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Economia

Após "boom", moradores reclamam do atraso em receber casa própria

Bruno Chaves e Luciana Brazil | 20/08/2013 17:29
Ana Cláudia comprou casa da Homex em 2011 e até hoje mora com a mãe (Foto: Pedro Peralta)
Ana Cláudia comprou casa da Homex em 2011 e até hoje mora com a mãe (Foto: Pedro Peralta)

Nos últimos anos, Campo Grande vive um "boom" imobiliário. Diversas construtoras começaram a se instalar na cidade e oferecer apartamentos a preços acessíveis, por meio do programa federal “Minha Casa, Minha Vida”, que facilita o financiamento da primeira casa própria. Diversos campo-grandenses se animaram com as facilidades e as compras começaram a se multiplicar.

Como as unidades são vendidas “na planta”, muitas construtoras não conseguiram cumprir os prazos de entrega e frustraram seus clientes. Muitos deles recorreram à Justiça para encontrar soluções para os conflitos.

A construtora que mais registrou problemas com os compradores da Capital foi a mexicana Homex, que vendeu diversas unidades de seus residências, não conseguiu cumprir a entrega, deu sinal de falência e teve o dinheiro bloqueado pela Caixa Econômica Federal.

Para contornar a situação, a instituição financeira precisou acionar o seguro da construção, tomar o canteiro de obras e escolher outra construtora para terminar as edificações que foram iniciadas. Pelo menos 270 unidades, que foram vendidas e não entregues, serão terminadas até dezembro de 2013, afirmou a Caixa.

A professora Ana Claudia Nantes, de 35 anos, é uma das clientes da Homex que se sentem lesadas por causa do atraso na entrega do apartamento. Ela contou que firmou contrato de compra de uma unidade do Residencial Varandas do Campo, que fica no bairro Paulo Coelho Machado, em outubro de 2011. A entrega, programada para outubro de 2012, ainda não aconteceu.

“O financiamento foi de R$ 82 mil. Desde janeiro pago um valor de R$ 272 referentes aos juros do financiamento e a espera já vai completar um ano”, explica. “Minha parte eu fiz, eu paguei e fiquei sonhado com minha casa. Eles fizeram uma propaganda enganosa”, emendou Ana.

Agora, a expectativa da professora é de receber a casa até o fim do ano. “A Caixa já entrou em contato comigo e garantiu que vai fazer a entrega. Fiquei mais tranquila porque eles [Caixa] passaram mais confiança”, afirma.

Homex deu sinal de falência e não conseguiu concluir as três mil casas prometidas para Campo Grande (Foto: Cleber Gellio)
Homex deu sinal de falência e não conseguiu concluir as três mil casas prometidas para Campo Grande (Foto: Cleber Gellio)

Outra construtora que também recebe inúmeras denúncias é a MRV. As reclamações vão além do atraso nas obras. Clientes que aguardam há 640 dias por imóveis que deveriam estar prontos em 2011 revelam irregularidades nos contratos, como clausulas abusivas e corretagem.

Por causa disso, no dia 24 de agosto, eles prometem fazer o primeiro ato contra o descaso e atraso nas obras da MRV. A manifestação, organizado pelo Facebook, está programada para acontecer na Praça do Rádio Clube, às 8h30.

Desde 2011, o engenheiro Rafael Rezende, 29 anos, espera pelo apartamento que comprou, mas ainda não pode morar. “Eu casei em junho de 2011 e o apartamento deveria ficar pronto em outubro. Desde então, estou morando com tudo improvisado. Os móveis estão todos encaixados ainda”.

Das três ações abertas contra a empresa, Rafael já ganhou uma. “Tem um processo contra o atraso, um contra irregularidades no contrato. E tem a ação da corretagem, que eu já ganhei. Eles (MRV) contratam uma empresa para intermediar a venda do imóvel e quer que a gente pague essa empresa. Essa ação eu ganhei e fui ressarcido em R$ 8 mil, valor que eu paguei para a venda casada, como eles chamam”.

Morando de aluguel até hoje, Rafael se revolta com a situação. “É um absurdo. Quero ser ressarcido por danos morais e materiais”, afirma. O engenheiro também diz que há divergências contratuais entre o da construtora e o da Caixa Econômica Federal.

Oficialmente, a construtora não informa os motivos do atraso, segundo os clientes. Mas nas obras, as desculpas são muitas.

O advogado Glauberth Holosbach, 24 anos, que é cliente da MRV e move uma ação contra a empresa, lembra que nas construções até mesmo o boom imobiliário é usado como desculpa para falta de mão de obra.

“Não vi até hoje nenhum comunicado oficial. Mas, extraoficialmente, na obra e até com os corretores, eles dizem várias coisas. Até mesmo a chuva é usada como desculpa”.

O advogado comprou um imóvel no residencial Ciudad de Vigo, no bairro Tiradentes, que deveria ter sido entregue em junho de 2011. “Eles vinculam a entrega da chave para até março de 2014, ou seja, 24 meses depois da assinatura do contrato, ao invés de seguir o prazo limite”, diz Glauberth.

A reportagem entrou em contato com as construtoras para obter informações sobre os empreendimentos da Capital. O diretor comercial da Homex Brasil, Lindomar Ervate, informou que todo o tipo de informação da empresa passa pela diretoria do México antes de ser divulgada.

A construtora prometeu a construção de três mil casas nos residenciais Amoreiras, das Águas, Cuiabás e Bem-Te-Vi, do Varandas do Campo. No entanto, nem a metade foi entregue.

Já a MRV informou que possui seis residenciais em Campo Grande e um foi entregue. No entanto, no site da construtora aparecem apenas quatro empreendimentos: Castelo de Mônaco, Spazio Classique, Parque Ciudad de Vigo e Parque Castelo de Luxemburgo. Desses, apenas o Castelo de Luxemburgo está sinalizado como “pronto”.

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