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Conversa de Arquiteto

Edifício Olinda e Nacao, o inicio da arquitetura modernista em Campo Grande

Ângelo Arruda | 21/09/2016 10:51
Croqui de Oscar Niemeyer para o Colégio Estadual
Croqui de Oscar Niemeyer para o Colégio Estadual

A década de 30, particularmente, o ano de 1936, é muito significativa para a história da arquitetura erudita brasileira, pelos projetos do Ministério da Educação e Saúde, de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e equipe, segundo Carlos Comas, além da obra do Berço, de Oscar Niemeyer e da sede da Associação Brasileira de Imprensa – ABI dos irmãos Roberto, no Rio de Janeiro, em 1936 e do Edifício Esther, de Álvaro Vital Brasil, em São Paulo, de 1935.

A arquitetura destes edifícios, que foram projetados seguindo uma arquitetura com referência na doutrina corbusiana, evidenciavam já naquela década, a chegada da arquitetura moderna no Brasil enquanto que em Campo Grande, esta arquitetura vai se evidenciar nos anos 50.

Os anos 40 e 50

Um novo panorama econômico surge nos anos 40, com as imposições comerciais provocadas pela segunda guerra Mundial (1936-1945), com graves consequências para a construção civil em função da dependência brasileira na importação de materiais básicos como o ferro e o cimento. Somente no final da década, é que começam a serem construídos alguns edifícios de importância para a arquitetura local.

A verticalização da cidade se inicia em 1947, com a construção do Edifício Olinda, na Av. Afonso Pena esquina com a Rua 14 de Julho e projetado pelo Eng.º. Otávio de Mendonça Vasconcelos e construído pelo Eng.º. Amélio Baís. Um ano após se inaugura o Edifício Santa Elisa, atual Edifício Nacao, de 1948, projetado e construído pelo Eng. Joaquim Teodoro de Faria, na esquina da Rua Dom Aquino. A Rua 14 de Julho, principal via comercial da cidade - que ganhou impulso comercial a partir dos anos 20 com a construção da estação de passageiros e dos terminais de carga da ferrovia Noroeste do Brasil - possuía uma tipologia horizontal com casas comerciais térreas ou assobradadas. Com a presença desses dois edifícios, o perfil da rua foi então alterado.

Tanto o Edifício Olinda e Edifício Nacao, já apresentavam sinais de modernidade em sua arquitetura, com a adoção de planos frontais retos e aberturas de janelas definindo a composição das fachadas, marcadas pela verticalidade, apesar da volumetria arredondada de implantação em esquina.

Em 1950, a cidade de Campo Grande já contava com 39.164 habitantes, segundo o IBGE. Em 1953, o Governo do Estado de Mato Grosso inicia a construção da primeira obra de arquitetura moderna, a atual Escola Maria Constança de Barros Machado, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (Fig. 4), localizada na Rua Y Juca Pirama, atual Rua Cândido Mariano. Na realidade esse projeto construído em Campo Grande é a repetição do mesmo projeto elaborado para a atual Escola Maria Leite de Barros, na cidade de Corumbá/MS, fronteira do Estado de Mato Grosso do Sul com a Bolívia.

Vista aérea do Colégio Estadual em 1960
Vista aérea do Colégio Estadual em 1960

O Colégio Estadual Maria Constança – primeiro nome Liceu Campo-grandense, Ginásio Campo-grandense, depois Colégio Estadual Campo-grandense - contribuiu para as modificações da arquitetura da cidade.

Foi edificado pela Construtora Comércio Ltda. e teve como responsáveis técnicos os engenheiros Hélio Baís Martins e José Garcia Netto. A obra foi fiscalizada pelo arquiteto João Thimóteo da Costa, do Departamento de Obras do Governo em Cuiabá. Inaugurada no ano de 1954, essa obra é o marco da arquitetura moderna em Campo Grande.

Planta do Colégio Estadual
Planta do Colégio Estadual

Ainda na década de 1950 começam as atividades profissionais de vários engenheiros que se formam em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Hélio Baís Martins, Anees Salim Saad, Gabriel do Carmo Jabour, dentre outros, se destacam pela tipologia dos projetos e obras construídas.

Hélio Baís projeta, nos anos 50, a sua residência e a de Plínio Barbosa Martins na Rua sete de Setembro e as residências de Magno Coelho, na Rua Barão do Rio Branco e de Laucídio Coelho, na Avenida Afonso Pena, em 1959, edifícios com elementos de arquitetura moderna, dentro dos padrões, da estética e da linguagem da arquitetura carioca, com telhado inclinado (teto - borboleta), utilização de materiais de revestimento contemporâneos e grande preocupação com a proteção solar, com o uso de brise-soleil, dentre outros elementos.

Annes Salim Saad projeta o escritório da Comissão de Estradas de Rodagens de MT, na Av. Afonso Pena, em 1957 e o Banco Agropecuário, em 1959 e o Edifício Rio Branco em 1960, estes na Rua Barão do Rio Branco, todos com elementos da arquitetura moderna, como a planta livre, os pórticos e as marquises. Gabriel do Carmo Jabour projeta o Albergue Noturno em 1958, e o Clube Libanês, em 1959. Este passa a ser o edifício de lazer mais moderno da cidade, com espaços fluídos e elementos de arquitetura moderna, como brise-soleil em peças de concreto e janelas em fita.

A primeira residência de arquitetura moderna em Campo Grande é projetada no ano de 1956, pelo arquiteto Israel Barros Correia , do Rio de Janeiro – a casa do médico Koei Yamaki, na Rua Barão do Rio Branco, local onde funciona a sede do ARCA – Arquivo Histórico de Campo Grande. Essa residência, que foi construída por Gabriel Jabour, é um projeto com diversos elementos de arquitetura e de composição modernos.

Primeira residência modernista
Primeira residência modernista

Outra obra de arquitetura moderna da década de 50 é a Clínica de Campo Grande, do arquiteto Jorge Wilheim, que projeta em 1957 para diversos médicos da família Neder. Os bises - solei de proteção da fachada oeste e a planta livre são os destaques dessa obra.

Os primeiros arquitetos que passam a residir na cidade, José Carlos Quaresma Medina, Avedis Balabanian e Cassemiro Guilherme Sória Mendes, também chegam nessa década.

O primeiro vai atuar na Prefeitura municipal, no setor de aprovação de projetos e projeta o Hotel Concord; o segundo monta escritório próprio e projeta a Associação dos Dentistas e as piscinas da Ufms e o terceiro projeta uma residência moderna na Av. Mato Grosso e a sede do Departamento Nacional de Obras de Saneamento - Dnos, com uso de pilotis e janelas com proteção solar.

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