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A inutilidade de sermos

Por Fábio Coutinho de Andrade (*) | 13/05/2011 11:11

“Nada há que valha a pena”, ou “todos os caminhos são inúteis”, como dizia Fernando Pessoa, em um de seus diversos heterônimos. Complexo, causa desassossego. Incomoda. Pessoa é uma pedra em meu sapato, chego à conclusão.

Retrocedendo à temática, se todos os caminhos são inúteis, não levam eles a Roma. “A vida é a busca do inútil pelo impossível”, outra citação feita por Pessoa, atribuída a Gabriel Tarde. Aristóteles já dizia: “só sei que nada sei”. Isso por que quanto mais o conhecimento se alarga, mais ele toca partes desconhecidas. É impossível, mesmo, conhecer algo a fundo.

Como almejar então compreender nossa vida? Nossos caminhos? Nossas escolhas?

Nosso conhecimento não será nunca suficiente. Então entra em cena a experiência, como bem exposto por David Hume. Exerce ela importante papel na rota de nossas vidas, pois a partir dela podemos atribuir a uma causa o seu devido efeito.

Mas, ainda assim, desconhecemos muitas das causas que regem alguns efeitos em nossas vidas ou, mesmo, em nosso mundo. Afinal, não estão ainda sendo descobertos novos planetas? Não estão sendo desvelados alguns segredos do Universo? Não estamos próximos de descobrir a cura do câncer?

Talvez ainda hajam leis da física esperando para serem expostas, leis da química ainda por serem provadas, enfim, um novo universo a ser explorado e que pode modificar o rumo de nossas vidas. Como, por exemplo, uma bomba de nêutron (“oh my God!).

Somos impotentes, somos pequenos, somos uma ínfima fração do Universo. E qual o nosso papel nesse teatro místico? Quem, ao fim, irá cerrar as cortinas de nossas vidas? E qual será a nossa participação nessa “mis-en-scène”? Simplesmente não nos cabe saber. Se os deuses quisessem que soubéssemos, teriam nos dado esse conhecimento (outra paráfrase de Pessoa).

Somos construtores do porvir, essa é a verdade. Nosso papel, nossa tarefa, é “arrumar a casa” para os que aqui aportarão, por que virão. Qual o nosso legado? Qual a nossa herança? Que valores iremos deixar aos atores que nos sucederão?

Essa a única verdade que podemos contemplar. O mais são desvios de rota.

(*) Fábio Coutinho de Andrade é advogado, especialista em Direito Penal.

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