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Capital

Com 3 mortos, policiais se revoltam e dizem que não "aguentam mais"

Bruno Chaves | 22/03/2014 09:45
Assassinato mais recente ocorreu em uma farmácia da Vila Bandeirantes no dia 12 de março (Foto: Marcos Ermínio)
Assassinato mais recente ocorreu em uma farmácia da Vila Bandeirantes no dia 12 de março (Foto: Marcos Ermínio)

Só em 2014, três policiais civis perderam a vida no exercer da atividade profissional em Mato Grosso do Sul, média de um por mês. Dirceu, Marcílio e Weslen foram “arrancados” de suas famílias e da sociedade que protegiam. Os assassinatos deixaram a categoria, representada pelo Sinpol (Sindicato dos Policiais Civis de Mato Grosso do Sul), revoltada. “Não aguentamos mais”, diz o presidente do sindicato, Alexandre Barbosa da Silva.

Para ele, a responsabilidade das mortes é do Estado. “Muitos falam que é fatalidade, mas o que acontece é a falta de efetivo, de estrutura e de condições de trabalho. Isso ocasiona uma sobrecarga de serviço policial. Faltam policiais e faltam até munições. Todo esse contexto acaba afetando, ocasionalmente, essas fatalidades”, avalia.

Barbosa lembra que a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul tem destaque nacional na elucidação de crimes; uma classificação de 67% de resolução de casos. “Estamos 34% acima da media nacional”, afirma. Para ele, policiais sempre defendem a sociedade, mesmo não estando em serviço. “É policial sempre”.

Essa sobrecarga de serviço, atrelada a falta de efetivo – déficit 1,1 mil policiais, afirma Barbosa –, faz com que policiais acabem esgotados e no limite. “A Polícia Civil não tem hora extra e o policial não tem hora e nem dia para trabalhar”, opina. Todos esses fatores, para o sindicato, influenciaram na morte dos servidores do Estado.

“O caso do Marcílio que morreu em Paranhos, por exemplo, é um desses. Ele estava sozinho fazendo uma investigação e acabou morto. Isso ocorre porque não fazem um reposição correta dos policiais, além da falta de efetivo”, pontua.

Outro fator determinante, na opinião do sindicato, que facilita o lado da criminalidade, é a custódia de presos nas delegacias. “O policial civil que faz a investigação acaba sendo reconhecido pelo fato de o preso estar em delegacias. Quem investiga não Pode cuidar de preso”, defende.

Procurada pela reportagem, a assessoria da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública) emitiu nota informando que “os policiais, no cumprimento do dever, colocam em risco a própria vida para proteger a vida, o patrimônio, a liberdade e os diretos e garantias individuais do cidadão”.

“Com certeza, os policiais mortos em serviço arcam com o pesado ônus, eles com a vida e seus familiares com as consequências, aliás, os crimes praticados contra os policiais deveriam ser motivo de agravante no código penal porque esses crimes atingem não só o policial, mas, principalmente, os representantes do poder de polícia do estado brasileiro, atingindo a democracia do País”.

Sobre os investimentos na segurança pública, a Sejusp informa que, de novembro de 2013 até julho de 2014, serão entregues 495 viaturas para todas as instituições. “Ainda este ano, serão contratados 1.391 novos servidores para todas as instituições de segurança pública do Estado, sendo que para a Polícia Civil serão 320 novos policiais”.

A secretaria lembra que no próximo dia 27, 53 novos delegados tomarão posse, “além da compra de mobiliário, armamento, munição, fardamento e outros para todas as instituições”.

“Tudo isso com vistas ao aperfeiçoamento da gestão de todas as instituições, com base no programa de redução da criminalidade, avaliação de desempenho institucional e dos dirigentes com foco nos crimes que mais impactam a sociedade, que são aqueles contra a vida e contra o patrimônio”.

Greve – Hoje (22) será realizada uma assembleia no sindicato que decidirá uma possível greve dos policiais militares. “Não aguentamos mais. Se não tiver sinalização sobre melhorias, possivelmente entraremos em greve”, diz Barbosa.

“Estamos revoltados com as mortes de nossos companheiros, que estão na linha de frente. Nos inspiramos neles para termos forças para conseguirmos lutar em prol de nós mesmos e dizer que a morte deles não foram em vão”, emenda.

Mortes – O primeiro caso de assassinato de policiais civis de Mato Grosso do Sul ocorreu no dia 28 de janeiro em Campo Grande. O investigador Dirceu Rodrigues dos Santos, 38 anos, foi baleado com dois tiros na testa e na nuca durante uma investigação de um furto de uma joia avaliada em R$ 80 mil no bairro Campo Nobre.

Já no dia 12 de fevereiro, em Paranhos, a 469 quilômetros da Capital, o papiloscopista Marcílio de Souza, 51, foi metralhado e morto em uma lanchonete a 100 metros da linha da fronteira com o Paraguai. Ele voltava de um prédio da Polícia Paraguaia, onde foi informar o furto de um trator ocorrido em Sete Quedas.

A morte mais recente aconteceu no dia 12 de março. O investigador Weslen de Souza Martins, 36, foi morto com um tiro no coração minutos após o roubo a uma farmácia na Vila Bandeirantes.

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