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Meio Ambiente

Entidade sugere "rede de alerta" para proteger ribeirinhos da cheia

Caroline Maldonado e Viviane Oliveira | 19/11/2014 11:26
Cheia afeta ribeirinhos, que perdem até as casas (Foto: Divulgação)
Cheia afeta ribeirinhos, que perdem até as casas (Foto: Divulgação)

Comunidades ribeirinhas, pesquisadores e ambientalistas se reúnem nestas quarta-feira (19) e quinta-feira (20) para discutir impactos socioambientais no Pantanal e na bacia do Prata. Eles querem criar uma rede para prevenir moradores da região da cheia do Rio Paraguai, que antes tinha tempo certo, mas agora ocorre com mais frequência. Os pecuaristas perdem rebanho e ribeirinhos ficam até sem casas e se mudam para o capão, uma área não atingida pelas águas, onde dividem espaço com animais, como onças e cobras.

A ideia do encontro promovido pela ONG Ecoa (Ecologia em Ação) é criar a “Rede Clima”. A rede, que deve reunir membros da sociedade civil, comunidades tradicionais, órgãos governamentais e não governamentais, fará troca de informações para planejamento de ações e estratégias, que possam prever e diminuir impactos causados pelas hidrelétricas.

A área afetada pelas hidrelétricas é a bacia do Prata, que abrange cinco países, dentre eles o Brasil, alcançando todo o Mato Grosso do Sul. Dentro dela, fica a bacia do Alto Paraguai e em seu interior o Pantanal. Todas a comunidade pantaneira e animais que vivem ali são prejudicados com as mudanças climáticas e as cheias do rio. A rede possibilitaria ainda um sistema de comunicação e alerta para proteger os ribeirinhos.

Impactos – Escolas sem aulas por até seis meses, casas submersas, morte de rebanho, móveis e equipamentos de trabalho perdidos, e maior incidência de doenças. Esse é o cenário, que se forma com as cheias, que antes ocorriam a cada dez anos, mas agora chegam em intervalo de até três anos. Com isso, as comunidades tradicionais, que antes por si só podiam prever os acontecimentos na região agora são surpreendidos e perdem tudo quando a água sobe.

Para criar o sistema de alerta, a ONG pretende recorrer aos conhecimentos tradicionais de comunidades ribeirinhas e indígenas que ocupam o Pantanal, segundo Alcides Faria, diretor institucional da ONG Ecoa. “O papel principal é de articulação com as instituições no sentido de construir estratégias para resolver os grandes problemas. Com esses encontros pretendemos unir o conhecimento das pessoas que vivem no pantanal com o conhecimento científico para montar um sistema de informação”, explicou.

As cheias são impactadas pelas hidrelétricas, que não podem ser construídas no Pantanal, mas ocupam regiões mais altas, no Estado do Mato Grosso. Ainda assim, os prejuízos chegam aos ribeirinhos de Mato Grosso do Sul. 

ONG quer mobilizar entidades e criar rede de alerta para minimizar estragos da cheia do Rio Paraguai (Foto: Divulgação)
ONG quer mobilizar entidades e criar rede de alerta para minimizar estragos da cheia do Rio Paraguai (Foto: Divulgação)

Ao falar da situação, o pescador Daniel Maciel de Moraes, 28 anos, que é presidente da comunidade São Francisco, cita como exemplo as cheias de 2011 e 2014 que não eram esperadas. “Antes as comunidades sabiam o tempo certo das cheias para se preparar e agora não tem época certa. Tem pessoas que perdem tudo, porque a água chega a cobrir a casa e eles vão para o capão e convivem com animais que também estão fugindo da cheia, como onça, cobra e veado”.

Segundo Daniel, que mora desde que nasceu na comunidade que tem aproximadamente 65 pessoas, os moradores querem se preparar para as próximas cheias, pois esse ano a ajuda do governo chegou depois de um mês do início da cheia. “A cheia veio começou em abril e terminou em junho em 2013, já nesse ano começou em abril, estamos em novembro e ainda tem água. A gente ganha lonas do município e vamos para o capão dividir espaço com os animais que também estão fugindo da cheia”, conta.

A pescadora Josilene da Silva Camargo, 27 anos, que vive na comunidade Paraguai Mirim, é uma das que perderam tudo na cheia desse ano. Mãe de quatro filhos, de 12, 8, 5 e 3 anos, a jovem tinha uma casa de tábua, derrubada pelos ventos que acompanharam a cheia do rio. “Ainda tem o prejuízo com a escola, as crianças perderam seis meses de aula e nós não conseguimos pescar. Os peixes se espalham e ainda não podemo usar essa água”, lamenta Josilene, que perdeu ainda as vacas que criava.

A moradora conta que prefere a seca, mas também teme a estigem severa. “Seca é melhor, mas em 2008 teve muita. Agora é assim, mas antes a gente vivia melhor e cada ano que passa a gente vem sofrendo as consequências dos danos ambientais”, avalia.

O encontro “O Pantanal e a Bacia do Prata: estratégias frente as alterações climáticas e obras de infraestrutura” se estende até amanhã (20) no hotel Metropolitan, em Campo Grande.

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