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Comportamento

Contadora de histórias do “tempo do epa” e do “arco da velha”

Elverson Cardozo | 08/05/2012 10:54
"Se é lenda, não prejudica a vida de ninguém”,diz dona Maria sobre as histórias que conta. (Foto: Elverson Cardozo)
"Se é lenda, não prejudica a vida de ninguém”,diz dona Maria sobre as histórias que conta. (Foto: Elverson Cardozo)

Prestes a completar 80 anos, Dona Maria dos Anjos diz colecionar histórias “lá do tempo de Dom Corno”, mas, aos desconfiados, vai logo avisando: “Acredite se quiser”. “Pode colocar isso na sua reportagem”, recomenda.

“Porque a coisa quando é inventada a pessoa fica gaguejando. Quando é real não tem ‘guaguejação’”, completa.

Assombração ela chama de “vizagem”. Diz que já viu de perto e “com o olho aberto”. Quando a ainda era mocinha, relembra, ganhou o tesouro da dona de uma fazenda para quem os pais trabalharam.

A mulher morreu e quem lhe avisou que a fortuna havia ficado para ela foi uma assombração que chegou de madrugada. A “vizagem”, relatou, queria levar ela até o local onde a fazendeira deixou o tesouro enterrado.

“Lá tem 60 quilos de ouro puro”, afirma, acrescentando sabe o lugar do “enterro” até hoje. Conta que não tirou o tesouro porque é muito pesado e o trabalho de escavação deve ser feito sozinho.

Entre as muitas histórias, a aposentada coleciona relatos de lobisomem, saci-pererê, toco preto, bola de fogo, pássaro com asas gigantescas, gorilas que guardam enterros de ouro e até a assombração que fez da casca de milho um chinelo para se arrastar por uma antiga casa de escravos.

Histórias que provocam a curiosidade e são capazes de deixam qualquer um de “cabelo em pé”. Mineira da Barra do Machado, Maria dos Anjos diz gostar de contar causos “porque é uma coisa que não envolve a vida dos outros”.

“Você desabafa, se alegra. Se é lenda, não prejudica a vida de ninguém”, finaliza.

“Porque a coisa quando é inventada a pessoa fica gaguejando. Quando é real não tem ‘guaguejação’", diz a contadora de histórias.
“Porque a coisa quando é inventada a pessoa fica gaguejando. Quando é real não tem ‘guaguejação’", diz a contadora de histórias.

Dentre os fatores que me influenciaram a escolher o jornalismo como profissão talvez a possibilidade de contar histórias tenha sido um dos principais. Não nasci em família de jornalistas, nem de escritores, mas passei a infância ouvindo “histórias do arco da velha” e do ”tempo do epa”.

Na ausência de um comunicador, minha avó paterna sempre foi a “jornalista” da família. A única a saber da “notícia” quentinha, em primeira mão, mesmo que o furo de reportagem seja o barraco do vizinho ao lado.

Sem cerimônia, ela chega logo com as perguntas para, em seguida, soltar a manchete: Sabe quem morreu? Já viu quem mudou ali naquela casa da esquina? Mataram o cachorro da vizinha envenenado, ficaram sabendo?

A gente até já tentou conter essa “ânsia por informação”, mas não deu certo. Vovó é eufórica por notícias. Ela também tem versões próprias para lendas urbanas e contos folclóricos, por exemplo.

Relatos exclusivos e assustadores envolvendo assombrações, tragédias de todo tipo e até a dona morte, é o que não faltam.

Minha avó também é uma típica contadora de histórias, como Maria dos Anjos. Gente assim mostra ao Lado B como jogar conversa fora, longe dos computadores e celulares, pode fazer bem à alma.

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