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Comportamento

Sanfoneira lança livro com histórias de quem um dia foi chamado de "leproso"

Elverson Cardozo | 12/07/2014 07:52
Lenilde passou 30 anos dentro do hospital. (Foto: Arquivo Pessoal)
Lenilde passou 30 anos dentro do hospital. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nenhuma experiência marcou tanto a musicista, produtora cultural e jornalista Lenilde Ramos, 62, quanto os 30 anos que ela passou dentro do Hospital São Julião, em Campo Grande. A vivência com os leprosos, hoje chamados de hansenianos, rendeu um livro, o "História sem Nome - lembranças de uma menina quase gêmea", que será lançando, pela segunda vez, no dia 16 de julho.

Os 500 exemplares da primeira edição, publicado em 2011, esgotaram rapidamente. A aceitação foi tanta que, no final de 2012, a obra foi traduzida para o Italiano. Agora, será relançada com uma tiragem de 1.100 mil livros.

O trabalho tem base autobiográfica. Em 310 páginas, divididas entre 45 capítulos, Lenilde conta o que viu e viveu em três décadas de hospital. Quando entrou, a jornalista tinha 17 anos. "Comecei acompanhando um grupo de voluntários italianos. Entrei para tocar sanfona em uma festa do Dia dos Pais em 1969. A desculpa foi a música", revela.

A música permaneceu e o voluntariado se fortaleceu. "Comecei como professora dos doentes. Dava aulas, desde à alfabetização. Depois fui secretária. Fiz de tudo um pouco... Fui cerimonial, relações públicas e hoje continuo como voluntária", conta.

Lenilde se apaixonou tanto pela causa que passou a viver dentro do hospital. Casou e teve os filhos no espaço que muita gente, à época, evitava passar perto. Ela, ao contrário, fez questão de amadurecer lá dentro.

Acompanhou o sofrimento de muitos doentes que, durante anos, sentiram na pele o preconceito, literalmente. Reuniu histórias - que considera "punks" - e decidiu contá-las ao mundo. "Não posso guardar isso para mim. Tenho que compartilhar essa experiência de vida. Nunca vou ter outra tão forte".

A jornalista classifica o livro como uma obra humana e nada científica. "Não sei aplicar nem uma injeção, mas acompanhei a transformação dessa colônia, desse leprosário, em um espaço aberto. Faço o retrato de uma paisagem que não existem mais porque hoje em dia a hanseníase se cura com mais facilidade que a tuberculose", comenta.

O passado foi cruel. A doença não tinha cura, o hospital foi praticamente abandonado e os doentes ficaram à mercê. Na narrativa, Lenilde resgata fatos curiosos, como a viagem de um grupo de hansenianos que viajaram a pé, durante 3 meses, porque não conseguiram atendimento em um leprosário de Cuiabá, e também fala sobre as boas surpresas que o convíviu permitiu.

"A arte e a cultura teve um papael muito importante na transformação daquele ambiente. Descobri músicos, compositores e professores escondidos no meio da doença. Uma vez um velhinho trouxe um negócio embrulhando em um pano e quando abriu era um violino. Ele tocou e deixou todos boquiabertos. Tem coisas que lembro e até choro", afirma.

O livro não revela as identidades dos entrevistados, por isso foi batizado de "Histórias sem Nome". "A hanseníase deixou muitas sequelas físicas e emocionais. Não tenho o direito de invadir a intimidade dessas pessoas". As "lembranças de uma menina quase gêmea", que complementa o título, tem relação com a irmã, com quem sempre foi parecida.

No mês passado, a jornalista circulou com a obra entre as províncias da Lombardia e do Piemonte, no Norte da Itália. Em Turim, conheceu o casal Alfredo e Monica Di Maio, da La Piave, uma empresa de Logística que desenvolve projetos humanitários ligados ao esporte e à educação. Eles se interessaram pelo livro de Lenilde e assinam o apoio cultural da segunda edição.

Lançamento - A obra da musicista será lançada no dia 16 de julho, às 19h, no Centro Cultural José Octávio Guizzo, que fica na rua 26 de Agosto, 453, no centro de Campo Grande. No evento, Lenilde Ramos vai cantar e tocar. Três atores farão leituras dramáticas de pequenos textos. Alfredo e Monica Di Maio também estarão presentes.

Por enquanto, o livro ainda não está disponível em nenhum ponto de venda, mas pode ser aquirido direto com a autora pelos telefones (67) 9233-8855/ 3213-1385 ou pelo e-mail lenilderamos@gmail.com

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