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Capital

O drama diante das incertezas de quem vive em áreas invadidas

Mariana Lopes | 02/03/2013 08:20
(Fotos: Pedro Peralta)
(Fotos: Pedro Peralta)

“A epidemia de dengue veio junto com uma de desocupações”. É o desabafo de uma moradora da favela Portelinha do Segredo, área de intervenção do PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento), localizada no final do prolongamento da avenida Ernesto Geisel.

Edivânia Martins, 28 anos, mora em um barraco junto com o marido e mais quatro filhos. Antes de ir para lá, ela vivia com a mãe e dividia a casa com outras 12 pessoas da família. “Não tinha mais condições de eu morar lá, daí soube dessa área e resolvemos vir para cá”, lembra a dona de casa.

Foi um ano e meio no qual ela ficou separada dos filhos até criar certa estabilidade na área. “A gente vivia sob ameaça de ser expulso a qualquer momento”, conta. Como todos que moram em terrenos que pertencem à Prefeitura, ela é bem consciente de que a invasão é ilegal e sabe que a qualquer momento pode ser hora de desmontar o barraco e ir embora. “Só que a gente não tem para aonde ir”, justifica.

E assim, vivem um dia de cada vez. Quem sai cedo para ir trabalhar, deixa a casa com medo de voltar e encontrar só madeiras espalhadas pelo chão. Como aconteceu com a diarista Geiciane da Silva Mota, de 22 anos. Na última terça-feira (26), ela chegou à favela e a Emha (Agência Municipal de Habitação) havia derrubado o barraco que ela estava terminando de construir para morar com o filho de dois anos.

Geiciane está grávida, veio de Rio Verde do Mato Grosso e há seis meses está na Capital. Enquanto construía o barraco, estava abrigada na casa do irmão, que também mora na Portelinha do Segredo. “A assistente social disse que é para eu ir para a casa de um parente, mas não é fácil ficar na casa de alguém, por mais que seja irmão, porque ele tem família, tem a vida dele”, desabafa. Sem opção, hoje ela está na casa da mãe.

O drama diante das incertezas de quem vive em áreas invadidas
O drama diante das incertezas de quem vive em áreas invadidas

Ela foi notificada porque não estava entre as 130 famílias cadastradas em dezembro do ano passado, que serão removidas para os loteamentos Gregório Corrêa e Ari Abussafi, que serão construídos no bairro Izabel Garden. O projeto está prevista para 2014.

A maioria dos barracos tem apenas um cômodo e um banheiro improvisado, assim como a luz também é. As paredes são feitas de madeira e lona, e alguns ficam no chão batido. “A gente luta como qualquer pessoa, só não tivemos sorte de sermos ricos”, destaca Edivânia.

Mas a maior indignação dela é com o tratamento que recebem dos órgãos públicos. “Eles tratam a gente como lixo, com descaso, chega a ser desumano”, relata. E a reclamação se estende até ao prefeito de Campo Grande. “Antes de se eleger, o Bernal dizia que era a favor do povo. Agora que ganhou, ele não quer nem saber, nunca veio aqui ver qual é a nossa situação”, reclama

O drama diante das incertezas de quem vive em áreas invadidas

Outra desapropriação feita recentemente foi em uma área de comodato no bairro Santa Emília, onde duas famílias receberam ordem judicial de despejo e os respectivos barracos foram demolidos. Uma delas teve que se alojar na Associação de Moradores da região, pois não tinha para aonde ir.

O pintor Amilton Ales de Freitas, 29 anos, tinha em mãos dois documentos, um era o Título de Comodato da área, pelo qual o sogro dele pagou 2 mil cruzeiros, há 30 anos. O outro era o acordo feito com a Emha que garantia um lar à família dele assim que fosse despejada da área.

Hoje, a família vive no improviso, com os móveis entulhados e sob a proteção de uma lona. A esposa do pintor, Maria Inês Santos Castro, 37 anos, está grávida de 8 meses e tem medo dos próximos dias. “Como vou trazer um recém-nascido para cá? Estou dormindo no chão com a minha filha”, desabafa, com certo tom de desespero. No barraco construído nos fundos da Associação de Moradores, mora o casal, a filha de 12 anos e os pais de Maria Inês.

Grávida, Maria Inês vive com a família em um barraco improvisado na Associação de Moradores do Santa Emília (Foto: Pedro Peralta)
Grávida, Maria Inês vive com a família em um barraco improvisado na Associação de Moradores do Santa Emília (Foto: Pedro Peralta)

Em Campo Grande, desde o começo do ano foram identificadas pelo menos seis áreas públicas invadidas, das quais algumas já foram desapropriadas e outras notificadas.

No caso das áreas notificadas, as famílias ainda não receberam ordem de despejo, e vivem a agonia da incerteza do amanhã. A qualquer momento elas podem receber intimação e ter os barracos demolidos.

Em dezembro no ano passado, quando já estava eleito, mas antes de assumir a Prefeitura, Alcides Bernal (PP) declarou que iria retomar áreas públicas invadidas. No primeiro mês no comando da administração pública, ele foi novamente enfático ao dizer que não iria permitir que alguém ficasse em imóveis da Prefeitura.

O Campo Grande News entrou em contato com a assessoria de imprensa da Prefeitura, que não esclareceu nenhuma das situações de invasão citadas. O único retorno foi em relação à família do bairro Santa Emília. De acordo com a assessoria de imprensa, a questão é com a Emha e não há prazo determinado para acomodá-la em uma casa, conforme o prometido.

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