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Comportamento

Tetraplégica da noite para o dia, Monic viveu o caos, mas agora volta a andar

Paula Maciulevicius | 06/01/2016 06:23
"Para quem não andava há um ano, hoje está subindo em cerca..." Legenda da foto publicada em setembro de 2015. (Fotos: Arquivo Pessoal)
"Para quem não andava há um ano, hoje está subindo em cerca..." Legenda da foto publicada em setembro de 2015. (Fotos: Arquivo Pessoal)

A sensação começou nos pés e subiu até o peito. Em 2013, o formigamento que Monic sentia fez com que ela caísse ao chão quando se levantou para ir da cama até o banheiro. Era feriado, dia 1º de maio, e só o começo da história. 

"Começou no pé, de repente subiu até o peito e não saía de jeito nenhum. Estava formigando para andar, até que um dia levantei, caí e já me colocaram na cadeira de rodas. Eu não podia mais ficar caindo. Só descobri que estava doente, quando parei de andar", lembra.

É por telefone que o Lado B conversa com ela. Moradora de Dourados, jornalista, assistente administrativo na Unigran, Monic Abdalla Moitinho tem 28 anos e há dois vê a vida se mexendo devagar. Um passo e depois o outro. Em São Paulo, ela espera os últimos exames para confirmar se o transplante de medula realizado no fim do ano passado foi como ela e os médicos esperavam.

O primeiro diagnóstico passado à ela e à família era de uma síndrome que apresentava sintomas parecidos. Foram mais de 60 dias assim até que uma segunda opinião médica revelou: um tumor estava comprimindo a medula de Monic. As vértebras estavam "moídas" por conta do tumor. A vida normal que ela tinha até então, foi interrompida. A jovem saiu da sala do médico para uma internação de urgência. "O médico disse que não sabia como eu estava viva ainda", completa.

"Um dia a vida me bateu com tanta força que me ensinou a resistir e confiar mais em Deus", diz Monic.
"Um dia a vida me bateu com tanta força que me ensinou a resistir e confiar mais em Deus", diz Monic.

A cirurgia foi realizada em Dourados, cidade onde ela vive com a família. Na mesa de operação foi feita uma descompressão muscular, a retirada do tumor e a artodrese, colocação de placas e pinos na coluna. "A medula é uma incógnita. O perigo de ter a atingido... Ninguém sabia com o que estava lidando", recorda Monic.

Os médicos levantaram a hipótese de não andar mais e indicaram, ainda no meio da cirurgia, que os pais procurassem por psicólogos.

"Saí tetraplégica. Os braços se enfraqueceram, não conseguia mexer e nem sentir as mãos", lembra. Era a mãe que dava comida na boca dela e a família que a levava da cama até o banheiro e ajudava no banho. Só com colar cervical, Monic ficou por três meses.

"Eu sentava uma vez por dia, não me mexia, era uma posição só o dia todo". O aparato tanto logístico quanto emocional dos pais, irmãos, cunhados, avós e amigos, fez com que Monic não se sentisse sozinha em nenhum momento. Ao mesmo tempo, ela fala que não dá para negar o desespero que foi perder tudo. "Toda a minha liberdade, foi tudo embora. Eu não fazia mais nada sozinha".

A irmã, fisioterapeuta, quem iniciou os trabalhos em casa mesmo. Meses depois da cirurgia, Monic mexeu pela primeira vez o dedão do pé. Foi motivo de comemoração e festa da família. "Foi fazendo muita força até mexer. Naquele dia a minha irmã me falou: pode ficar tranquila, você vai andar".

De maio até novembro daquele ano, Monic fala que foi carregada por algo maior a ponto de se lembrar de tudo, mas como se não fosse ela a protagonista daquele episódio.

A "marca" da vitória: cicatriz da cirurgia que descomprimiu medula, em 2013.
A "marca" da vitória: cicatriz da cirurgia que descomprimiu medula, em 2013.
Em novembro de 2013, os primeiros passos eram com andador.
Em novembro de 2013, os primeiros passos eram com andador.
A despedida das muletas veio em setembro de 2015. As que a "suportaram" durante 1 ano e meio.
A despedida das muletas veio em setembro de 2015. As que a "suportaram" durante 1 ano e meio.

"Parece que não fui eu. Eu sinto como se tivesse sido carregada por Deus. Não lembro como era não mexer nada, não andar. Eu fiquei muito agoniada, mas tinha a certeza que ia voltar a andar. Nunca me vi o resto da vida numa cadeira de rodas".

Antes que o ano terminasse, ela conseguiu ficar em pé sozinha e também caminhar com o andador. Contrariando a opinião dos médicos, ela estava determinada em dar os próprios passos. Foram três protocolos de quimioterapia, ou seja, três tentativas com drogas diferentes para combater o tumor.

Ao todo, enfrentou mais de 30 sessões entre quimio e radioterapia até chegar ao ano de 2015: no autotransplante de medula que consolidaria o tratamento. "Era a garantia de que ele não voltaria mais", descreve Monic. O autotransplante é a doação dela para si mesma e foi realizado em São Paulo, em novembro do ano passado.

De sorriso aberto, Monic anuncia aos amigos que o autotransplante, em novembro passado, deu certo.
De sorriso aberto, Monic anuncia aos amigos que o autotransplante, em novembro passado, deu certo.

"É como se você tivesse doando sangue, é feito no quarto mesmo", explica. A grosso modo, Monic resume que primeiro é feito um tratamento para estimular as células do osso que passam para o sangue, para então ser coletada a medula "boa" e armazenada. "Eles fazem como se fosse uma transfusão de sangue. Alguns dias depois vão refundir essa célula e colocam novamente a boa que eu tinha". A medula "pegou", em outras palavras: vitória para Monic.

E quanto aos passos? Na saída de Dourados para São Paulo, as muletas acabaram ficando em casa. "Tive que me virar", brinca Monic. A jovem caminha com liberdade, mas relata ainda ter alguns desequilíbrios.

"Voltar a andar foi maravilhoso. Me faz esquecer o que é o câncer diante de andar. É tão bom fazer as coisas sozinha. O tratamento para mim, foi um detalhe no meu do caminho". Desde setembro, Monic e parte da família transferiu a vida de Dourados para São Paulo.

Agora faltam dois exames para garantir o sucesso do transplante. A volta para o Estado está prevista para mês que vem. No Facebook e no Instagram, Monic escrevia passo a passo do tratamento. Do que viveu e sobreviveu nos últimos dois anos.

Os próximos planos consistem em se superar, cada vez mais. "É superar. Tenho muita coisa para fazer ainda. É recomeçar. A oportunidade que Deus te dá, tem que aproveitar".

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Essa é uma sugestão de pauta do colega de redação, Filipe Prado. 

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