ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 23º

Consumo

Manicure troca carro “do ano” por Variant 1970 e atende com uniforme vintage

Elverson Cardozo | 04/11/2014 06:23
Karen trocou o carro que tinha, um C3 modelo 2006 pela Variat de 1970 e está feliz. (Foto: Marcos Ermínio)
Karen trocou o carro que tinha, um C3 modelo 2006 pela Variat de 1970 e está feliz. (Foto: Marcos Ermínio)

Quinta-feira, 30 de outubro. 18h44. Voltando para casa, parado em um dos semáforos da Avenida Joaquim Murtinho, em Campo Grande, a imagem de uma Variant bege, envelopada com os dizeres “Ligue Manicure – 15 anos embelezando unhas”, e ilustrada com a foto de uma pin-up, chamou minha atenção.

De dentro do meu carro tentei ver o (a) motorista, mas como estava em um posição desprivilegiada, a uns três metros de distância e na faixa oposta, só dei conta de perceber que era alguém de cabelo curto, um homem talvez. O sinal abriu rápido.

Engatei a primeira e saí, mas, antes disso, fotografei a cena para, depois, ligar no número que completava o anúncio fixado nas laterais e no vidro de trás. Aquele carro, pensei, teria alguma história. E tem mesmo, descobri essa semana, quando liguei e, do outro lado da linha, Karen Gonçalves Campos, de 34 anos, me atendeu.

“É um sonho meu desde criança e que está materializado hoje", diz, sobre o Ligue Manicure, serviço a domicílio. (Foto: Marcos Ermínio)
“É um sonho meu desde criança e que está materializado hoje", diz, sobre o Ligue Manicure, serviço a domicílio. (Foto: Marcos Ermínio)

É ela quem dirige a Variant. E é ela, também, que encarna o estilo vintage, na figura de uma manicure de sorriso aberto, cheia de personalidade, toda estilosa, de cabelo preto curtíssimo, com tatuagem de Fusca vermelho na perna direita e joaninhas em meio a ramalhetes, desenhados no braço esquerdo.

O uniforme, composto por uma blusa florida, avental verde e sapatilhas pretas, dá ainda mais originalidade à mulher, que carrega, no meio do peito, um crucifixo e, do lado esquerdo, o próprio nome, em um crachá retangular de aço inoxidável.

Karen roda Campo Grande assim há um ano, desde quando decidiu trabalhar sozinha, “fazendo unhas” de casa em casa. A nova forma de atendimento é, de certa forma, novidade para ela, mas é a concretização de um sonho antigo.

A mulher aprendeu a profissão com a mãe, também manicure, aos 13 anos, e por 15 trabalhou com ela, na própria residência, e em salões conhecidos até que, em 2013, resolveu empreender e criou o “Ligue Manicure”, para atender as clientes em casa.

A ideia deu certo e saiu do jeitinho que ela pensou. “É um sonho meu desde criança e que está materializado hoje. Eu queria um carro antigo, uniforme retrô, com crachá. Também queria prestar um atendimento no modelo antigo, de eu chegar, fazer a unha e pintar, sem fazer desenhos”, conta.

Ferramentas de trabalho e esmaltes vão na traseira do carro. (Foto: Marcos Ermínio)
Ferramentas de trabalho e esmaltes vão na traseira do carro. (Foto: Marcos Ermínio)

Karen é uma manicure “das antigas”, tradicional, mas super moderna. O uniforme romântico, com detalhes floridos, foi ela quem desenhou e pediu para uma costureira fazer. O carro retrô foi adquirido em um “rolo” que, para muita gente, parece loucura.

A mulher trocou o Citroën C3 (2006, completo) que tinha pela Variant, fabricada em 1970. São 36 anos de diferença, mas ela não se arrepende.

“Saí perdendo, mas foi por amor. Esse carro é minha cara. Não tem outro. É do jeito que sonhei”, diz, ao comentar que, por muito tempo, buscou um Fusca vermelho, do pai, que a mãe havia vendido quando o marido faleceu. Como não encontrou, se contentou em tatuá-lo na perna e em em dirigir outro modelo.

A Variant, por si só, chama a atenção porque é um carro antigo, difícil de achar circulando. Envelopado, com a marca de Karen em detalhes na cor roxa, atrai ainda mais curiosos. “O povo tira foto, oferece dinheiro nele. Já chegaram a oferecer R$ 13 mil e 15 mil, mas eu não vendo não”, avisa.

Karen não usa chave de roda, mas domina o alicate de cutícula como ninguém. (Foto: Marcos Ermínio)
Karen não usa chave de roda, mas domina o alicate de cutícula como ninguém. (Foto: Marcos Ermínio)
Estilo chama a atenção. (Foto: Marcos Ermínio)
Estilo chama a atenção. (Foto: Marcos Ermínio)

Dá problema? “Dá sim, mas já estou aprendendo a resolver sozinha. O que mais acontece é arrebentar cabo de acelerador, de freio, mas são coisas fáceis de colocar. É só dar uma parafusadinha. Dou conta. Só pneu que não troco”, diz.

Karen não pega no macaco e nem na chave de roda, mas domina muito bem o alicate de tirar cutícula e as outras ferramentas, que carrega na parte de trás do carro.

Com ela não tem moleza. A manicure, quando chega para trabalhar, desce com a “tralha” toda, sobe escada carregando a maleta de esmaltes, a cadeira e outro suporte . O esforço faz parte da rotina e, no fim, gera bons resultados. “Perdi 15 quilos depois que comecei a trabalhar”, conta.

O importante, para ela, é fazer o serviço direito. “Gosto de fazer unha. É uma coisa que amo fazer. Adoro ver pé e mão bem feitos e as transformações que faço. É uma satisfação e sinto que minhas clientes ficam muito felizes. Chego a mudar o humor de uma pessoa fazendo as unhas dela”.

Atendimento em casa é uma vantagem para as clientes. (Foto: Marcos Ermínio)
Atendimento em casa é uma vantagem para as clientes. (Foto: Marcos Ermínio)

Cliente dela há aproximadamente 7 meses, a pedagoga Ana Carla Gomes Rosa, de 39 anos, só tem elogios e diz que a profissional se destaca pela originalidade. “Ela é toda descolada. Trocou o carro para se adequar à realidade dela. Eu gosto”.

Karen mais ainda. Ela já chegou a fazer outra coisa. Por um tempo, na adolescência, trabalhou como vendedora, mas descobriu que gosta mesmo é de “fazer unhas”.

“Muita gente pensa que as pessoas viram manicure porque não deu certo em outra coisa e não é assim. É uma questao de ser e estar. Eu sou. Eu não estou manicure. Nunca pensei em fazer outra coisa”, garante.

Serviço - A manicure atende apenas mulheres e trabalha de terça à sábado, das 7h30 às 18h. Pé e mão sai por R$ 40,00. Agendamentos devem ser feitos pelo telefone (67) 9195-3535.

Manicure passa imagem de "mulherzinha", mas dá um duro danado. (Foto: Marcos Ermínio)
Manicure passa imagem de "mulherzinha", mas dá um duro danado. (Foto: Marcos Ermínio)
Nos siga no Google Notícias