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Consumo

Com só 8 filmes legendados em 32 sessões, quem não escuta nem vai ao cinema

Paula Maciulevicius | 27/07/2016 06:10
Legenda é preciso, diz Danilo, estudante de Ciências da Computação e deficiente auditivo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Legenda é preciso, diz Danilo, estudante de Ciências da Computação e deficiente auditivo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Pelas redes sociais começou a circular nesta semana o protesto de uma catarinense deficiente auditiva que não consegue ir ao cinema assistir à continuação de Nemo, "Procurando Dory", isso porque o filme só tem versão dublada. Em Campo Grande, a realidade é exatamente a mesma. Quem não ouve, não vai ao cinema. Nas três redes, das 32 sessões, apenas oito são legendadas e nenhuma delas envolve as animações. 

A desistência foi o caminho que o administrador de empresas, Christian Villaescusa Rodriguez, de 33 anos, tomou. "Quando não tem filmes legendados, desisto de ir". Na conta, o último filme que ele queria ter visto, mas não conseguiu foi o "Como eu era antes de você", porque só tinha dublado. 

"Tem que ter acesso igual para ambos, tanto legendado quanto dublado, de igual para igual", defende. As piores épocas, segundo ele, é quando entram as férias escolares, aí chove de filme dublado.

Acadêmica de Enfermagem, Elis de Souza Nogueira Ferreira, conta nos dedos que há cinco anos não vai ao cinema. O último longa que a jovem assistiu foi "Crepúsculo". "De sete filmes, um ou dois têm legenda. Olho pelo site antes para não perder a viagem", explica. Ela também queria assistir o "Como eu era antes de você", a única sessão na cidade com legenda era num horário ruim. 

"Não deu nem para ver Procurando Dory, porque não tem legenda. Aí eu não vou, sempre espero sair para locar e eu gosto muito de filmes", lamenta a estudante de 22 anos.

Surdos existem, Christian é um deles e não pode ir ao cinema. (Foto: Arquivo Pessoal)
Surdos existem, Christian é um deles e não pode ir ao cinema. (Foto: Arquivo Pessoal)

Estudante de Ciências da Computação, Danilo Marcheti Barbosa, de 24 anos, explica que a dificuldade está no entendimento. "Como as pessoas deficientes auditivos não ouvem os áudios, só lendo para entender melhor, por isso que filme com legenda é melhor para ler e entender. É como se fosse um livro", compara. 

Ele também acompanha as sessões e horários dos cinemas e percebe que só tem filme dublado. "Aqui em Campo Grande, tem filmes que estão legais, mas não tem legenda. O último que eu fui assistir, A Era do Gelo, não tinha. É difícil de achar, infelizmente", conta. 

Como todos, Danilo gostaria de melhorar a situação, para que os deficientes auditivos pudessem ter o direito às legendas. 

No Cinemark, das 14 sessões, cinco são legendadas: "Dois Caras Legais", "Chocolate", "Caça-Fantasmas", "A Lenda de Tarzan" e "Como eu era Antes de Você". No UCI, do shopping Bosque dos Ipês, das 11, apenas duas: "A Lenda de Tarzan" e "A Última Premonição", trazem legenda e no Cinépolis, dos sete filmes, só um é legendado: "Dois Caras Legais". 

Em nenhum deles se encontra as animações das férias, Dory e a continuação de A Era do Gelo. 

Na lei - De acordo com a o Artigo 42 da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, a pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. As salas de cinema devem oferecer, portanto, recursos de acessibilidade em todas as sessões.

E ainda, no artigo 2º da Lei de Acessibilidade, ficam estabelecidas as seguintes definições:

I – acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;

[…]; d) barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa.

Em 2 de dezembro de 2004, foi sancionado o Decreto-Lei nº 5.296, que especifica de forma mais clara como devem ser adaptadas as mensagens dos meios de comunicação às pessoas com deficiência sensorial. Com relação aos recursos, fica estabelecido o seguinte:

Parágrafo 2 º – A regulamentação de que trata o caput deverá prever a utilização, entre outros, dos seguintes sistemas de reprodução das mensagens veiculadas para as pessoas portadoras de deficiência auditiva e visual:

I – a subtitulação por meio de legenda oculta;

II – a janela com intérprete de LIBRAS;

III- a descrição e narração em voz de cenas e imagens.

O Lado B procurou ouvir as três redes de cinema de Campo Grande, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem. 

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