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Truão da corda bamba

Por Bruno Peron (*) | 27/01/2014 08:33

Em decorrência de nossa meia-cidadania (questão que, de tão importante, já tratei em muitos textos) e da Lei de Gérson institucional (questão que ainda merecerá atenção noutra oportunidade), cada brasileiro tem sido tratado como truão da corda bamba pelos leões e hienas do governo federal. O país passa frequentemente por situações de instabilidade social (como a crise nos presídios do Maranhão e a queima de ônibus como forma de protesto no estado de São Paulo). Não temos conseguido esticar a corda sobre a qual transitamos, nem deixá-la firme e resistente.

Além disso, o Brasil funciona com estímulos esporádicos e intensos. Surtos de seu desenvolvimento ocorreram com medidas emergenciais ou autoritárias: os 50 anos em 5 de Juscelino Kubitschek, o “milagre econômico” de Emílio Médici, o Plano Real durante o governo de Itamar Franco e os espetáculos esportivos (Copa e Olimpíadas) deixados por Lula, o Exterminador da Fome. Não há um curso natural de desenvolvimento no Brasil que seja consistente, progressivo e sustentável. Seus presidentes carregam uma bomba acesa e deixam-na a seus sucessores. Nalgum momento, esta bomba estoura em crises de governabilidade e planejamento.

Uma delas refere-se às obras infraestruturais dos aeroportos brasileiros para a circulação de turistas nacionais e estrangeiros durante a Copa de 2014. O andamento dos projetos e dos trabalhos tem causado preocupação a autoridades brasileiras e crítica de representantes da FIFA (Federação Internacional de Futebol, traduzido da sigla em francês). O motivo é que a realização dos investimentos sofre atrasos, os gastos do governo têm sido muito mais altos que o orçamento que se propôs inicialmente, e a finalização de parte dos projetos coincidirá com o início dos jogos em junho. Uns ganham e outros perdem com este banquete orçamentário.

Os aeroportos das 12 cidades-sede da Copa de 2014 receberão R$ 5,6 bilhões de investimentos públicos e privados. (http://www.infraero.gov.br/images/stories/Obras/press_kit_MATRIZ_DE_RESPONSABILIDADE_010611.pdf). Estas serão as cidades-sede: Manaus, Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Cuiabá, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Entre os investimentos infraestruturais nos aeroportos brasileiros, cito a construção e a reforma de terminais, e a ampliação de pistas de pouso e de táxi. Ainda que fora do período da Copa e em épocas festivas, os aeroportos brasileiros já dão sinais de saturação e falta de organização.

Como se não bastasse, mencionei num parágrafo anterior que o preço que o governo federal tem gasto com as reformas dos aeroportos tem ficado muito acima do orçamento que ele recebeu das empresas envolvidas. Para dar alguns exemplos, a reforma do terminal de passageiros do aeroporto de Curitiba ficou 166% mais cara, enquanto o de Salvador, 164%.

A mesma preocupação com o orçamento mais caro é válida para a construção e a reforma dos estádios (as Arenas), as obras de mobilidade urbana e a modernização de portos.

Na história do Brasil, as cidades têm-se fundado com o amparo do poder religioso (quase sempre a partir de uma praça central e uma Igreja) e do poder econômico (algum produto de valor comercial que caracteriza uma região: cana-de-açúcar, café, laranja, borracha, etc.). Os recursos gerados por certas mercadorias impulsionam a expansão das cidades. Desta vez, teremos aeroportos mais modernos devido ao negócio do futebol no Brasil, ou seja, seu histórico de comercialização de bens e serviços futebolísticos com os quais o país é renomado.

Malgrado os problemas infraestruturais para a realização da Copa em 2014, o governo federal espera deixar um legado que melhore a vida dos brasileiros. Portanto, estes gastos governamentais não são completamente infaustos, já que milhões de brasileiros se beneficiarão de aeroportos mais modernos. Resta saber se as empresas aéreas atenderão à expectativa dos viajantes quanto à organização e à pontualidade. Sem discutir estas particularidades, muitos contam nos dedos de uma mão quantas vezes entraram num estádio ao longo de toda sua vida; outros esperam viajar mais de avião depois que baixem os preços das passagens. A corda continua bamba.

(*) Bruno Peron é acadêmico e articulista

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