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Comportamento

Portão de ferro de 1918, que dividia a cidade em 2, sumiu sem deixar rastro

Naiane Mesquita | 18/03/2016 06:12
Quem olha a região onde o Portão de Ferro ficava não imagina que ali existia uma grande propriedade chamada Fazenda Bandeira (Foto: Fernando Antunes)
Quem olha a região onde o Portão de Ferro ficava não imagina que ali existia uma grande propriedade chamada Fazenda Bandeira (Foto: Fernando Antunes)

No tempo em que as guaviras ainda cresciam livres e o goiabal era o responsável pela sombra mais gostosa da região, um Portão de Ferro separava Campo Grande em duas. Instalada na então avenida do Contorno, hoje Salgado Filho, com a Bandeirantes, a estrutura abria e fechava para cada andarilho que decidisse se aventurar pelas terras em pleno desenvolvimento. Hoje, breve lembrança de uma história, a peça parece ter passado de mãos em mãos até cair no esquecimento e sumir de herdeiros e museus.

Imagem do portão só na capa do livro, como uma ilustração do Portão de Ferro de 1918 (Foto: Fernando Ientzsch)
Imagem do portão só na capa do livro, como uma ilustração do Portão de Ferro de 1918 (Foto: Fernando Ientzsch)

A fama do portão, que foi instalado em 1918 e retirado só após a divisão da Fazenda Bandeira, em 1940, por algum tempo deu nome a toda a região do bairro Amambaí, um dos mais antigos da Capital. Um pouco dessa história é contada no livro “O Portão de Ferro – Memórias”, do escritor Milton Vicente Ferreira, editado e lançado em 1980. Desde então, pouco se sabe da trajetória do portão famoso.

No livro, Milton afirma que o Portão foi retirado assim que a fazenda foi dividida em lotes e chácaras. “Um dos compradores de algumas dessas chácaras, senhor Júlio Baís, retirou o Portão de Ferro e o levou para uma de suas propriedades, conservando tão importante peça histórica”, descreve.

Segundo o escritor, no entanto, após o lançamento da publicação em 1980, ele mesmo teria convencido os herdeiros a doar a peça para a Prefeitura Municipal de Campo Grande, para o então Museu José Antônio Pereira. “Fizemos um termo de doação em cartório. Tenho certeza que o portão foi passado para a prefeitura”, garante.

Com a busca do Lado B pela peça histórica, a família Baís se interessou novamente pelo acervo perdido, mas sem sucesso.

Marcos Baís, 59 anos, bisneto de Bernardo Franco Baís, chegou a entrar em contato com quem estaria em posse do portão, mas recebeu a mesma informação, que ele teria sido doado ao museu.Lá, nada foi encontrado. "Agora, vamos em busca de onde estará o portão", afirma.

A doação que teria acontecido em 1980 não chegou a ser incluída no acervo oficial do local. Ao menos é o que afirma a gestora museu, Marta Ramos. “Desde 1999, quando o museu foi aberto ao público e eu trabalho no local, nunca ouvi falar do Portão de Ferro. Não existe uma peça assim aqui”, frisa.

A data de doação é de 1980, sendo que o museu foi tombado como patrimônio municipal em 1983 e só aberto a comunidade em 1999.

Hoje, aposentado e morando em Piraputanga, Milton recebe com tristeza a notícia do sumiço do portão. “Foi o quinto livro da minha carreira. Resolvi escrever porque foi o local onde eu nasci e vivi, na região do portão. Meu pai e meus tios cresceram naquela região, tem um capítulo em homenagem a um dos meus tios. Eu mesmo convenci a doar o portão para o museu como forma de preservar”, diz.

Portão de Ferro - Milton diz que o Portão de Ferro foi colocado na Salgado Filho, um pouco antes da então avenida Bandeirantes. “Era a referência da região, o portão e o Moinho de Vento. Não sei se tem mais resquícios dele lá. O portão é como a ilustração do livro, igual, espero que encontrem a peça”, afirma.

A região do Portão é onde hoje estão as vilas Taquaruçu, Nova Bandeirantes e Guanandi. Foi colocado na Fazenda Bandeira, que foi de propriedade de Amando de Oliveira, ex-prefeito de Campo Grande e assassinado ainda em mandato. Após a morte, a esposa do político vendeu a propriedade para a companhia inglesa John Mood, que aumentou a criação de gado.

O problema residia no fato de que para os viajantes das regiões de Dourados, Aquidauana e Nioaque chegarem ao centro da cidade eles precisavam abrir e fechar a porteira da Fazenda Bandeiras. A maioria deixava aberta e o gado fugia. Cansado, o proprietário trocou a porteira diversas vezes até chegar no Portão de Ferro em 1918.

“Os meninos daquela época, inclusive o meu pai e meus tios, adoravam ficar quase o dia todo abrindo o portão para os transeuntes, que lhes jogavam moedas. Segundo relato do meu tio Tiriva, quando alguém atirava moeda de quinhentos reis, dava o maior quebra-pau na disputa da mesma”, descreve Milton no livro.

Anos mais tarde, a companhia vendeu a propriedade para a Senhora Rolin, que em 1932 teve que abrir a mando da prefeitura, uma estrada definitiva na fazenda. Em 1940, com o progresso, os irmãos Rolin lotearam a Fazenda Bandeira, da avenida Bandeirantes para cima cortou-se em lotes de 20x60, para baixo, cortou em chácaras de várias dimensões. Um dos compradores da chácara, Júlio Baís retirou o portão e o levou para a Fazenda Rondinha, onde permaneceu até 1980.

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