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Artes

Os índios de José Medeiros ganham exposição na ONU, em Nova Iorque

Paula Maciulevicius | 21/10/2013 07:25
“Indiozinho”, premiada no Concurso Fotográfico Leica, abre a exposição “Brazilian Photojournalists”, em Nova Iorque.
“Indiozinho”, premiada no Concurso Fotográfico Leica, abre a exposição “Brazilian Photojournalists”, em Nova Iorque.

Ele tem uma casa no Xingú e nos dedos a capacidade de clicar cenas que só a convivência propicia. Um trabalho contemporâneo de retratar um cotidiano que dispensa legendas. A imagem acima, “Indiozinho”, premiada no Concurso Fotográfico Leica, transporta quem vê, como espectador do gol. Do lado de cá, sente-se o respingar da água, o cheiro do rio e a alegria dos pés ao encontro da bola na bicicleta.

A foto é a que abre a exposição “Brazilian Photojournalists”, programada para o ano que vem, no escritório da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova Iorque, ocasião em que José Medeiros, ao lado de outros 21 fotógrafos , expõe as riquezas dos cliques do Brasil.

Campo-grandense e com 40 anos, ele se dedica à fotografia de corpo e alma. Os projetos que inicia têm duração de uma década. Do Pantanal às comunidades indígenas mato-grossenses, estão nos detalhes da expressão do índio e do homem pantaneiro, o resgate de um passado carregado de história.

A carreira de José Medeiros começou em Campo Grande, como laboratorista do jornal Correio do Estado, no início da década de 90, 17 anos depois ele tornou o próprio estilo uma referência nacional.

Campo-grandense, José Medeiros tem até casa no Xingú. Vive como eles vivem, come do que eles comem. (Foto: Marcos Ermínio)
Campo-grandense, José Medeiros tem até casa no Xingú. Vive como eles vivem, come do que eles comem. (Foto: Marcos Ermínio)

“A fotografia te leva para qualquer lugar e a fazer coisas que nunca imaginou que poderia. Aquilo foi me fascinando”. E fascina até hoje. Os olhos brilham a cada vez que expõe o portfólio.

As fotos não são meros registros. Vem carregadas de histórias mesmo que ali não esteja descrita uma linha. A fotografia autoral já vinha do fotojornalismo de redação, “aquilo de você estar sempre fazendo algo diferente”, completa.

A subjetividade em foco. Em primeiro plano. No Pantanal mato-grossense, ele mostra através das lentes a história pantaneira antes que os personagens fiquem para trás. “Óia moço, quando daqui uns 10 anos acabar nóis, o Pantanal também acaba”, reproduz a fala que ouviu de um dos pantaneiros diante da quebra dos costumes passados de geração em geração.

O desafio das fotos está no tempo, no contato, na aproximação e na vivência. Fatores que José Medeiros considera na profissão. O fotógrafo tem que saber o que a pessoa está passando, sentindo e transmitir isso, na foto. Para tal, ele vive, mora e come segundo a tradição. O resultado está na imagem.

“A música Boiada, do Almir Sater, eu queria fazer uma foto dela. Aí vi essa cena. Dois cavalos, a ponte de madeira... Ele foi levando boi, um dia ele se foi no rastro da boiada...”, conta o fotógrafo.
“A música Boiada, do Almir Sater, eu queria fazer uma foto dela. Aí vi essa cena. Dois cavalos, a ponte de madeira... Ele foi levando boi, um dia ele se foi no rastro da boiada...”, conta o fotógrafo.

“A música Boiada, do Almir Sater, eu queria fazer uma foto dela. Aí vi essa cena. Dois cavalos, a ponte de madeira... Ele foi levando boi, um dia ele se foi no rastro da boiada...”

Do homem pantaneiro ao índio, entre os projetos que ancora, José Medeiros expôs “Já fui floresta” em Portugal, recentemente. Revelando um povo que ainda vive da terra. Na aldeia Ikpeng, os registros são ricos. De quem não espera encontrar a pose, que surge da mais livre e espontânea vontade. “Para você fazer uma foto, a pessoa tem que ser quem ela é. Deixar à vontade e você fazer parte da vida dela. Aí ela não vai mudar. Ela vai ser ela mesma”.

Em Nova Iorque, a exposição vai mostrar índios e os espelhos, ou melhor, o que sobrou deles. “O primeiro contato foram espelhos e o que sobrou foi a moldura. Serão várias fotos e todos os espelhos na comunidade, eu vou pegando e levando para a minha casa. Foi o que sobrou a eles de herança”.

Imagem do ritual de transição 'Moyngu', quando o menino é tatuado. Registro levou um ano.
Imagem do ritual de transição 'Moyngu', quando o menino é tatuado. Registro levou um ano.
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