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Em Pauta

A Mulher é Vermelha. Dia Internacional da Mulher

Mário Sérgio Lorenzetto | 05/03/2015 07:51
A Mulher é Vermelha. Dia Internacional da Mulher
A Mulher é Vermelha. Dia Internacional da Mulher

O Novo Alvorecer em Campo Grande. 

A Rebeldia do Sangue da Mulher Indígena.

Maria Auxiliadora Bezerra é uma mulher miúda. Personalidade forte, espírito de liderança que contradiz sua altura. Ela tem 42 anos e leciona artes e culturas indígenas na Escola Municipal Sulivan Silvestre. Essa é a escola da Aldeia Indígena Urbana no Bairro Tiradentes. Ela é a guardiã da cultura de seu povo em uma cidade onde são minoria.

Saiu da aldeia Limão Verde, em Aquidauana, ainda criança. Sua mãe, Enir Bezerra, é uma guerreira na melhor acepção dessa ideia. Da aldeia foram viver no Bairro Monte Castelo, na capital, onde criou sete filhos com seus trabalhos como doméstica, diarista e feirante. Passados os anos, Enir foi eleita a primeira "cacica" (essa palavra não existe no meio patriarcal indígena), a primeira chefe indígena no Mato Grosso do Sul, talvez no Brasil. Maria Auxiliadora só estudou em escolas públicas. Buscava milho, feijão, manga, caju e mamão na aldeia e vendia na pequena feira em frente ao Mercado Municipal. O preconceito na cidade é forte e as mulheres indígenas só podem, desde a fundação desse Mercado, vender seus produtos nas cercanias do mercado. Índio não entra no mercado, não pode ser proprietário de uma banca.
O salto foi corajoso. Foi participar da primeira turma do Magistério para o Contexto Indígena, promovido pela Associação de Educação Católica (AEC), na Escola Félix Zavatarro. O curso visava suprir a falta de professores com formação especializada, pois só existiam professores leigos nas aldeias indígenas. Hoje esse curso virou a Licenciatura dos Povos do Pantanal na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

Seu estágio foi na Aldeia Buriti, em Sidrolândia. Uma aldeia "calma" à época. Também lecionou na Aldeia Tereré, na mesma cidade. Os outros índios diziam que Maria Auxiliadora tinha ideias novas. Influenciou, dentre outras iniciativas, para que as mulheres apresentassem suas danças. Antes, somente os homens apresentavam a conhecida (e monótona) "Dança do Pau".

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As mulheres indígenas buscam melhores qualificações profissionais.

O salário e os estudos das mulheres indígenas estão em um patamar superior ao dos homens. Em média, elas estudam mais e ganham melhores salários ou têm melhores rendimentos, de acordo com Maria Auxiliadora. Ela também combate o mito do homem indígena preguiçoso. Diz que eles ficaram nas aldeias cuidando da produção dos alimentos e produtos para a vendagem. Eles preferem ficar em suas terras. Preferem não ter patrões. Mas são elas que estão à frente dos negócios e do trabalho assalariado. As mulheres procuram, a cada dia, melhores qualificações. Maria Auxiliadora diz que essa é a realidade indígena, pelo menos para os povos Terena.

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Quem manda dentro de casa são as mulheres indígenas.

Diz Maria Auxiliadora que o patriarcalismo, o machismo, o poder do homem foi quebrado no meio Terena. Como as mulheres estudam mais e sustentam a casa, são elas que determinam os destinos da família, elas têm mais força dentro de casa. Existe respeito entre homens e mulheres, mas eles "não têm mais tanta força". O futuro será de mais conquistas para as mulheres, tanto nos estudos como no mercado de trabalho. Ela diz que o futuro é promissor para as mulheres.

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A posse da terra é necessária.

Maria Auxiliadora diz que a experiência da Aldeia Urbana Marçal de Souza, em Campo Grande foi importante. Todavia, existem alguns líderes indígenas no meio rural que não aceitam essa iniciativa. Para ela é importante que todos entendam que as famílias indígenas necessitam ampliar a posse de terras. Também afirma que todos os membros da aldeia urbana gostariam de retornar às suas aldeias, conquistar um pedaço de terra. Mas também entende que viver na cidade é melhor. Todavia, somente os terenas tem maiores facilidades de adaptação em uma cidade. Para ela, é necessário entender que a vida na cidade é cara para os índios. Tudo é pago. Para passear tem de pagar pelo menos a passagem do ônibus. Não pode levar os filhos para as praças por elas estarem abandonadas pelo poder público. E o meio rural é melhor para ela. Mas não voltará para a aldeia por causa dos filhos. Pensa nos estudos dos filhos, que seria mais difícil na aldeia.

Ela diz que não perdeu sua cultura. Continua a manter todas suas referências indígenas. Preserva o artesanato, a roupa, e a língua. Ela diz que o índio não tem vergonha de sua identidade, mas tem receio das chacotas. O índio tem de se defender. O preconceito se abateu sobre todos eles e continua vivo.

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