Dois partidos polarizam eleição que põe à prova democracia no Paraguai
O Paraguai elege neste domingo (21) o novo presidente em uma disputa polarizada entre os partidos Colorado e Liberal, que tentam provar a maturidade da democracia no país, numa tentativa de se reaproximar do Mercosul (Mercado Comum do Cone Sul) e da Unasul. As duas organizações, econômica e militar da América do Sul, suspenderam o país vizinho no ano passado como represália ao impeachment de Fernando Lugo, tratado como golpe de estado.
Horácio Cartes, do Partido Colorado, e Efraín Alegre, do Partido Liberal, se revezam na liderança das pesquisas eleitorais em diferentes institutos. Em um levantamento, Horácio aparece na frente, enquanto em um segundo estudo aparece Efraín com o futuro presidente.
“É a chance de mostrar para a América que o processo eleitoral é sólido, depois do impeachment do Lugo o Paraguai ficou isolado”, comenta Neimar Machado, analista político e professor da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados). Ele lembra que o processo que terminou com a saída de Fernando Lugo foi criticado por organismos internacionais e por políticos sul-americanos, já que o ex-presidente afirma não ter tido o direito amplo de defesa.
O Colorado, que ficou 61 anos no poder, tenta voltar ao comando do país que atualmente está nas mãos do Liberal, do atual presidente Frederico Franco. Ele era o vice-presidente de Fernando Lugo.
Mato Grosso do Sul tem uma forte presença da cultura e do povo paraguaio, já que faz fronteira com o país, além de ter sido palco da Guerra do Paraguai e ter “avançado” sobre o vizinho no término do conflito.
O Consulado do Paraguai em Campo Grande tem 4,5 mil paraguaios registrados. No entanto, a estimativa é de que o número de paraguaios passe de 30 mil pessoas, o que torna a cidade e o Estado a maior colônia. No entanto, quem vive aqui precisa se deslocar até o Paraguai para votar, já que o sistema eleitoral não permite a instalação de urnas no Brasil.
“Nesta eleição votam os paraguaios que vivem na Argentina, Espanha e Estados Unidos e nosso Consulado vai estar aberto no domingo para justificar a ausência, das 7h às 16h”, afirma o cônsul Angel Adrian Gill Lesme, responsável pela representação diplomática na Capital.
Lesme explica que o sistema ainda não permite a votação no Brasil, mas quem vive aqui e está regular com as autoridades eleitorais pode comparecer às urnas do outro lado da fronteira.
Há a preocupação com a segurança no processo eleitoral do país vizinho, já que não se sabe o resultado do pleito e como a parte derrotada pode se comportar. “O Paraguai teve golpe de Estado numa época em que não se acreditava mais em golpe na América do Sul, então é imprevisível o resultado”, diz Neimar Machado.
Ele lembra que o país depende muito dos vizinhos, que embora tenha sido suspenso do Mercosul, precisa muito dos turistas brasileiros e argentinos para movimentar a economia. “Em Assunção, por exemplo, é possível ver outdoors escritos em português”, lembra.
“É uma eleição muito disputada, voto a voto mesmo”, comenta o empresário Ricardo Zelada Cafure, que é paraguaio e tem negócios em Concepción, a 500 quilômetros de Campo Grande. Cafure diz que, apesar de ser um processo concorrido, tem visto a corrida presidencial muito tranquila do ponto de vista da segurança. Neste sábado (20), o empresário pega a estrada para poder votar “Vou comparecer domingo e exercer meu direito ao voto”, afirmou.
A disputa sente o reflexo da morte do general Lino Oviedo, que morreu em um acidente de helicóptero em fevereiro. Em 1989, Oviedo foi um dos articuladores do golpe que derrubou o ditador Alfredo Strossner e em 1999 foi acusado de incitação para o assassinato do vice-presidente José Maria Argaña, assim como de participar das manifestações que levaram a saída do presidente Raúl Cubas.
O militar aposentado era candidato à presidente pela Unace (União Nacional de Cidadãos Éticos) e o apoio dos seus seguidores é apontado como fundamental para definir a disputa.
“A morte de Oviedo abriu uma lacuna que vai fortalecer os dois partidos”, analisa Albino Romero, vice-presidente da Colônia Paraguaia da Capital. Ele diz que aqui há apoiadores e eleitores tanto do Colorado quanto do Liberal, que acredita que todo processo transcorra com harmonia.
Essa opinião é dividia também pelo cônsul de Campo Grande, que diz que não há conflitos internos. “São acusações aqui, acusações ali, mas tudo muito tranquilo”, disse.