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Comportamento

O que muda quando 1º contato com a violência é assassinato e prisão no Paraguai?

DJ Diogo Bacchi virou personagem de um crime e chegou a ser apontado como alvo de pistoleiros

Thailla Torres | 06/10/2016 07:41
Sobre os rumores após o crime, Diogo afirma que os boatos nunca fizeram sentido. (Foto: Fernando Antunes)
Sobre os rumores após o crime, Diogo afirma que os boatos nunca fizeram sentido. (Foto: Fernando Antunes)

Quando Diogo saiu de Campo Grande para se apresentar como DJ em uma festa na fronteira entre Brasil e Paraguai, não tinha noção de que a vida daria uma volta entre o medo e a sorte. Viu a violência de perto pela primeira vez e da pior maneira. Virou personagem de um assassinato, foi preso e apontado como alvo real dos pistoleiros. Toda repercussão e boataria acabaram mudando os passos do músico que hoje encara a vida com outro olhos e fortaleceu a carreira, justamente, na adversidade.

Diogo Bacchi, tem 33 anos, é publicitário e DJ desde os 23. Em Campo Grande se tornou um dos mais requisitados na noite do som eletrônico.

No dia 27 agosto estava em Pedro Juan Caballero, para uma reinauguração de boate na cidade, quando na mesma noite o colega, o policial militar Douglas Danilo Vitória Duarte, de 34 anos, foi morto a tiros em frente ao hotel onde Diogo e mais quatro amigos estavam hospedados.

"Fiquei uns dias em choque, ainda estou só uns 80% bem. Depois que voltei, eu sonhava e fiquei em pânico pela violência. Ele (Douglas) era muito querido, brincalhão e eu nunca imaginava”, descreve Diogo.

Na época, a polícia paraguaia chegou a divulgar que o alvo dos tiros seria o DJ, mas a rotina normal atualmente indica que a versão nunca passou de boato. “Em nenhum momento fui ameaçado, não tinha o que temer. Tanto que eu fui lá para tocar”, afirma.

Após a execução, Diogo ficou cerca de 20 horas preso em uma delegacia do Paraguai, incomunicável. Foi exposto em manchetes diversas vezes com seu nome envolvido nas investigações, inclusive, aqui no Campo Grande News. Agora, o desafio é seguir adiante depois de tanta repercussão, tanto para o bem, quanto para o mal.

Diogo em noite na Valley Tai. (Foto: André de Abreu/Divulgação)
Diogo em noite na Valley Tai. (Foto: André de Abreu/Divulgação)

Em entrevista ao Lado B, o músico falou das lições que ficam de um momento quase surreal.

Ele diz que ganhou destaque porque é uma pessoa conhecida. “Toda essa polêmica que teve em cima de mim, foi por conta da carreira. Porque se eu não fosse DJ, meu nome nem iria ser citado. Tanto que ninguém enfatizou a carreira dos outros que estavam lá”, comenta sobre os quatros amigos que estavam na cidade e também foram ouvidos pela polícia.

Apesar de evitar o assunto, admite que a vida já não é a mesma. O crime colocou o DJ mais na defensiva. “Serviu para eu refletir em várias coisas, rever conceitos, amizades com que eu ando e coisas que possam dar motivo e margem para falarem de mim”, pontua.

Uma das piores experiências foi a prisão no Paraguai. As horas atrás das grades, foram marcadas de angústia e a incerteza do que viria pela frente. “Estava meio transtornado, só eu sei o que eu passei. Eu não tinha o que fazer, só ficava olhando para as paredes pensando no porquê de estar ali, sendo que eu sabia que não tinha nada a ver comigo”.

Também foi a primeira vez em que o medo da morte ganhou outra dimensão. “Eu tinha uma certeza, mas senti medo por toda história. Porque estavam criando coisas sobre mim, pensei então no que mais seriam capazes de fazer. Por mais certeza que eu tinha que não fosse pra mim (os tiros), você fica com medo né... Até porque já tinha morrido um e eu fiquei preso sem motivo”, desabafa.

Depois que voltou a Campo Grande, Diogo enfrentou julgamentos, comentários e fama pelas notícias negativas. Teve apresentações canceladas, mas continuou de cabeça erguida, graças à presença de amigos dando força a cada nova festa. “Depois disso cancelaram três datas, mas eu não deixei cair. Aconteceu tudo e muita gente achou que iria me afetar. Mas fui firme para seguir com a carreira”, diz.

Apesar de tentar manter distância do que ocorreu, ele admite que carrega certo peso pelo assassinato. “Mesmo que eu não tenha culpa, morreu uma pessoa que foi comigo, mesmo que tenha ido em carros diferentes, ele foi por minha causa, porque ele também iria na festa. Pessoas tentaram usar dessa tragédia para me prejudicar."

Sobre a família de Douglas, Diogo garante não ter mais contato. As conversas se limitaram aos dias após o crime e apenas pelo Whatsapp. "Amigos e familiares dele entraram em contato comigo perguntando o que aconteceu e eu falei", resume. 

Questionado se as pessoas vão associar a tragédia ao sucesso dele, Diogo é decidido em dizer que não há nada para esconder. “Teve gente que falou que era melhor eu fazer um intercâmbio e ofereceu lugar para eu morar fora. Mas penso que se eu fazer isso, iria parecer que tinha feito alguma coisa errada", justifica.

Há 10 anos na música eletrônica, Diogo lembra que sempre foi apaixonado pelo estilo por influência da família, mas não imaginava que seria DJ. “Eu não sonhava em ser DJ profissional, minha família sempre foi mais voltada ao sertanejo e no início eram contra, achando que a carreira não seria rentável. Mas aos poucos foram dando credibilidade”, conta.

Ele começou tocando em festas, tem 30 músicas autorais e hoje é DJ residente da casa noturna Valley Tai em Campo Grande, toca de quinta a sábado.

Pela agenda retomada, parece que, pelo menos na carreira, os efeitos da violência no Paraguai já são passado. No dia 14 de outubro, Diogo Bacchi toca no show de Wesley Safadão, durante a festa Garota White.

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No dia 14 de outubro, Diogo Bacchi toca no show de Wesley Safadão, durante a festa Garota White. (Foto: Rafael Duarte/Divulgação)
No dia 14 de outubro, Diogo Bacchi toca no show de Wesley Safadão, durante a festa Garota White. (Foto: Rafael Duarte/Divulgação)
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