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Capital

Pichações avançam, tomam conta e impunidade revolta moradores

Filipe Prado | 27/10/2014 13:34
Os pichadores utilizaram 30 segundos para pichar o muro de Evaldo, no Santo Amaro (Foto: Marcelo Calazans)
Os pichadores utilizaram 30 segundos para pichar o muro de Evaldo, no Santo Amaro (Foto: Marcelo Calazans)

Sem punições rígidas para pichadores e prejuízos crescentes para proprietários, os campo-grandenses ficaram indignados com o aumento das pichações na Capital. Os pichadores continuam “fazendo a festa”, invadindo desde a periferia até os bairros nobres e os moradores afetados cobraram punições aos autores.

Conforme o Art. 65 da Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, a pena para quem for pego pichando é de três meses até um ano, além de multa, com valores definidos por um juiz. Caso a pichação seja feita em monumentos tombados, a pena sobe mínima sobre para seis meses.

O pichador flagrado não é obrigado por lei a pintar o local danificado. Para Chadad Carrilho, 24 anos, proprietário de uma ótica, as punições deveriam ser mais rígidas e o policiamento mais intensivo para frear o crescimento das pichações no Bairro Moreninhas. “Iria trazer melhorias pra gente”, comentou.

Há um mês, Chadad teve as portas e muros de sua ótica pichados e até agora não foram encontrados os culpados ou os valores ressarcidos. “Nós temos que gastar com pinturas e isso está cada vez mais frequente”, afirmou Chadad.

No mês passado oito pichadores, todos menores de idade, foram apreendidos pelo Polícia Civil do Bairro Moreninhas. Mesmo com a diminuição dos autores, os moradores ainda não acreditam que o problema irá acabar. “Continua e está no bairro todo”, revelou o empresário.

As pichações não tomaram conta somente dos bairros periféricos de Campo Grande. No Bairro Santo Antônio o número também vem crescendo. O estudante Douglas Vendramini, 22, contou que todos os anos a sua residência precisa ser pintada, por conta da pichação.

“São cerca de R$ 1 mil gastos todas as vezes que precisamos pintar o muro”, disse o estudante. Ele contou que câmeras de segurança foram instaladas em sua casa, para inibir os pichadores, porém eles não se intimidaram e deixaram uma mensagem no portão da residência, onde estava escrito: “Zé povinho, câmera não me ofusca”.

O estudante, indignado com a situação, relatou que identificou o pichador, porém, como é menor de idade, não pode fazer nada. “Está complicado. Eles não respeitam”, comentou.

Uma semana foi o tempo que durou a pintura da parede da casa do empresário Evaldo Duek, 54. Em menos de 30 segundos, R$ 1 mil foram perdidos. “Eu cheguei em casa às 23h08 e às 23h17 começaram a pichar a parede. Ele ficou ali cerca de 30 segundo só”, contou o empresário, de acordo com as imagens da câmera de segurança.

Morador do Bairro Santo Amaro, Evaldo ficou revoltado com a situação. “Eles não se inibem com as câmeras. Até ficou olhando para elas”, acrescentou. Para ele, as pichações no bairro vêm aumentando, principalmente em lugares de difícil acesso. “É incrível os lugares onde eles picham”, admitiu.

A contadora Nilza Beatriz, 65, moradora do Bairro São Francisco, questionou as punições para os pichadores, principalmente para os menores de idade. Ela sugeriu que eles pagassem pelos danos cometidos ou que fizessem trabalhos voluntários, como punição.

“Quando meu filho tinha 17 anos, ele foi pego dirigindo e teve que prestar serviços comunitários com pena. Por que não fazem isso agora? Ou pelo menos, paguem os danos”, criticou Nilza.

Douglas contou que precisa gastar cerca de R$ 1 mil toda vez que picham (Foto: Marcelo Calazans)
Douglas contou que precisa gastar cerca de R$ 1 mil toda vez que picham (Foto: Marcelo Calazans)
Chadad cobrou maiores punições para os pichadores (Foto: Marcelo Calazans)
Chadad cobrou maiores punições para os pichadores (Foto: Marcelo Calazans)

Agora, com medo de novas pichações, ela pretende colocar câmeras de segurança em volta da casa, para tentar inibir os pichadores, mesmo isso não sendo efetivo em outros bairros da Capital.

No Carandá Bosque, bairro nobre de Campo Grande, as pichações ainda estão “tímidas”, mas começaram a aparecer. Os desenhos são encontrados em muros de casa que ficam ao lado de terrenos baldios.

Protesto – Para o sociólogo Paulo Cabral, as pichações podem ser uma forma de protesto dos jovens e adolescentes. “Isso é um aspecto particular destas fases, a contestação. O jovem vive um momento de afirmação de identidade”.

Para ele, as pinturas são feitas para protestar contra algo, mas é um protesto considerado “saudável”, pois é quando ele pode “experimentar e testar limites”.

O sociólogo ainda questionou as punições para os pichadores. “Acredito que o poder público, os órgãos culturais, pudessem incentivar a cultura, através da arte do grafite. Pegar um pichador e converte-lo em um grafiteiro”.

Outro questionamento foi o “enfeiamento” da cidade. Cabral acreditou que os jovens possam estar criticando outros tipos de prejuízos que a sociedade está tendo atualmente. “talvez estejamos precisando ver o feio para nos atentarmos para as outras coisas feias que não estão sendo pautadas. Ele podem estar chamando a nossa atenção”, concluiu.

As portas e paredes da ótica no Moreninhas foram pichadas (Foto: Marcelo Calazans)
As portas e paredes da ótica no Moreninhas foram pichadas (Foto: Marcelo Calazans)
No São Francisco as pichações vêm aumentando (Foto: Marcelo Calazans)
No São Francisco as pichações vêm aumentando (Foto: Marcelo Calazans)
No Santo Amaro muitas casas foram totalmente pichadas (Foto: Marcelo Calazans)
No Santo Amaro muitas casas foram totalmente pichadas (Foto: Marcelo Calazans)
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