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Artes

Clipe mostra a visão de um paulistano que vive de perto os conflitos indígenas

Naiane Mesquita | 14/10/2016 06:08
Ruspô prepara novo disco, intitulado "Dourados"
Ruspô prepara novo disco, intitulado "Dourados"

Dourados, quase em uma das fronteiras do País com o Paraguai, também é um dos municípios onde o confronto indígena é ainda mais nítido. No lugar em que as tensões são comuns e a linha cultural entre os povos é estreita, o músico Ruy Sposati encontrou inspiração para falar sobre uma sociedade que ainda se alimenta do preconceito.

“Índio não entra no shopping porque o branco não gosta”, diz a letra sem rodeios. “Dourados é linda”, repete como contraponto. A balança desigual evidente em todo o território do Estado está ali também na canção do paulista que conheceu a cidade de perto. Jornalista, Ruy trabalhou em Campo Grande e no município, onde teve inspiração para compor a música Dourados State of Mind, onde assina pelo projeto Ruspô. 

O single é o primeiro divulgado de um disco intitulado Dourados, ainda sem previsão de lançamento. “Eu nasci e cresci em São Paulo, mas não moro lá faz seis anos. Eu não nasci aqui, mas trabalho na região, então, claro, meu lugar de fala é de alguém de fora, mas que tem alguma penetração nas coisas daqui”, afirma Ruy, 32 anos.

Jornalista, Ruy buscou sintetizar o que observou ao longo de sua experiência na cidade. “Não quis falar exatamente de Dourados, mas desse Dourados state of mind que eu inventei, que é uma síntese de um determinado tipo de pensamento e de prática aqui, relacionado às mentalidades que se desenvolvem aqui nas relações interétnicas. Eu venho de São Paulo, Capital, e essas coisas não existem lá”, explica.

Para ele, a relação direta com as populações indígenas mostra um viés da sociedade que não fica explícita em outras cidades. “O convívio com as populações guarani, por exemplo, que, sim, existem em São Paulo é muito mais rarefeito. Não é algo que você vai ouvir sua avó emitir uma opinião a respeito, ou mesmo lembrar eventualmente da tua ascendência”, ressalta.

Imagens são do México, mas poderia ser daqui (Foto: Reprodução)
Imagens são do México, mas poderia ser daqui (Foto: Reprodução)

O nome State of Mind não é novidade no mundo da música. Logo de cara é possível lembrar da canção de mesmo nome do rapper Jay-Z com participação de Alicia Keys. A canção estourou em 2010 e se tornou um hino da cidade de Nova York durante muitos anos.

Na batida de Ruy, os versos tem menos glamour que na versão norte-americana. Falam sobre seguranças bem treinados, do sonho desenvolvimentista das usinas de cana ou as fazendas de Mato Grosso do Sul. O clipe que usa imagens antigas brinca com a imaginação do observador. “Estava pensando no que dizer sobre as imagens, porque é justamente o que alguns jornais locais e pessoas que deixaram comentários no Youtube disseram, não é Dourados, em extensão a uma crítica aos versos”, diz Ruy.

Sem veia documentarista ou obrigação de contar a verdade, o músico foge das cobranças. “Sim, as imagens são antigas, não tem filtro, é um rolo antigo de 8mm de uma família de turistas estadunidenses em algum lugar do México. É uma música, uma canção, não se trata de alguma coisa que tenha alguma exigência com a verdade ou com uma estética representativa, naturalista. É só uma música, como aquilo é só um vídeo de música”, declara.

Viajante, Ruy começou o projeto do primeiro disco em Belém, depois Brasília e só em Campo Grande finalizou as mixagens e vozes de uma forma completa. O segundo trabalho, Dourados, foi na mesma direção, porém, com uma pegada mais melancólica. “Comecei em Belo Horizonte, onde estava morando antes de voltar para Mato Grosso do Sul e agora devo fechar aqui. Tem uma música que fiz na Coreia do Sul, onde fiquei durante um mês. É um disco muito cinza, mais triste de maneira geral”, acredita. 

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