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Capital

Mesmo com faixa, pedestres preferem “cortar” caminho e colocam vida em risco

Paula Vitorino | 20/05/2011 14:58

Falta educação e respeito para a convivência entre motoristas e pedestres deixar de ser caótica, aponta população

Pedestres disputam via com veículos. (Fotos: João Garrigó)
Pedestres disputam via com veículos. (Fotos: João Garrigó)
Casal corre para cruzar via.
Casal corre para cruzar via.

Pressa, falta de costume, jeitinho brasileiro e, por muitas vezes, um simples descuido. Todos esses foram motivos apontados pelos pedestres ao Campo Grande News para sair da faixa de segurança, que muitas vezes está a poucos metros, e se aventurar em meio aos veículos de uma via.

Questionados sobre a atitudes no trânsito, os pedestres são os primeiros a admiter o erro, mas justificam a imprudência por conta da correria do dia a dia e da facilidade em cortar caminho.

“É o jeitinho brasileiro. Está mais fácil por aqui cortar caminho, então a gente acaba passando e esquece que está errado”, diz o técnico Francisco Souza Fernandes, de 56 anos.

A reportagem percorreu algumas vias da Capital e em poucos minutos constatou inúmeras travessias perigosas, muitas vezes provocada também pelo "descuido" do poder público.

A funcionária pública Gleiciene Barros Costa, de 26 anos, diz que falta educação no trânsito de ambas as partes, pois muitos motoristas não respeitam o direito do pedestre.

“Nem quando estamos dentro da faixa eles respeitam, imagina quando se atravessa fora. Se bobear, passam por cima mesmo”, afirma.

Na tarde de ontem, a convivência perigosa entre motorista e pedestre causou a morte de Erotildes Floriano da Silva, 60 anos. Ela foi colhida por um veículo quando atravessa a Avenida Afonso Pena, em frente ao Shopping, fora da faixa de pedestre, que fica a cerca de 40 metros do local. A mulher já estava próxima a calçada.

De acordo com o relato de testemunhas, a vítima saiu do canteiro central e atravessou a via desatenta, olhando para trás. No entanto, os populares afirmam que o veículo seguia em alta velocidade, ultrapassando vários veículos, até parar no sinal vermelho do local.

O fluxo de veículos é intenso na Avenida e mesmo após o acidente é comum ver pedestres cruzando a via fora da faixa, pelo simples fato de cortar caminho. A babá Neide Oliveira, de 24 anos, fica surpresa ao saber da fatalidade no local e após a atravessar a via fora da faixa, garante que “vou ficar mais cuidadosa agora, andar mais um pouco, mas passar só pela faixa”.

Senhor corre para atravessar a 14 de Julho, no Centro. (Foto: João Garrigó)
Senhor corre para atravessar a 14 de Julho, no Centro. (Foto: João Garrigó)

Mais fácil - Em meio ao centro da Capital, a empresária Edileusa Vieira Mello, de 57 anos, desceu do carro e aproveitou o intervalo entre um veículo e outro, na Rua 14 de Julho, para poupar a caminhada.

“Queria vir nessa loja, então já parei em frente dela e atravessei rapidinho”, conta. Ela garante que a pratica não é um hábito e que sempre opta por atravessar na faixa, pois sabe que esta é a maneira correta.

“Você vai estar sempre errada se passar fora da faixa. Se for atropelada, eu que vou ser a culpada, por exemplo”, diz.

Na Praça Ari Coelho, os passageiros dos ônibus que descem no local atravessam a via na mesma direção. São poucos os que têm a preocupação de ir até a faixa para fazer a travessia segura.

A costureira Vera Lucia dos Santos, de 51 anos, justifica o ato como já sendo algo automático. “Estou atrasada, desci correndo e já atravessei no mesmo lugar”, diz. A sua netinha, de 1 ano e meio, acompanhou a avó na travessia perigosa.

Já a funcionária pública Gleiciene acredita que atravessar a via no meio da quadra é mais seguro, pois os carros da 14 de Julho que viram na esquina oferecem risco.

“Com essa distância da esquina dá pra ver melhor se não tem carro vindo, mesmo. Na faixa, os carros que viram vem com tudo. E a maioria não está preocupado se tem pedestre ou não”, diz.

O diretor de trânsito da Agetran, Janini de Lima Bruno, informou que problemas como esse, como na Afonso Pena onde mesmo com o sinal fechado os veículos fazem a conversa pela 14 de Julho e afetam a passagem do pedestre, serão solucionados com o projeto de reformulação semafórica da Capital.

“Teremos uma central onde será possível controlar todos os semáforos. Será possível colocar botoneiras em alguns sinaleiros e estudar a possibilidade de outras providências nos cruzamentos, com equipamentos mais modernos”, explica.

Cultura - Atravessar a via fora da faixa de segurança está na cultura do campo-grandense, avalia o diretor de trânsito. Mas ele ressalta que o problema é nacional, com exceção de apenas algumas cidades.

O técnico Francisco também ressalta o problema cultural e lembra que em Brasília o motorista automaticamente para quando o pedestre pisa na faixa de segurança.

“Nós precisamos aprender a respeitar as normas, todos nós brasileiros. Isso é bom para todo mundo e evita acidentes”, diz.

Janini esclarece que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece que o maior respeite menor. Quando o pedestre pisa na faixa, o motorista deve parar para a travessia, independente do sinal verde.

Mas Janini lembra que isso não dá o direito do pedestre extrapolar os limites, pois ele também tem deveres.

“O motorista tem o dever de respeitar a faixa de segurança, mas o pedestre também tem que atravessar pela faixa. É um local destinado para a segurança do pedestre”, diz.

O CTB também determina que o pedestre faça a travessia pela faixa de segurança, sempre que houver a sinalização.

O policial militar Pedro Rojas, que integra a ronda no centro da Capital, alerta que a travessia do pedestre fora da faixa pode prejudicar o trânsito e ainda causar acidentes, pois o motorista tem que frear bruscamente para desviar.

Pedestres agora fazem travessia por faixa de segurança e tem botoneira a disposição. (Foto: João Garrigó)
Pedestres agora fazem travessia por faixa de segurança e tem botoneira a disposição. (Foto: João Garrigó)

Resultados - Na Avenida Ceará, em frente a Universidade Anhanguera-Uniderp, a instalação de um semáforo, com botoneira, e de uma faixa de pedestre tem apresentado resultados positivos. Mas segundo os estudantes, muitos motoristas e pedestres ainda insistem em desrespeitar a sinalização.

“Tem motorista que ainda fura o sinal vermelho e não respeita a faixa. Mas também tem muitos estudantes que preferem economizar perna e cortam caminho, principalmente os que descem do ônibus e entram pela primeira entrada”, diz a estudante de fisioterapia Estela Diniz, de 33 anos.

O diretor de trânsito da Agetran informou que não serão instaladas outras faixas de pedestre na via e que o pedestre também tem que se “adequar a situação e cumprir seu dever”.

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