ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, TERÇA  16    CAMPO GRANDE 23º

Diversão

No ritmo das ladainhas, Folia de Reis desce vilarejo de Piraputanga

Paula Maciulevicius | 05/01/2014 07:39
Neste sábado, quem ouvia o batuque na rua e as vozes “cheguei meu povo, cheguei pra vadiar...” podia esperar que a folia bateria à porta. (Fotos: Marcos Ermínio)
Neste sábado, quem ouvia o batuque na rua e as vozes “cheguei meu povo, cheguei pra vadiar...” podia esperar que a folia bateria à porta. (Fotos: Marcos Ermínio)

As ruas não asfaltadas do vilarejo de Piraputanga é palco da Folia de Reis neste final de semana. Ao som das ladainhas, o grupo de artistas de Campo Grande e Dourados resgataram o costume de Chica Baiana que já estava ficando esquecido.

Neste sábado, quem ouvia o batuque na rua e as vozes “cheguei meu povo, cheguei pra vadiar...” podia esperar que a folia bateria à porta, com a bandeira de Reis e as ladainhas na ponta da língua.

A primeira casa a receber Reis foi a de Chica Baiana. Na porta ela esperava sentada na cadeira de rodas e não teve como segurar as lágrimas. Foi surpresa, emoção, alegria e saudade. Um misto de tudo que transbordou no coração da baiana que para Piraputanga trouxe a tradição. “Viva Chica Baiana, viva Folia de Reis, viva Boi Bumbá”, entoava o grupo. Ela perguntou o que eles faziam ali, já que o combinado era passar por outras casas e terminar com ela. O produtor cultural e herdeiro do boi, Rony Petersom, de 29 anos, respondeu “viemos aqui pegar primeiro a benção. Puxa o Reis aí Chica”.

A ladainha começa e a alegria se espalha pela casa. Pelo movimento se perde as contas, mas era bem provável que estivessem umas 40 pessoas acompanhando a folia. “Vocês descem cantando essa que vocês chegaram, se perguntarem por mim, fala que eu estou dormindo e na segunda eu vou”, orientou.

A Folia começou na casa de Chica Baiana e só seguiu depois da benção dela.
A Folia começou na casa de Chica Baiana e só seguiu depois da benção dela.

Chica Baiana é Francisca Lopes da Silva. Dos 61 anos de vida, as últimas quatro décadas foram passadas ali, em Piraputanga. Vinda com a família para o Estado à época do início dos trilhos de trem na região e do escoamento da produção de café, a tradição de Reis e Boi Bumbá veio junto na bagagem.

Há dois anos a festa deixou de ser feita. Por conta da diabetes, Chica amputou um pé depois o outro e até que Rony tomasse à frente, o boi não fez a festa. O jovem é de família baiana e criado na comunidade, quando soube da intenção de levarem a bandeira e o boi de Piraputanga sem fazer a festa, ele deu o primeiro passo para trazer de volta o folgueto para o vilarejo.

Na avaliação de Chica, tudo correu bem. Ladainha certinha e até mais gente do que ela esperava. A emoção veio só à noite, quando ela ouvir os versos. “Por causa que a gente senta falta da festa, da saúde, dos pés. É folclore né? Eu entendo como tradição de santo e trouxe meu boi lá da Bahia”, explica.

Depois da prosa e da benção de Chica Baiana é hora de voltar à folia no vilarejo. A festa neste domingo era nas comunidades quilombolas, de furna dos baianos I e II. O encerramento é amanhã, com a Festa do Boi Bumbá.

O projeto tomou forma este ano, de voltar às ruas, depois de ser contemplado por dois editais de cultura. Do registro de fotos e imagens, ainda sai um documentário da folia. “A gente tinha esperança de que a festa não morresse e despertasse de vez e está aí a manifestação”, resume Rony.

A ladainha começa e a alegria se espalha pela casa. "Quando nessa casa entrei boa noite pessoa, boa noite gente boa".
A ladainha começa e a alegria se espalha pela casa. "Quando nessa casa entrei boa noite pessoa, boa noite gente boa".
Nos siga no Google Notícias