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Capital

Com mais de 430 mil veículos nas ruas, dirigir vira teste de paciência

Elverson Cardozo | 15/06/2012 15:43
Frota de veículos em Campo Grande chega a 424.935 mil. (Foto: Minamar Júnior)
Frota de veículos em Campo Grande chega a 424.935 mil. (Foto: Minamar Júnior)

Lá se foi a época em que Cláudio Souza Peixoto, de 58 anos, via as ruas de Campo Grande vazias, quase sem carros. Mas já faz algum tempo, cerca de 40 anos, e os anos se encarregaram de mudar tudo.

Hoje, proprietário de uma banca na rua 26 de agosto, o vendedor teve de aprender a conviver com o barulho e com os constantes tumultos no cruzamento com a Rui Barbosa, rota da maioria das linhas do transporte coletivo. É apenas o reflexo do aumento da frota de veículos, que já passa de 430 mil veículos, para uma população próxima de 800 mil. A comparação dos dois números revela que há um carro em Campo Grande para cada 1,8 morador.

“Naquele tempo não tinha nada de carro”, relembra. Mas Cláudio também colaborou com esse aumento. Comprou o próprio carro há 10 anos. Conta que o veículo trouxe facilidades, mas o trânsito dor de cabeça. “Cada vez fica pior”, comenta.

Em horários de pico já são comuns pontos de estrangulamentos, em avenidas como a Afonso Pena, Eduardo Elias Zahran, Ceará e Mato Grosso. Na 15 de novembro, próximo ao camelódromo, comerciantes já se acostumaram com a situação.

Claudio Souza Peixoto lembra do tempo em que a cidade "quase não tinha carros". (Foto: Minamar Júnior)
Claudio Souza Peixoto lembra do tempo em que a cidade "quase não tinha carros". (Foto: Minamar Júnior)

Trabalhando há 7 anos nas imediações do centro comercial e do Mercadão Municipal, o vendedor ambulante Francinaldo Alves de Araújo, de 38 anos, vê a situação se repetir todos os dias.

O horário mais crítico, segundo o vendedor, é das 17 às 18h. No trecho que dá acesso à avenida Ernesto Geisel é tumulto na certa. “Tem hora que só faltam atropelar os pedestres”, disse.

Mas Francinaldo também se rendeu à comodidade. Comprou um Polo há 3 anos e até hoje paga o financiamento. A facilidade em obter crédito foi um dos atrativos. “Antigamente você até podia, mas não te vendiam”, afirmou.

O vendedor não vai ao serviço de carro porque mora perto do camelódromo, mas também não defende campanhas que pregam a não-emissão de gás carbônico na atmosfera ou hábitos como deixar o veículo em casa e sair de bicicleta, por exemplo.

“Para que comprar o carro se você vai deixar em casa?”, questiona. O que falta, opina, é adequação da cidade para o aumento da frota. A dona de casa Neuraci Pereira da Silva, de 58 anos, concorda e vai além.

Vendedor ambulante, Francinaldo considera o trânsito "complicado", mas se rendeu a comodidade e comprou o próprio carro há 3 anos. (Foto: Minamar Júnior)
Vendedor ambulante, Francinaldo considera o trânsito "complicado", mas se rendeu a comodidade e comprou o próprio carro há 3 anos. (Foto: Minamar Júnior)

Acredita que a sinalização pode ajudar na fluidez do trânsito, além de evitar muitos acidentes. “O trânsito é insuportável”, pontua. “É difícil até para atravessar uma rua”, completa.

No trânsito há 15 anos, a taxista Nilce Targino da Silva, de 46 anos, afirma que a situação em Campo Grande ainda é “suportável”, mas a tendência é piorar. O aumento da frota, afirmou, começou a cerca de 2 anos e a cada dia cresce mais. “Hoje é preferível você pagar a prestação de uma moto do que andar de ônibus”.

