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Política

Com eleitor descontente e candidato sem verba, eleição não desencantou

Ludyney Moura | 31/07/2014 16:50
O lixo foi o destino de um santinho recebido por um eleitor campo-grandense. (Foto: Marcelo Calazans)
O lixo foi o destino de um santinho recebido por um eleitor campo-grandense. (Foto: Marcelo Calazans)

Apesar de já ser permitida desde o último dia 6 de julho, a campanha eleitoral ainda decolou no Estado este ano. A promessa dos candidatos é que as práticas mais ostensivas para conquistar a preferência do eleitor só comecem mesmo com o início da propaganda gratuita no rádio e TV, que vai ao ar à partir de 19 de agosto. Para especialistas, diversos fatores explicam o atual cenário político: o descontentamento do eleitor com a política, a falta de dinheiro dos candidatos e o fato da campanha estar "bombando" na internet.

Para o sociólogo Paulo Cabral, uma das razões pelo esfriamento temporário das eleições em Mato Grosso do Sul é o favoritismo do candidato petista ao governo estadual. “No cenário local, você tem candidaturas ao Governo e Senado claramente definidas. A supremacia do Delcídio (senador Delcídio do Amaral, PT) e da Simone (Simone Tebet, candidata do PMDB ao Senado) são indiscutíveis”, pontua.

Cabral afirma ainda que a possibilidade de um 2º turno nas eleições, tanto no Estado, quanto na Federação, estende o gasto das campanhas até o final de outubro, o que acaba por encarecer o processo. Para o sociólogo, a candidatura do PMDB esbarra no "voluntarismo" de Nelsinho Trad, enquanto o PSDB quer viabilizar o nome de Reinaldo Azambuja para eleições futuras.

“Parte desse clima de cautela talvez se deva ao fato de que os marqueteiros não tenham clareza quanto a qual direção tomar. Essa conjuntura incerta dificulta. Por outro lado, há um descontentamento generalizado do eleitorado”, disse o sociólogo, em alusão aos números divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que houve um decréscimo de eleitores jovens, entre 16 e 17 anos, para os quais o voto é facultativo, em comparação ao pleito de 2012.

Na opinião do professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e doutorando em ciências políticas, Daniel Miranda, algumas regras estabelecidas pela Justiça Eleitoral que limitam a influência do poder econômico nas campanhas, estão entre os motivos pela pouca exposição dos candidatos.

“Existe certo desinteresse geral do eleitorado brasileiro em relação à política (as grandes manifestações do ano passado mostraram que os brasileiro não estão nada contentes com seus representantes). Com certeza isso pesa e desmobiliza as pessoas. Por outro lado, não há como desconsiderar o crescimento da internet nos últimos anos: o número de brasileiros conectados, o tempo médio de permanência na rede, a profissionalização da propaganda via internet”, explica Miranda.

Propaganda nas ruas ainda é tímida. Poucas ações estão sendo executadas pelos candidatos. (Foto: Marcelo Calazans)
Propaganda nas ruas ainda é tímida. Poucas ações estão sendo executadas pelos candidatos. (Foto: Marcelo Calazans)
Até mesmo as manifestações de descontentamento do eleitor são feitas individual e timidamente. (Foto: Marcelo Calazans)
Até mesmo as manifestações de descontentamento do eleitor são feitas individual e timidamente. (Foto: Marcelo Calazans)

Para o professor, as novas possibilidades de campanhas virtuais são atrativas principalmente ao candidato com recursos mais limitados, uma vez que a internet tem condições de propiciar uma relacionamento mais próximo com o eleitor.

Caixa 2 - O presidente da principal agremiação sindical de professores do Estado, Roberto Botarelli, da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul), é enfático em apontar as razões da demora no início das campanhas ostensivas.

“O processo eleitoral passou a ser mais fiscalizado. Até então, existia um grande movimento de caixa dois, de todos os partidos políticos, para montar e tocar esquemas de campanhas milionárias. Com a nova legislação tudo tem que ser declarado, sob pena do candidato ter de responder criminalmente”, diz Botarelli.

Para o presidente da Fetems, o atual cenário encarece campanhas com mais de três meses de duração, razão pela qual apenas o início do horário eleitoral gratuito esquentará a corrida eleitoral.

“Nós precisamos de um reforma política. Para que o processo seja financiado com recursos públicos. Da forma como é hoje, quem tem mandato ou posses tem muito mais condições de ganhar, é uma disputa muito desigual”, finaliza.

Fator Copa do Mundo e Fiscalização – Para o cientista político e jornalista Eron Brum, os fatores que estão retardando o início da campanha eleitoral passam também pela Copa do Mundo, que terminou em 13 de julho. “Seria perda de tempo dos candidatos tentarem sensibilizar os eleitores durante uma competição internacional e, ao mesmo tempo, de um esporte preferido por quase a totalidade dos brasileiros. E a campanha eleitoral entra em ritmo acelerado a partir do início do programa eleitoral gratuito no rádio, televisão e demais mídias”, define.

“Desta vez parece que os partidos estão preocupados com o rigor da Justiça Eleitoral no que se refere aos gastos ao longo da campanha. Só para lembrar, centenas de candidatos eleitos na eleição passada perderam seus mandatos. Mato Grosso do Sul foi um dos líderes e o exemplo mais emblemático foi a cassação do prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal (PP)”, pondera Brum.

Opinião semelhante possui a presidente da comissão especial de acompanhamento eleitoral da OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Mato Grosso do Sul), Nilmare Daniele Irala, para quem além da Copa do Mundo, as campanhas virtuais tem ganho atenção especial dos candidatos. “Realmente está devagar (a campanha). Desde a divulgação de nossos canais de denúncia só tivemos quatro chamadas, que não configuraram crime eleitoral”, revelou Nilmare.

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