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Capital

Era para ser um dia feliz, mas ficou marcado por uma dor que não passa

Elverson Cardozo | 19/07/2012 17:49
Anderson de Castilho dos Santos morreu no dia em que comemorava o aniversário de 20 anos. Jovem tinha deixado o quartel havia 2 meses. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
Anderson de Castilho dos Santos morreu no dia em que comemorava o aniversário de 20 anos. Jovem tinha deixado o quartel havia 2 meses. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

O soldado da foto ao lado é Anderson de Castilho dos Santos. Morreu aos 20 anos, uma semana depois de ser atropelado por um carro, na madrugada em que comemorava o aniversário: 10 de maio de 2009. “Ele estava muito feliz, parecia que estava se despedindo da vida”.

O relato, emocionado, é da mãe, a costureira Cleuza Aparecida dos Santos, de 48 anos, moradora do Jardim Montevidéu, em Campo Grande. Aquele domingo era Dia das Mães - que coincidentemente caiu no dia do aniversário do filho -, mas a data não teve comemoração.

Cleuza Aparecida não permitiu ser fotografada para essa reportagem, mas aceitou conversar com nossa equipe, mesmo que a volta ao passado remexesse uma ferida que ainda não cicatrizou.

Na madrugada daquele dia, na mesma casa onde mora até hoje, Anderson de Castilho completava duas décadas de vida. Estava reunido com amigos e acompanhado da namorada.

Uma das convidadas resolveu ir embora mais cedo e o soldado - que tinha deixado o quartel havia 2 meses - se prontificou a levar a jovem, de moto, até o bairro Aero Rancho.

O acidente- No caminho de volta para casa, na avenida Ceará, próximo ao viaduto da Afonso Pena, o acidente: Anderson Castilho, que conduzia uma Honda CG Fan 125, foi atropelado por um VW Fox, que tinha como motorista Marcos Martins Bortoncello, na época tinha 18 anos.

O motociclista sofreu traumatismo craniano e foi encaminhado, pelo Corpo de Bombeiros, à Santa Casa de Campo Grande em estado grave. O condutor do carro, segundo a família, deixou o local sem prestar socorro.

Quando soube do acidente, Cleuza Aparecida foi direto ao pronto socorro do hospital. “Ali não era meu filho. Ele não me reconhecia. O médico falou que ele tinha levado uma pancada muito forte, mas que com o tempo, como ele era jovem, iria melhorar”, disse.

Daí para frente, relatou, só sofrimento. Anderson de Castilho chegou a ser submetido a uma cirurgia na cabeça, mas faleceu uma semana depois, no dia 18 de maio, em decorrência de um traumatismo crânio-ecenfálico, como certifica o atestado de óbito. “Acabou todos os meus dias das mães”, contou a mulher, com lágrimas nos olhos.

Pai da vítima, José de Castilho, questiona atuação da justiça. (Foto: Simão Nogueira)
Pai da vítima, José de Castilho, questiona atuação da justiça. (Foto: Simão Nogueira)

Fuga - O relatório da Ciptran (Companhia Independente de Policiamento de Trânsito) indica que o acidente aconteceu às 3h30 e resultou em “danos materiais nos veículos e uma vítima”.

“O V1 [carro] não consta no croqui porque foi retirada da via pelo seu condutor”, informa o documento. A moto, segundo o registro, saiu da via e foi parar a 18,36 metros do ponto de colisão.

Para o pai, a motocicleta foi escondida no meio do mato pelo próprio motorista, logo após o atropelamento. “Ou ela [a moto] atravessou uma cerca de arame?”, questiona. “Ele só voltou para ver se estava morto”, disse. “Quem chamou o Corpo de Bombeiros foi uma pessoa que passava lá perto”, completou.

Revolta - Mas o que mais revolta toda a família é saber que Anderson Castilho é “mais um” que entrou para as tristes estatísticas de acidentes de trânsito. O motorista que atropelou o rapaz está solto.

Na época do acidente, o MPE (Ministério Público Estadual) entrou no caso e impetrou uma ação contra o motorista Marcos Martins Bortoncello, mas o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul o absolveu “por não existir prova suficiente para condenação” ao crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, atribuído pela defesa.

Irmão do soldado (à esquerda), Claudio dos Santos, diz que a situação é revoltante. (Foto: Simão Nogueira)
Irmão do soldado (à esquerda), Claudio dos Santos, diz que a situação é revoltante. (Foto: Simão Nogueira)

“Diante do exposto, julgo improcedente a denúncia e, em consequência, absolvo Marcos Martins Bortoncelo, regularmente qualificado nos autos, da prática do crime previsto no artigo 302, parágrafo único, inciso III, da Lei n. 9.503/97, que lhe foi imputado, o que faço com fundamento no art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal”, diz trecho da decisão assinada pelo juiz Paulo Afonso de Oliveira.

“O atestado de óbito não é prova? O laudo da moto não é prova? O sangue do meu filho no asfalto não é prova?”, questiona o pai da vítima.

Irmão do soldado, o encarregado de pavimentação Claudio dos Santos, de 32 anos, não se conforma com a tragédia, nem com a impunidade. Claudio diz ter procurado, em 2009, a família do rapaz que atropelou o irmão, mas a resposta que ouviu da mãe do motorista o deixou ainda mais revoltado.

“A única coisa que ela falou era que acidentes acontecem e que ela estava com o prejuízo do carro dela e eu com o meu irmão hospitalizado”, declarou.

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