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Diversão

Com ideia na cabeça e celular nas mãos, crianças vão resgatar brincadeiras

Aline dos Santos | 17/04/2012 13:25
Grupo vai produzir vídeos sobre cotidiano e brincadeiras. (Foto: Minamar Júnior)
Grupo vai produzir vídeos sobre cotidiano e brincadeiras. (Foto: Minamar Júnior)

“Brincar é o gesto mais natural da criança, mexe o corpo, estimula a concentração, o equilíbrio, o contato com a natureza, o respeito com os outros, aprende que perder é normal”.

A explicação da arte-educadora Lia Mattos dá as boas-vindas no projeto “Memórias do Futuro – Olhares da Infância Brasileira”, que vai oferecer conhecimento técnico e teórico para que meninos e meninas, ao voltarem para a casa, registrem as brincadeiras, tradições e histórias em microdocumentários. Com ideia na cabeça e um celular nas mãos, vão mostrar que sempre é tempo de brincar.

A missão será levada à frente por uma turminha tão animada quanto diversificada: tem menina de aldeia, menino metaleiro, das margens do rio Paraguai, do centro da Capital, de bairros afastados.

Concentrados no Espaço Imaginário, em Campo Grande, as realidades tão diversas não demoram a virar intercâmbio cultural. Com tapa-olho de pirata e camiseta de banda de rock, uma menina conta que nunca tinha ouvido falar da brincadeira de correr atrás do rabo de porco.

“É que na aldeia não tem brincadeiras como esconde-esconde, cinco marias. É muito diferente”, afirma Francieli Martins Vera, que mora na aldeia Guapo’y, em Amambai.

Na infância dos guarani-caiuá, as responsabilidades começam cedo, exigindo que as crianças aprendam a fazer trabalho virar brincadeira. Ela ajudava o pai a cuidar dos porcos e três bezerros. A menina transformou a lida em diversão.

“É que na aldeia não tem brincadeiras como esconde-esconde, cinco marias. É muito diferente”, afirma Francieli. (Foto: Minamar Júnior)
“É que na aldeia não tem brincadeiras como esconde-esconde, cinco marias. É muito diferente”, afirma Francieli. (Foto: Minamar Júnior)

Aos risos, conta da dificuldade para aprender a andar a cavalo, das brincadeiras nas árvores e da folia nos banhos de rio. Mas a infância termina cedo, no caso das meninas, a primeira menstruação é o ingresso para a vida adulta.

Na aldeia, onde já tem casas com dois computadores, Aparecida Brites, de 20 anos, vai usar a tecnologia do celular que grava imagens com tecnologia de alta definição para colher depoimentos dos mais velhos, cotidiano e, claro, mostrar do que brincam as crianças.

Da infância vivida no porto de Corumbá, às margens do rio Paraguai, e dos conhecimentos técnicos advindos das aulas de audiovisual no Moinho Cultural, Joilson Aparecido dos Santos Soares, de 17 anos, vai tirar as inspirações para os vídeos. “A brincadeira é uma arte, é o lado mais lúdico, quero fazes esse resgate”, conta o adolescente, que via no rio companheiro de diversão. “Ia tomar banho, pescar”.

Aram Amorim, de 13 anos, ainda não tem claro o que vai mostrar, mas uma coisa é certa, vai ter música. “Pena que a vida não tem trilha sonora”, diz o adolescente, que ostenta no pescoço um inseparável fone de ouvido. Ele observa que no bairro Santo Amaro, onde mora, faltam mais espaços de lazer. “Só tem a Praça do Papa, onde a gente anda de skate, brinca”, conta.

Laura Félix de Barros, de 14 anos, mora próximo ao Shopping Campo Grande. Com um quintal amplo, sobra espaço, mas, às vezes, falta companhia. “Não é sempre que o meu irmão está em casa”, conta, intercalando a entrevista com bolinhas de sabão. Ontem, a brincadeira foi guerra de lama, sinal de que o tempo instável não arrefece os ânimo de quem quer se divertir.

Depois de passar boa parte da infância morando no Paraguai, o adolescente Francisco Bezerra Neto, conta que sempre achou engraçado o hábito das pessoas irem até o outro lado da fronteira para comprar videogames. Para ele e seus amigos paraguaios, diversão mesmo era brincar na rua. Hoje, é adepto das redes sociais. “Mas não passo mais do que o tempo necessário em frente do computador”.

Aram e o fone: "Pena que a vida não tem trilha sonora". (Foto: Minamar Júnior)
Aram e o fone: "Pena que a vida não tem trilha sonora". (Foto: Minamar Júnior)

Brincadeira eletrônica - O “Memórias do Futuro” foi selecionado entre 306 projetos inscritos na Fundação Telefônica/Vivo. O projeto tem 20 participantes, com idades entre 12 e 20 anos, vindos de aldeia, quilombo e da região de fronteira com a Bolívia e Paraguai. Na primeira etapa, iniciada no último domingo, eles vão participar de oficinas sobre produção audiovisual.

“Durante as oficinas, os meninos e meninas do projeto serão orientados sobre a pesquisa que irão realizar em suas comunidades. Começarão aos poucos compondo um painel e descobrindo sua própria identidade cultural, a cultura da infância, sua vida em sociedade e seu papel na comunidade”, explica Lia Mattos.

Depois de uma semana, o grupo volta para a casa e dá largada à produção dos microdocumentários, vídeos com até 4 minutos. Em outra etapa, os profissionais vão até os participantes, para concluir o trabalho. A partir de julho, as produções serão apresentadas na Caravana Tecnobrincante. O conteúdo também será disponibilizado em um banco de dados virtual.

Toda a equipe inclui 13 profissionais e todo o projeto terá custo de R$ 206 mil, valor disponibilizado pela Fundação Telefônica. A proposta é do Pontão de Cultura Guaikuru e do Espaço Imaginário.

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