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Economia

Cresce risco de calote de consumidor, alerta o Serasa

Redação | 25/12/2008 11:40

A classificação de risco de crédito das maiores empresas do País piorou neste fim de ano, refletindo os estragos causados pela crise. A Serasa Experian acaba de revisar as notas de crédito de 276 companhias com faturamento superior a R$ 800 milhões e o resultado foi que a nota média desse seleto grupo passou de 4,5 para 5,2 - quanto maior o número, maior a probabilidade de calote.

As empresas com avaliações muito favoráveis eram 231, 84% da amostra, e agora passaram a ser 197, ou 71%, o que representa rebaixamento de 34 delas para classes de médio ou de alto risco. Na classe intermediária, a participação subiu de 16 % para 27% (de 44 para 75 empresas). No alto risco e em default (calote), onde havia uma empresa, agora são quatro.

"Esses resultados servem como sinal de alerta para que os gestores de crédito comecem a tomar suas decisões", diz Márcio Torres, gerente de crédito da Serasa que coordenou o trabalho de revisão do chamado rating de crédito das empresas.

Segundo ele, essas decisões envolvem desde redução nos limites de crédito até aumento nos juros cobrados das empresas. Ou seja, haverá obstáculos adicionais para a obtenção de financiamento. A Serasa é a maior empresa de informações para crédito da América Latina e tem entre os clientes todos os bancos que atuam no País.

Para o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, a mudança na avaliação de risco é uma análise de curto prazo, porque reflete o momento agora e não a real situação financeira das empresas de médio e longo prazos, que é muito melhor que a atual. "Se os bancos se guiarem por essa fotografia de curto prazo e encarecerem o crédito, vão causar problemas para as empresas e a economia brasileira."

Os ratings de crédito das empresas avaliadas pela Serasa têm caráter sigiloso, impedindo sua divulgação pontual. "Mas os dados agregados nos fornecem uma visão ampla da situação desse conjunto de empresas", pondera Torres.

O perfil, segundo ele, indica sua força ou fragilidade para enfrentar crises. "A boa notícia é que, mesmo sofrendo os revezes que a crise trouxe ao País e aos seus negócios, os ratings ainda são favoráveis, pois mais de dois terços da amostra permanecem nas classes de menor risco", diz o gerente de crédito.

Dos setores analisados pela Serasa, a indústria aparece como o que mais perdeu com a revisão das notas de crédito. Na média, o risco aumentou de 4,14 para 5,08, variação de 22,7%. No total da amostra, a mudança foi de 4,54 para 5,29, com uma variação de 16,51%. O setor industrial responde por 53% do faturamento das grandes empresas que têm risco de crédito avaliado pela Serasa. Juntas, faturam R$ 416,8 bilhões por ano.

"A crise golpeou em cheio o setor", diz Torres. Primeiro, porque praticamente todas as grandes indústrias são exportadoras e, mesmo que o dólar tenha se valorizado ante o real, suas vendas externas caíram porque os mercados consumidores de produtos made in Brazil se retraíram. Além disso, muitas estavam endividadas em moeda estrangeira e a mudança súbita no dólar fez sua dívida em reais ficar muito maior de uma hora para outra.

A alta do dólar teve, ainda, outro impacto negativo nas finanças das empresas. Com forte atuação em exportações, muitas costumavam especular no mercado de derivativos, apostando na manutenção da valorização do real. Mas o tiro saiu pela culatra: o dólar chegou a se valorizar 40% ante o real de agosto para cá e empresas como a Aracruz e a Sadia perderam muito dinheiro com apostas em derivativos "tóxicos". (Jornal Estado de São Paulo)

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