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Conversa de Arquiteto

Texto de 1921 fala sobre Campo Grande e de uma política que teima em não mudar

Angelo Arruda | 27/04/2016 06:25

O texto que segue é de autoria do prefeito de Campo Grande, Arlindo de Andrade, primeiro juiz da cidade, intendente municipal em 1921 e responsável pela urbanização da Avenida Afonso Pena. Foi escrito há 95 anos, para apresentar nossa cidade na exposição universal de 1922 no Rio de Janeiro por ocasião do centenário da Independência do Brasil.

Brindo meus leitores com essa pérola da literatura urbanística. Não achem que tem erros de português, pois estou fazendo a reprodução exatamente como foi publicado. Assim era nossa língua em 1921. Apresento algumas obras importantes da cidade naqueles anos.

Sobrado de Vespasiano Martins, na Avenida Calógeras.
Sobrado de Vespasiano Martins, na Avenida Calógeras.

1921: “Porque Campo Grande é hoje a maior cidade de Mato Grosso?

No seu desenvolvimento, Campo Grande é sem par no trajeto de São Paulo ao rio Paraguai, e se quisermos ir mais longe, à Assunção, por toda a República vizinha...

Dos vértices daquele triângulo que Frontin apontara como centro da nova civilização brasileira em próximo futuro - Ponta Grossa, Uberaba, C.Grande – a nossa esplêndida cidade não diminuo um dia sequer o seu progresso.

Ginásio Osvaldo Cruz, em frente ao Mercadão.
Ginásio Osvaldo Cruz, em frente ao Mercadão.

Entraves da distância, receios das revoluções domésticas que desacreditavam o Estado, recursos diminutos do meio e causas outras, agiam até 1922. De então para cá tudo se congrega para a organização da cidade.

Debalde de lutas partidárias fomentando as administrações esbanjadoras, uma certa e conhecida má vontade, tentam embaraçar a obra coletiva da boa gente campo-grandense.

Quartel da Afonso Pena.
Quartel da Afonso Pena.

Vem logo o esquecimento da ruindade política, e todos, brasileiros e estrangeiros, dão-se as mãos na tarefa da grandeza local.

Foi assim que as crises que tanto mal fizeram aqui e alhures não se ambientaram entre nós. Os artífices não descansaram e milhares de edifícios surgiram, cada dia maiores e melhores por todos os bairros.

Vinte e três mil e quatrocentos habitantes, a cidade. Cincoenta e quatro mil, o Município.

Nesse imenso hinterland, de Ponta Grossa à Rio Branco, de Bauru à Assunção, somos hoje o maior núcleo de população. O maior comércio. O maior em instrução, o maior em pecuária, um dos maiores em agricultura.

Casa do Artesão – Av. Calógeras
Casa do Artesão – Av. Calógeras

Dois grandes ginásios, duas escolas normaes, escola de farmácia, frequentadas por perto de quatro mil alunos. Livrarias modernas, tipografias, escolas datilográficas.

Em ponto pequeno, tudo que constitue uma grande cidade.

Anda a emparelhar conosco, e adeantando-nos algumas vezes, esta brasileiríssima e movimentada Bauru.

Estação ferroviária em 1921
Estação ferroviária em 1921

Outro, porém, é o destino de Campo Grande. Ela centralisa um mundo. Terá por causas várias, um destino internacional.

Forças da geografia, fatalidades do meio. A sua topografia é dominadora. Ficou no centro do Planalto e tornou-se o caminho forçado, de todos que buscam Mato Grosso.

A estrada de ferro é um fator determinante de progresso. Mas inúmeros outros existem.

Tal a séde do governo militar da 9ª. Região, com seu derrame de dinheiro que se distribue por toda a parte e deu este desenvolvimento seguro ao comércio, a milhares de agricultores, a pequenos criadores, pequenos industriais, pelas nossas cercanias.Tudo ressente-se dele.

Mas entre outros, dois são notáveis. O amor do povo à cidade, o orgulho que até os estrangeiros têm da terra onde vivem, o entusiasmo com que se cogita de melhoramentos, de obras beneficentes, a vontade que até as creanças manifestam de ver a cidade subir.

Loja Maçônica – Av. Calógeras
Loja Maçônica – Av. Calógeras

Conjugam-se o meio físico e o meio moral.

O povo que ama a sua terra, que concorre com seu dinheiro e a sua vontade para engrandecê-la, fará milagres.

Mas o fator por excelência do nosso progredimento é a terra. Ë a terra boa. A terra roxa. A terra que produz tudo. As cousas tropicais lá em baixo. Toda sorte de cereais, infinidade de frutos, gados finos cá em cima no planalto insolado no seu clima boníssimo.

Ao contacto da terra roxa enriquece o povo; estes nortistas sadios e valentes começam roceiros e vão acabando fazendeiros, coronéis, homens da cidade...

Os nossos campos imensos assentam a terra roxa profunda, onde o trigo medra sadio. Ela é a verdadeira riqueza; vae gerando agricultura extraordinária.

O milagre do nosso progresso é a terra productiva que Deus nos deixou.

Arlindo de Andrade Gomes.

Sentados da direita para esquerda: Camillo Boni, Arnaldo Estevão de Figueiredo e Arlindo de Andrade Gomes.
Sentados da direita para esquerda: Camillo Boni, Arnaldo Estevão de Figueiredo e Arlindo de Andrade Gomes.
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