pretende dizer sim ao companheiro e também para o mercado dos matrimônios, que deve se adequar aos noivos de mesmo sexo.

Para Julian, o casamento é até uma forma de demonstrar aos amigos e familiares de que tudo é possível.
Para Julian, o casamento é até uma forma de demonstrar aos amigos e familiares de que tudo é possível.

Em quatro meses, o que para muitos noivos seria um período de arrancar os cabelos, Julian e Gustavo garantem ter sido tempo suficiente para planejar o enlace. Como Gustavo trabalha no meio, a cerimônia dos dois foi uma mera questão de detalhes. “A gente já sabia os profissionais que queríamos e deixamos eles muito à vontade para chegar e falar não”, conta Gustavo. Mas a reação dos fornecedores e do cerimonial, escolhidos à dedo, foi oposta. Ninguém recusou, todos disseram ‘sim’ como se declarassem à sociedade que todo noivo tem direitos iguais.

Para Julian, o casamento é até uma forma de demonstrar aos amigos e familiares de que tudo é possível. Nos preparativos, desde a joalheria para a escolha das alianças, até a loja que recebeu a lista de casamento dos noivos, não houve qualquer olhada diferente, ou trejeito que pudesse ser interpretado como preconceito.

“Estamos abrindo caminhos”, destaca o produtor. E de fato estão. Enquanto nos cartórios, os formulários ainda colocavam os dados de ‘noivo’ e ‘noiva’, a própria funcionária admitiu que eles teriam de se adequar.

“A cerimonialista colocou nossa foto junto dos casais convencionais. Perguntamos, mas você vai colocar? Ela disse claro”, contam.

A cenografia teve de ser criativa. Nenhum dos dois queria botão de rosas, por exemplo. “E eles foram adaptando à nossa personalidade, o que a gente gosta, de design contemporâneo”, avaliou Julian.

Gustavo conta que deixou os fornecedores à vontade e para surpresa deles, ninguém recusou o convite de fazer a cerimônia.
Gustavo conta que deixou os fornecedores à vontade e para surpresa deles, ninguém recusou o convite de fazer a cerimônia.

Entre a lista de convidados, um número restrito de familiares e amigos, os quais Julian e Gustavo sentiam certa obrigação de devolver tanto carinho. Parte deles são religiosos e até pensando em não constragê-los diante disso, os noivos pensaram na cerimônia laica.

“Até isso, esse paradigma foi quebrado. Todos eles aceitaram o convite, só tem uma madrinha que não vai poder vir, porque sofreu um acidente. Foi a nossa surpresa”, descreve Julian.

O bom atendimento em todas as áreas de um casamento é visto por eles como reflexo da postura que adotaram, de serem acima de um casal, consumidores.

Das tradições do grande dia, apenas a marcha nupcial foi substituída pela música de Maria Gadú na entrada. Antes dos noivos passarem, uma dama deixa flores no caminho e as alianças serão levadas por uma adulta, amarradas em uma bola de pérola. Na troca das alianças, Ave Maria, cantada por Juci Ibanez embala o momento.

O pode beijar que vai ficar para depois. O beijo que sela o fim dos casamentos não será dado na presença dos convidados, com a justificativa de evitar qualquer situação de constrangimento. Como um ato íntimo, o primeiro beijo como casados será dado sem plateia.

“As pessoas precisam ver como é um casamento. Somos cidadãos de direitos iguais”, diz os noivos, que muito em breve, estarão casados.

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