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Cidades

Para observadora da ONU, conflito com índios em MS revela ódio étnico

Aline dos Santos | 20/06/2016 07:45
Bandeira do Brasil manchada de tinta vermelha foi içada em velório. (Foto: Hélio de Feitas)
Bandeira do Brasil manchada de tinta vermelha foi içada em velório. (Foto: Hélio de Feitas)

O cenário de conflito por terra entre índios e fazendeiros em Mato Grosso do Sul, cujo episódio mais recente é a “Guerra de Caarapó”, tem o ódio étnico como um dos protagonistas. A análise é da advogada Sâmia Roges Jordy Barbiere, observadora da ONU (Organizações das Nações Unidas) para questões indígenas há 10 anos.

“Esse ódio étnico é absurdo. Vergonha da nossa própria face. E é muito forte isso aqui para a gente. As pessoas têm uma discriminação absurda. Como se não gostasse da sua própria face. O ódio étnico se dá quando odiamos o que não conhecemos e simplesmente excluímos. Isso vem desde a colonização, que não reconheceu o direito consuetudinário, ou costumeiro dos habitantes que viviam originariamente no Brasil: os índios”, afirma.

De acordo com Sâmia, que presidiu por seis anos comissão da OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil) sobre a questão indígena e é consultora do ITC (Comite Intertribal, Memoria e Cultura Indígena), o processo de demarcação de terras sofre com falta de política pública.

“O que vivemos hoje, em nosso Estado, é puro abandono e descaso a ambos: os indígenas e os fazendeiros de boa-fé, por falta de uma política indigenista do Estado Brasileiro. Hoje vivenciamos a autotutela, como genocídio de lideranças indígenas que pleiteiam o direito originários de suas terras e aguardam indefinidamente em processo, e por falta de política de pacificação de conflitos”, salienta Sâmia.

O agente de saúde Clodioudo Aguile Rodrigues dos Santos, 26 anos, índio guarani-kaiowá, foi morto em confronto com fazendeiros no último dia 14. O conflito foi na divisa da fazenda Yvu com a reserva indígena Tey Kuê, no município de Caarapó, a 283 km de Campo Grande.

Conforme o apurado pela reportagem, no domingo (dia 12) um índio foi à fazenda e teria sido ameaçado por um capataz. No dia seguinte, o dono da área fez um BO (Boletim de Ocorrência) para registrar o caso.

Em seguida, equipe da PF (Polícia Federal) foi à aldeia e os índios anunciaram a retomada, iniciada na madrugada do dia 14. Conforme os indígenas, 15 caminhonetes foram ao local e houve tiros. O agente de saúde morreu e seis índios foram feridos. Já os produtores alegam que o agente morreu após ser atropelado por um caminhão, durante a confusão. No dia 14, três policiais foram feitos reféns pelos índios.

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