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Consumo

De dentro das celas, presas confeccionam grife com estampas fofas e feministas

Paula Maciulevicius | 17/09/2016 07:15
Rotina agora inclui costura dentro do presídio feminino de São Gabriel do Oeste. (Fotos: Divulgação)
Rotina agora inclui costura dentro do presídio feminino de São Gabriel do Oeste. (Fotos: Divulgação)

Há pouco mais de um mês, a vida de Cláudia e Rosa no presídio feminino de São Gabriel do Oeste, ganhou novas atividades. Corte, costura, molde e confecção. As mãos estão o tempo todo trabalhando, ora na máquina, ora na linha e agulha. O artesanato deixou de ser mera oficina para se tornar negócio e de dentro das celas, elas criaram a grife: D'Cela. 

O projeto veio da reestruturação do Conselho da Comunidade de São Gabriel, cidade 140 quilômetros distante da Capital. A ideia foi de criar linhas de produtos que sejam simples, acessíveis, úteis e que possam dar retorno financeiro às presas. E para quem compra, as estampas ganham pela graciosidade e firmeza na mensagem. Frida Kahlo é inspiração para o grupo de cinco presas que estão à frente do ateliê. 

Paranaense, Cláudia Angélica Vieira Rodrigues, tem 29 anos e três filhos grades afora. Em São Paulo, estado onde morou, já tinha trabalhado em oficina de costura e viu na ideia apresentada pela juíza da Vara de Execução Penal e presidente do Conselho, Samantha Ferreira Barione, um trabalho para chamar de seu.

Porta carregador de celular de Frida Kahlo.
Porta carregador de celular de Frida Kahlo.

"A doutora chegou com o projeto e foi selecionando as meninas para começar a trabalhar. Tem um mês e 15 dias", diz com exatidão. Cláudia é uma internas que se dedica ao ateliê montado dentro do presídio. "Eu gosto de costurar, mas acho melhor quando a gente vê o produto pronto, com acabamento, você fica mais incentivada e tem um carinho pela peça. Não acredita que você quem conseguiu fazer", descreve.

Dos 10 anos de pena a que foi condenada, por tráfico de drogas, ela já cumpriu dois. E a cada três dias trabalhados, vê um dia de prisão indo embora. "Eu tenho mãe e três filhos, então procuro mandar um pouco do dinheiro. O restante, usa aqui dentro com o que a gente gasta no dia a dia, uso próprio", completa Rosa de Fátima Oliveira do Prado, de 36 anos.

Rosa ainda está para completar um mês no projeto e foi no presídio que aprendeu a costurar. "Você vai olhando os moldes e costurando e depois vem as partes do acabamento", explica. Em São Gabriel do Oeste há três meses, ela já cumpriu cinco anos, dos oito de pena, também por tráfico. Mãe de quatro filhos, é para fora que ela vai mandar o dinheiro que entrar com as vendas.

"É um projeto bom, porque está incentivando a gente a ter uma profissão e é isso, as pessoas comprarem sem preconceito de vê que só porque a gente é presa, não vai ter um incentivo para outra vida?" questiona.

Nos preparativos de uma guirlanda.
Nos preparativos de uma guirlanda.
Puxa-saco e bate mão prontinhos.
Puxa-saco e bate mão prontinhos.

Juíza e uma das responsáveis pela implantação do projeto, Samantha explica que pela falta de espaço e escassez de vagas de trabalho dentro do estabelecimento, a primeira ideia foi de trazer alguma empresa para dentro, de forma a terceirizar a mão de obra das internas.

"O que pensei foi da gente começar fazendo o artesanato, montar uma ateliê onde os trabalhos manuais são valorizados pelo comércio", afirma a juíza. No entanto, em tempos de crise, a magistrada pensou que o produto final precisava fugir do supérfluo, que é o primeiro item a ser cortado em qualquer compra.

"Estamos sempre buscando um viés de utilidade, então é marcador de página de livro com porta-caneta, porta-carregador de celular, além da linha de cozinha", enumera Samantha.

Depois de buscar moldes do que poderia ser confeccionado, o Conselho fez a seleção de internas que tivessem noção de costura e crochê, para então ser redigido um projeto que prevê fins de empreendedorismo na atividade, como uma gestão de empresa.

"Criou-se a ideia e para agregar valor, não adianta fazer sem ter uma cara. Então criamos uma marca que possa desenvolver aqui dentro e ser comercializado até por outras empresas, a ideia é fabricar em larga escala", almeja a juíza.

O "D'Cela" veio para deixar claro a origem do produto e transportar nele a identificação com o presídio. "Pensamos, ele vem de onde? Vem da cela e saiu assim. Estamos usando esse nome e elas se sentem valorizadas, tenho percebido inclusive mudança de comportamento e também na fisionomia delas", descreve Samantha. 

O dinheiro é voltado para a compra de material e também revertido às presas que mandam para seus familiares. "A maioria tem filhos pequenos e a ideia é que com esse projeto, elas possam ser capacitadas e inseridas no mercado de trabalho formal e ingressar a ele de maneira lícita", resume Samantha.

Dentro do aspecto financeiro, a juíza também aborda a necessidade de se criar mecanismos para que o preso custe o menos possível para o sistema.

As peças são comercializadas a partir de R$ 10,00 e o preço máximo é R$ 50,00. A D'Cela aceita encomendas de todo o Estado e para Campo Grande, não há cobrança de taxa de frete. O projeto também está aberto para receber quem quiser ministrar oficinas e principalmente, doação de matéria-prima, como retalhos.

O contato pode ser feito pelo e-mail: d.celasgo@gmail.comFacebook ou Instagram.

Os fuxicos sendo feitos.
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Puxa-saco.
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Almofada com porta-controle.
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