ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  26    CAMPO GRANDE 31º

Comportamento

Como agricultor se transforma em um dos "malucos" do Centro da cidade

Ângela Kempfer | 16/07/2012 10:16
Em dia de pregação, no Centro de Campo Grande. (Foto: Minamar Júnior)
Em dia de pregação, no Centro de Campo Grande. (Foto: Minamar Júnior)

Um senhor, usando vestido e um megafone, falando uma língua que ninguém entende durante longas caminhadas por Campo Grande, é ou não é maluco? Ele próprio responde: “sou homem de Deus, mas sei que isso parece coisa de maluco.”

Para descobrir de onde surgiu mais esse personagem do Centro da cidade, o Lado B seguiu o homem até o Jardim Colúmbia, na saída para Cuiabá. Em uma rua de terra, cheia de buracos, no final do bairro, encontramos a casa de Toinho, o ex-agricultor que agora se diz profeta.

A primeira surpresa vem logo na recepção. A mãe de duas crianças pequenas, casada com um pedreiro, conta que mora em um dos imóveis de seo Toinho de graça. “Um dia ele encontrou o meu marido na igreja, soube da nossa história e ofereceu a casa. Em troca, só pagamos a conta de água”, diz a mulher que veio do Acre com a família em busca de trabalho.

Antônio Barbosa da Silva, de 72 anos, conhecido como Toinho aparece logo em seguida, de pijama e uma blusa grossa de lã. Desconfiado, pergunta como descobrimos o endereço. “Foi lá no Centro que vocês me viram?”, desvenda a charada.

A inquilina sortuda, que não paga aluguel. (Fotos: Simão Nogueira)
A inquilina sortuda, que não paga aluguel. (Fotos: Simão Nogueira)
Toinho canta em frende à casa humilde, no Jardim Columbia.
Toinho canta em frende à casa humilde, no Jardim Columbia.

É só saber que quem fala é uma jornalista e imediatamente ele começa a soltar frases estranhas “em línguas”, garante. “Você reparou que eu não estou mais falando em ‘portchuguês’?”, questiona com palavras emboladas, forjando um sotaque inglês.

Não só por curiosidade, mas para entender (ou tentar) como as pessoas se transformam, peço para o senhor contar como “descobriu Deus”.

A história começa em Anastácio, há 17 anos. Agricultor, com uma pequena chácara, ele diz que estava carpindo certo dia quando viu a imagem de um homem alto, "usando vestido branco", passando ao lado. “Foi eu jogar a enxada para ver quem ele era e o homem sumiu. Era um anjo, tenho certeza”, lembra.

Na hora, pediu à esposa que confeccionasse 10 vestidos iguais (não é bata, insiste ele). “Minha mulher falou que não ia fazer, porque o povo ia me chamar de doído”. Sem piscar, Toinho solta a bomba: “15 dias depois ela morreu com um prato de comida na mão”.

Certo de que a esposa morreu por desrespeitar um sinal divino, Toinho abandonou tudo, vestiu saias e começou a “evangelizar”. Dos cinco filhos, com nenhum manteve mais contato. “Estão em São Paulo. Nunca nenhum veio aqui me visitar”.

Durante a transição de pai de família a profeta das ruas, Toinho procurou a igreja Católica, depois freqüentou a Evangélica, mas nunca se deu bem. “Sempre era expulso. Mas olha, não tenho de seguir padre nem pastor, só preciso seguir a Deus. Quando eu morrer, tenho meu lugar no céu garantido”, diz com fé.

Sobre a maluquice em ter uma vida tão diferente, seo Toinho fala com lucidez: “Foi um caminho que eu resolvi seguir e agora não tem mais volta. Vou ser coerente”.

Nos siga no Google Notícias