Quem tem propriedade no assunto afirma que a mudança observada pelos motoristas começou há cerca de cinco anos e parte da responsabilidade é sim do aumento na frota. Mas apenas uma parte. Herivelto Moisés, 35 anos, especialista em trânsito do Sest/Senat, ressalta que uma das maiores preocupações dos educadores no trânsito é em relação ao comportamento dos motoristas. Ele sustenta que o congestionamento significativo se dá não pela falta de opções, mas pelas pessoas não utilizarem as que existem.

“Todo mundo procura transitar pela mesma via. Se as pessoas buscassem as alternativas, não que melhoraria 100%, mas em média diminui 5 ou 10 minutos de trajeto, dependendo da situação local”.

O estrangulamento visto nas avenidas Afonso Pena, Zahran, Mato Grosso, entre outras tantas são reflexo do hábito de não se planejar. Deixar tudo para última hora e sair faltando exatos 15 minutos para o compromisso não se resume a um e outro motorista e sim a grande maioria.

“Se o percurso de casa até o trabalho é de 15 minutos, as pessoas deixam para sair dentro dos 15 minutos. Sair 5 minutos antes faz muita diferença e o acesso mais fácil nem sempre é o mais rápido”, reforça.

Herivelto observa que o crescente aumento de veículos teve acompanhamento da engenharia de tráfego, tendo em vista principalmente a região central com o recapeamento de avenidas e o uso da tecnologia.

“Radares, surgimento de novas vias, interligando bairros e facilitando o deslocamento. Querendo ou não neste ponto melhorou bastante. Ainda existem pontos que precisam melhorar, não se dá para corrigir tudo de uma hora para outra”.

O poder público dá sua contribuição para fluidez no trânsito com a onda verde nos semáforos. Mas ainda assim para conseguir pegar os sinais abertos, o motorista tem responsabilidade no processo.

“No deslocamento as pessoas querem transitar o mais rápido possível, mas se excede a velocidade média não vai conseguir e em um ou outro semáforo, vai pegar vermelho”, diz. Na avenida Afonso Pena por exemplo, a velocidade dos veículos tem de ser no máximo de 50 quilômetros por hora.

“Se você conseguir unir melhorias feitas pelo poder público e as pessoas buscarem melhorar no volante, teremos um trânsito muito mais humano e até mesmo mais fácil de transitar”, finaliza.

Há 15 anos no trânsito, Nilce Targino diz que a situação ainda é "suportável", mas pode piorar. (Foto: Minamar Júnior)
Há 15 anos no trânsito, Nilce Targino diz que a situação ainda é "suportável", mas pode piorar. (Foto: Minamar Júnior)

Frota - Segundo a última estimativa divulgada pelo Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul) – de março deste ano -, Mato Grosso do Sul tem uma frota de 1.073.097 milhão de veículos.

Deste total, Campo Grande registra 424.935 mil, contra 648.162, somados todos os municípios do interior do Estado. O maior número é de carros (218.209), seguido pelas motocicletas (101.294).

Sem comparado ao mesmo período de 2005, em 7 anos, o número de veículos em todo o Estado praticamente dobrou. Se antes a frota não chegava a 576 mil, hoje o número já passa da casa do 1 milhão.

Para o presidente da Agetran (Agência de Transporte e Trânsito), Rudel Trindade, a situação está relacionada ao aumento no poder de compra dos sul-mato-grossenses e ao crescimento populacional.

Rudel afirma que não há como evitar pontos de estrangulamento nos horários de pico, por exemplo. Um das alternativas, declarou, seria controlar o acesso ao crédito para compra de veículos.

O presidente da Agetran considera que o trânsito de Campo Grande ainda não se compara ao das grandes cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo.

Sem comparado ao mesmo período de 2005, em 7 anos, o número de veículos em todo o Estado praticamente dobrou. Se antes a frota não chegava a 576 mil, hoje o número já passa da casa do 1 milhão. (Foto: Minamar Júnior)
Sem comparado ao mesmo período de 2005, em 7 anos, o número de veículos em todo o Estado praticamente dobrou. Se antes a frota não chegava a 576 mil, hoje o número já passa da casa do 1 milhão. (Foto: Minamar Júnior)
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